Uma semana depois de revelar que teve um encontro presencial secreto com a ex-ditadora boliviana Jeanine Áñez, o presidente Jair Bolsonaro (PL) anunciou que pretende dar asilo político à golpista. Áñez foi presa após participar do golpe de Estado que derrubou o governo de Evo Morales em 2019 e promoveu dois massacres contra povos originários.
Em entrevista ao Programa 4 por 4, Bolsonaro revelou que chegou a conversar com o presidente da Argentina, Alberto Fernández, sobre a situação de Áñez, condenada a 10 anos de prisão pelo Tribunal Anticorrupção da Bolívia. Além dela, o ex-comandante das Forças Armadas, Williams Kaliman, e o ex-comandante-geral da Polícia, Vladimir Calderón, também foram condenados com a mesma pena por participação no golpe.
Mais uma vez, Bolsonaro disse que Jeanine Áñez teria assumido o poder legitimamente após a renúncia de Evo Morales, o que não é verdade. Áñez não fazia parte da linha sucessória da presidência da Bolívia e não poderia assumir o cargo mesmo com a renúncia do ex-presidente, que tomou a medida assediado por militares com o objetivo de evitar uma Guerra Civil.
Na entrevista, Bolsonaro reforçou que teve um encontro presencial com a ex-ditadora. Esse encontro foi secreto e não se sabe quando ou em quais circunstâncias ocorreu.
“Há um mês, aproximadamente, ela, o seu ministro da Defesa e o chefe da Polícia foram todos condenados a 10 anos de cadeia. Sei que Jeanine está presa, vi algumas imagens terríveis, uma mulher arrastada para a prisão, acusada de atos antidemocráticos”, disse o presidente.
“Começamos a conversar. O que for possível eu farei para que ela volte, volte não, venha ao Brasil se o governo boliviano concordar. Estamos prontos para receber o asilo dela, como desses outros dois que foram condenados a 10 anos de prisão”, disse. A utilização do verbo “voltar”, um eventual ato falho, pode indicar que o encontro de Bolsonaro e Áñez se deu no Brasil.
Bolsonaro ainda relacionou a prisão de Áñez com as investigações que pesam contra ele no Supremo Tribunal Federal (STF).
A declaração reforça a possível participação do Brasil no golpe da Bolívia. Investigações apontam que o governo do ex-presidente Maurício Macri, da Argentina, contribuiu com armamento e pessoal para a concretização do golpe. Resta saber qual foi a ajuda de Bolsonaro – e isso está sendo investigado no país vizinho.
O governo Bolsonaro foi o primeiro a reconhecer a “presidência” de Áñez, que foi desde novembro de 2019 até dezembro de 2020. Com informações da Revista Fórum.