A biomédica baiana, Mariana Silva, se destaca em sua trajetória como cientista e empreendedora. Ela é uma mulher negra, pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), nascida e criada no município de Catu, e convive com o machismo, sexismo e racismo aparecendo em diferentes etapas da sua atuação.
Atualmente, a baiana é mestranda pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) no programa de Ciências Médicas. “Hoje, na USP, eu não me vejo, não me sinto parte da história que contam ali, as principais representações, os chamados patronos do curso, são homens, brancos e mais velhos. Então eu não estou ali, sou mulher, negra, cientista, com 30 anos lidero uma startup, mas parece que a sociedade quer sempre mais de nós para considerar os nossos feitos como referência”, desabafa a biomédica e CEO da startup Planty Beauty, empresa que desenvolve produtos biotecnológicos unindo cuidados e sustentabilidade.
Para a biomédica, a falta de representação feminina nos espaços de poder gera angústia e desmotivação. Mariana destaca que as dificuldades que enfrenta como pesquisadora apareceram logo nos primeiros anos da graduação, ainda como pesquisadora voluntária. “No início foi um desastre! Não tive nenhum apoio, nem daqueles que deveriam ser meus orientadores. Me desiludi completamente sobre a possibilidade de ser uma cientista. Me graduei e guardei meu diploma na gaveta”, conta a biomédica.
Durante um ano, a biomédica integrou o programa Ciências sem Fronteiras, na University of Manitoba, no Canadá, como aluna visitante. Ao retornar para o Brasil e concluir a graduação, Mariana decidiu direcionar as suas experiências para outro setor, passou a se dedicar ao mercado empresarial.
Já em São Paulo, inserida no universo empresarial, a biomédica abriu a sua primeira empresa junto com dois sócios. Essa experiência gerou novos transtornos para Mariana e mostrou para a empresária que no mundo dos negócios o machismo é tão forte quanto na academia.
“Era uma empresa voltada para a pesquisa e desenvolvimento de ativos farmacêuticos, eu fundei na época do mestrado e não recebia nada ainda de retorno financeiro. Eu usava meu dinheiro pessoal para estruturar a empresa e eu não era vista como igual pelos meus parceiros de trabalho, então, por diversas vezes, sofri gaslighting e não tinha reconhecimento pelas minhas ações para e com a instituição”, relata ao mencionar que saiu desse empreendimento sem receber a sua parte com valores devidos.
Com isso, a biomédica uniu a preocupação com o meio ambiente, a paixão pela ciência e o empreendedorismo, para criar a startup Planty Beauty, uma das primeiras empresas do país a utilizar matérias-primas inovadoras e ecologicamente responsáveis na produção de cosméticos sustentáveis. Para Mariana Silva, a nova etapa, como CEO, a ajudará a levar a ciência para todos e todas de uma forma mais limpa, responsável e consciente.
“Estamos vendo que é possível apresentar uma nova forma de aproveitar os recursos naturais, sem a degradação e os impactos gerados pela indústria química que atualmente fornece boa parte dos insumos para os produtos que são comercializados. A Planty quer questionar a forma como a produção dita natural acontece e mostrar que a biotecnologia pode fazer esse processo ser escalável, rentável e sustentável ao mesmo tempo”, explica Mariana Silva.
Jornal da Chapada