Durante encontro com o movimento de cooperativas do Rio Grande do Sul, o pré-candidato do PT à presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que é preciso ir além da constatação do cenário de desemprego e do desaparecimento de algumas profissões e apresentar propostas que deem respostas para as questões do mundo do trabalho contemporâneo.
Em sua fala, o ex-presidente fez uma autocrítica sobre o período em que governou o Brasil e a política de incentivo à criação de cooperativas. “Quando eu tomei posse em 20003, eu imaginava que era só mudar alguns instrumentos da legislação, que a gente enchia o país de cooperativa e nós fizemos as mudanças e muitas vezes as cooperativas maiores dificultavam a facilidade que a gente queria criar para que as pequenas pudessem crescer também, mas nós fizemos as mudanças necessárias”, diz Lula.
Em seguida, Lula revela que, à época, eles erraram no método de criação das cooperativas. “Quando fizemos a reunião para discutir os resultados de crescimento das cooperativas, o que a gente percebeu? Tinha aumentado muito o número de cooperados, mas não tinha aumentado proporcionalmente o número de cooperativas. Eu aprendi a lição mais importante de cooperativas: você não cria cooperativa de cima para baixo. Uma cooperativa, para dar resultado, ela tem que ser resultado da descoberta da necessidade da cooperativa pelo povo a partir de suas dificuldades, a partir de sua realidade. O que cabe ao governo fazer é criar condições de facilitar a organização e depois facilitar o crédito e depois, quem sabe, ajudar em um primeiro momento na compra dos produtos”, constata.
Para o ex-presidente, atualmente muito se fala do novo mundo do trabalho e suas mazelas, mas se esquece das propostas concretas para tal realidade. “Eu acredito que esse mundo digital, que está nos levando a descobrir novas formas de trabalho… todo mundo fala do desemprego, todo mundo fala da necessidade de criar mais empregos e todo mundo fala de pensar o novo, mas não sai do genérico, ninguém diz o que vai criar exatamente. Depois do desmonte do Ministério do Trabalho, o que nós temos de novo no mercado de trabalho são as empresas de aplicativo pagando, muitas vezes, um salário muito pequeno para as pessoas e ganhando muito dinheiro com as pessoas. Você tem o Uber, os entregadores de alimento e você tem outras formas de exploração dos aplicativos”, critica.
Como resposta à demanda imposta pelos trabalhos digitais e os parcos salários pagos, Lula afiram que a experiência da cidade de Araraquara, no interior de São Paulo, pode ser replicada para todo o Brasil. “Nós temos um prefeito em Araraquara, o Edinho Silva e ele está criando, através da prefeitura, uma empresa de aplicativo para que 90% do dinheiro gerado com esse trabalho fique para o entregador e não para a empresa de aplicativo, como fica hoje. Quem sabe não é o momento extraordinário para gente colocar a questão da cooperativa na ordem do dia dos nossos discursos. Nesse momento, que nós temos de dar resposta para esses trabalhadores desalentados”, sugere Lula.
O “Uber estatal” de Araraquara
O aplicativo Bibi Mob, uma espécie de “Uber público”, que busca por motoristas baseado na localização, lançado no início de janeiro pela Cooperativa de Transporte de Araraquara, a Coomappa, em parceria com a prefeitura de Araraquara, comandada por Edinho Silva (PT), está bombando na cidade.
De acordo com Kátia Cristina Anello, presidente da Coomappa, a quantidade de usuários do Bibi Mob neste primeiro mês de lançamento, que ficou em torno de sete mil, foi além das expectativas. “Nós fizemos um lançamento no dia 3 de janeiro, um mês considerado muito fraco, por ser de férias, início de ano, com vários tributos a serem pagos, o movimento cai bastante, então superou as expectativas sim”.
Desconto menor do motorista
O Bibi Mob, que é oferecido pela Coomappa, tem como propósito facilitar o trabalho dos motoristas, que sofrem diariamente com uma série de obstáculos encontrados no exercício da função. O aplicativo está disponível gratuitamente na Play Store e iOS.
O aplicativo tem como grande novidade o desconto de apenas uma porcentagem em torno de 5 a 7% do valor da corrida para manutenção do software, da plataforma, ou seja, aproximadamente 95% da corrida vai ficar para o motorista. No caso do Uber e do 99, a diferença entre o que o motorista paga e o passageiro recebe pode chegar a 50%.
A cooperativa tem ainda diversas parcerias, com descontos em serviços que o motorista utiliza no dia a dia, como consertos de pneus, autocenter, lava-rápido e guincho.
Coopera Araraquara
Camila Capacle, Coordenadora de Trabalho e de Economia Criativa e Solidária da Prefeitura de Araraquara conta que a administração tem o Programa Coopera Araraquara de incentivo e apoio ao cooperativismo de trabalho e a IPECS – Incubadora Pública de Economia Criativa e Solidária. “Por meio desses programas, auxiliamos na formação de cooperativas e prestamos assessorias, capacitação e apoio técnico às cooperativas”.
De acordo com ela, o prefeito Edinho Silva foi perspicaz em perceber a problemática das condições de trabalho dos motoristas de aplicativos e moto entregadores e propôs uma política pública que pudesse auxiliar a organização desses trabalhadores por meio da organização coletiva em cooperativas”.
Com relação à parceria da prefeitura com a Cooperativa, Kátia diz que toda a população se beneficia com os serviços prestados que, segundo ela, ajudam a combater de várias formas os problemas econômicos do município. “Eu acredito que a participação da prefeitura só tende a melhorar a qualidade de vida da população de Araraquara e o entendimento da comunidade com a prefeitura”, disse. Com informações da Revista Fórum.