O ex-presidente Lula (PT) questionou a fala da ministra da Agricultura, Tereza Cristina (União Brasil), que resolveu culpar o “Brasil” por ter paralisado a produção nacional de fertilizantes usados em lavouras. O petista deu “nome aos bois” e esclareceu que quem fechou as fábricas na Bahia, em Sergipe e no Paraná foram os governos de Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL).
“Foram os governos de Temer e Bolsonaro que erraram, não o Brasil, fechando fábricas de fertilizantes na Bahia, em Sergipe e no Paraná”, disse Lula. “Também abandonaram a construção de novas fábricas de fertilizantes em Minas e no Mato Grosso do Sul. O governo atual aprofunda a dependência de derivados de petróleo importados, como fertilizantes e combustíveis, ao mesmo tempo que destrói empregos desmonta o setor no Brasil”, continuou o petista.
Em evento nesta quarta-feira (2), Tereza Cristina disse que a “decisão equivocada” de não produzir fertilizantes foi feita no passado. “Por que tomamos lá no passado a decisão equivocada de não produzir fertilizantes?”, questionou, em entrevista coletiva. “No passado, a decisão era de importar pois era mais barato. Mas o Brasil precisa tratar esse assunto como segurança nacional e segurança alimentar.”
Crise e dependência russa
O Brasil é o quarto maior produtor de grãos do mundo e o segundo maior exportador. Essa produção exige o uso de fertilizantes. A questão é que hoje, com o governo de Jair Bolsonaro (PL), 85% desses produtos são comprados no mercado internacional. A necessidade que o Brasil tem de importar o insumo foi um dos principais motivos da visita de Jair Bolsonaro à Rússia em fevereiro.
Dessa forma, o Brasil se encontra em uma situação difícil em relação à guerra entre Rússia e Ucrânia. Este, inclusive, é um dos motivos para Bolsonaro ter declarado neutralidade no conflito. Ele afirmou que o Brasil precisa “ter responsabilidade” em termos de negócios com a Rússia, porque depende de fertilizantes. Deyvid Bacelar, coordenador-gral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), ressalta que nos momentos de crise, como uma guerra, fica mais evidente o alto nível de dependência do Brasil de outros mercados.
“Dependemos da importação de fertilizantes, principalmente da Rússia, que antes a Petrobras produzia em Sergipe, Bahia e Paraná. Da mesma forma, a política de preços dos combustíveis, a privatização e subutilização de nossas refinarias, vêm tornando o país dependente da importação de derivados do petróleo”, destaca.
Foram os governos de Temer e Bolsonaro que erraram, não o Brasil, fechando fábricas de fertilizantes na Bahia, em Sergipe e no Paraná. https://t.co/axjFeyEPfg
— Lula (@LulaOficial) March 4, 2022
Não dava lucro
Segundo reportagem do Brasil de Fato, a Petrobras resolveu deixar o mercado de fertilizantes em 2016, após Temer chegar à Presidência. A decisão fez parte de um plano de negócios da estatal, elaborado depois do impeachment de Dilma Rousseff (PT). Naquela época, a Petrobras alegava que produzir fertilizantes dava prejuízo.
Por conta disso, primeiramente, decidiu desativar duas fábricas de adubos que mantinha no Nordeste. A decisão foi anunciada em março de 2018 e atingiu as fábricas de fertilizantes nitrogenados da Bahia (Fafen-BA), localizada no polo petroquímico de Camaçari, inaugurada em 1971, e de Sergipe (Fafen-SE), em Laranjeiras, ativada em 1982. Em novembro de 2019, a Petrobras arrendou as duas plantas para a Proquigel Química SA. A empresa, entretanto, só conseguiu reativar a produção delas em 2021.
Outras unidades fechadas
De 2016 para cá, a Petrobras também fechou a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenadas do Paraná (Fafen-PR), em Araucária. O fechamento ocorreu em fevereiro de 2020, já durante o governo Bolsonaro. A desativação da fábrica, que havia sido comprada em 2013, causou a demissão de cerca de mil trabalhadores.
Também durante este governo, a Petrobras vendeu a Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN3), em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, para o grupo empresarial russo Acron. A planta estava em fase de construção. O anúncio da venda foi feito pela própria ministra Tereza Cristina, em fevereiro deste ano. Com informações da Revista Fórum.