A ex-secretária parlamentar Walderice Santos da Conceição afirmou em depoimento a procuradores que “nunca” esteve em Brasília. Conhecida como Wal do Açaí, ela era secretária no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados e é suspeita de ter sido funcionária “fantasma”.
O Ministério Público Federal em Brasília entrou com ação de improbidade contra Bolsonaro e Wal do Açaí. Segundo a ação, ela esteve lotada no gabinete de Bolsonaro durante mais de 15 anos, mas nunca viajou para Brasília nem exerceu qualquer função relacionada ao cargo.
O nome de Wal do Açaí ganhou notoriedade em 2018, quando ela figurava como secretária parlamentar de Bolsonaro. Desde então, Bolsonaro sempre negou irregularidade envolvendo a secretária.
Durante o depoimento, prestado em 2018, o procurador questiona: “A senhora tomou posse aqui em Brasília? Como é que foi a posse da senhora?”. Wal do Açaí, então, responde: “Não, não foi não. Não foi, não foi em Brasília. Eu nunca fui, nunca fui a Brasília.”
A ação do MP pede que Wal do Açaí e o presidente sejam condenados pela prática de improbidade administrativa e o ressarcimento dos recursos públicos indevidamente desviados. A ação foi enviada à 6ª Vara Federal do Distrito Federal.
Movimentação atípica em contas
Segundo o MP, a análise das contas bancárias de Walderice revelou uma movimentação atípica: 83,77% da remuneração recebida nesse período foi sacada em espécie, sendo que, em alguns anos, esses percentuais de saques superaram 95% dos rendimentos recebidos.
O MPF aponta que o presidente Jair Bolsonaro tinha pleno conhecimento de que Walderice não prestava os serviços correspondentes ao cargo e, mesmo assim, atestou falsamente a frequência dela ao trabalho em seu gabinete para comprovar a jornada laboral exigida pela Câmara dos Deputados, de 40 horas semanais, e, assim, possibilitar o pagamento dos salários.
Para o Ministério Público, “as condutas dos requeridos e, em especial, a do ex-deputado federal e atual presidente da República Jair Bolsonaro, desvirtuaram-se demasiadamente do que se espera de um agente público”.
“No exercício de mandato parlamentar, não só traiu a confiança de seus eleitores, como violou o decoro parlamentar, ao desviar verbas públicas destinadas a remunerar o pessoal de apoio ao seu gabinete e à atividade parlamentar”, diz a ação. Com informações do g1.