Bruno Calandrini, o delegado da Polícia Federal (PF) responsável pelo inquérito que apura as ocorrências de corrupção no Ministério da Educação (MEC) e autor de pedido de prisão do ex-ministro Milton Ribeiro, disse em mensagens encaminhadas para colegas da instituição que “a investigação foi prejudicada em razão do tratamento diferenciado dado ao investigado” e que “o governo (de Jair Bolsonaro) interferiu na condução do caso”.
O delegado agradeceu no texto o apoio e a colaboração de outros integrantes da PF durante as diligências do inquérito, mas lamentou não ter realizado um trabalho “com autonomia investigativa para conduzir as investigações com independência e segurança institucional”.
Num outro trecho, Calandrini afirmou que foram conferidas a Milton Ribeiro “honrarias que não estão previstas na lei” e reclamou ainda do fato do ex-ministro, depois de preso, não ter sido enviado imediatamente para a Superintendência da Polícia Federal em Brasília, como ordenava a decisão judicial emitida contra ele. A direção da PF, descumprindo a ordem, o que é ilegal, deu razões “orçamentárias” para não realizar o voo de São Paulo à capital federal, o que claramente foi visto como uma desculpa para não conduzir o antigo integrante do governo para o local onde estão centralizadas as ações que o investigam.
“O deslocamento de Milton para a carceragem da PF em SP é demonstração de interferência na condução da investigação, por isso, afirmo não ter autonomia investigativa e administrativa para conduzir o inquérito policial deste caso com independência e segurança institucional”, alegou o delegado federal num outro trecho.
De acordo com fontes ouvidas pelo jornal Folha de S.Paulo, a direção da PF ficou surpresa e irritada com a atitude de Calandrini de denunciar os fatos envolvendo a prisão de Milton Ribeiro, e vai instaurar uma “apuração” das acusações feitas pelo chefe das investigações do inquérito relacionado ao MEC, o que para muitos membros da instituição foi lido como uma “sindicância” para fazer o denunciante provar o que diz. Se não o fizer, ele será punido. Com informações da Revista Fórum.