Não bastasse o fato de ter de lidar com a perda de seu filho, Mirtes Renata Santa e sua mãe, Marta Santana, agora serão investigadas sob a acusação de maus-tratos, humilhação, racismo e cárcere privado contra o menino Miguel Otávio.
O pedido foi feito pelo juiz José Renato Bizerra, titular da 1ª Vara dos Crimes contra a Criança e o Adolescente de Recife. O magistrado embasa o seu pedido a partir dos depoimentos que condenou Sarí Côrte Real.
O menino Miguel estava sob os cuidados de Sarí, ex-primeira-dama de Tamandaré, quando caiu de um prédio de luxo no Recife e morreu aos 5 anos de idade. Sarí foi condenada a oito anos e seis meses de prisão por abandono de incapaz com resultado em morte.
A advogada da família de Miguel, Maria Clara D’Ávila declarou ao G1 que os argumentos que o juiz acatou para embasar o seu pedido são racistas.
“O juiz acatar esse tipo de argumentação sem levar em consideração outros elementos probatórios, sem levantar dados sobre isso, mostra também como o judiciário corrobora com esses argumentos racistas e reproduz esse racismo”, afirmou Maria Clara.
Além de mandar investigar a mão de Miguel, o juiz inverte completamente a situação e afirma que Miguel não obedecia Sarí porque era maltratado pela sua mãe. “O método pedagógico ou de correção empregado contra Miguel era o terror”, afirma o magistrado.
A advogada da família de Miguel reforçou a tese de que os argumentos do magistrado possuem como base teses racistas. “É uma forma de responsabilizar ainda a própria mãe, responsabilizar Mirtes e Marta. Na verdade, é uma tentativa de criminalizar a forma de maternar de duas mulheres negra, né?”.
O caso
Mirtes Renata Santana trabalhava como empregada doméstica na casa da ex-primeira-dama de Tamandaré (PE), Sarí Corte Real, em um apartamento em prédio de luxo no Recife (PE). Na ocasião da morte do menino, Mirtes tinha saído do apartamento para passear com os cachorros da patroa, que ficou responsável por cuidar de Miguel. Imagens de câmeras de segurança mostram Sarí apertando um botão do elevador para que a criança subisse sozinha ao 9º andar, de onde caiu e morreu no dia 2 de junho de 2020.
A ex-primeira-dama, que é ré por abandono de incapaz, chegou a ser detida, mas foi liberada logo na sequência após pagar fiança no valor de R$20 mil e responde em liberdade. 1 ano depois, o caso segue sendo investigado e Sarí nunca chegou a ser presa de fato. Com informações de assessoria.