Faleceu neste domingo (31) o filho do empresário Abilio Diniz, João Paulo Diniz, aos 58 anos de idade. Triatleta, o filho do empresário foi vítima de um enfarte fulminante.
A trágica e repentina morte de João Paulo Diniz chamou a atenção pelo fato dele ser atleta de alto rendimento e pela idade. A partir daí uma outra discussão teve início na internet: a prática de esportes de alto rendimento e qual é o limite entre a prática saudável e aquela que pode trazer, ao contrário do esperado, malefícios ao corpo.
O empresário Abilio Diniz contou em seu livro “Caminhos e escolhas”, lançado em 2004, que seu filho João Paulo Diniz, que morreu vítima de um infarto fulminante neste domingo, teve aos 28 anos um diagnóstico de hipertrofia no miocárdio.
“Eu acompanhei um caso muito grave pelo qual o João Paulo passou anos atrás. Ele teve diagnosticada uma hipertrofia do miocárdio. Trata-se de uma doença congênita no coração que costuma matar atletas. No caso do João, que é atleta, foi recomendado que não praticasse mais nenhum tipo de esporte. Nada. Nem atravessar a rua correndo ele podia, sob pena de morrer de um ataque fulminante”, escreveu.
Abilio e o filho foram então aos melhores médicos do mundo para tentar ver como lidar com a situação. O primeiro local onde seguiu para exames foi o Massachusetts General Hospital, em Boston (EUA).
Acompanhado por médicos, João Paulo voltou aos poucos aos exercícios. Os exames posteriores, feitos com frequências, pararam de acusar qualquer problema, de acordo com pessoas próximas.
No campo da pesquisa há uma série de estudos que versam sobre histórias semelhantes à de Paulo Diniz. Para entender melhor essa questão, que é complexa, a Fórum conversou com o educador físico Leandro Siqueira, que é professor de educação física e doutor (Unesp) na área de fisiologia do exercício, e com o médico Dr. Natanael Gomes para buscar entender os limites entre a prática saudável do esporte e quando ela pode se tornar prejudicial.
A prática saudável
À Fórum, Natanael Gomes afirma que “a pergunta ‘qual é o limite entre prática saudável do esporte e o momento em que ela passa a ser prejudicial, é muito complexa, principalmente dentro da medicina porque isso depende de vários fatores”.
Sobre o caso de Paulo Diniz, Natanael explica que é preciso levar algumas questões em consideração. “O Paulo Diniz, ele já tinha problemas no coração antes? qual a causa dessa hipertrofia? essa hipertrofia aconteceu por causa da prática de atividade física? Provavelmente, não é pela idade. Atividade física de alta performance é apenas uma dentre várias causas de hipertrofia no coração”.
Em seguida, Natanael explica que “a hipertrofia no miocárdio em si não é um problema se ela for acompanhada, se fizerem testes, exames de rotina, acompanhamento cardiológico. E pelo que eu vi nas notícias, foi um mal súbito. Mal súbito, na maior parte das vezes é por conta de uma arritmia cardíaca, que é quando os impulsos elétricos do coração não estão normais. Isso gera alteração no funcionamento do coração podendo causar um infarto fulminante”.
Supre treinamento e estresse
O pesquisador e educador físico Leandro Siqueira explica que “tanto a prática de exercício aeróbio, que as pessoas costumam chamar de exercício cardiovascular, quanto a prática de exercício de força, como a musculação, eles são benéficos para a manutenção da saúde cardiovascular e para a redução do que a gente chama de risco cardíaco, que é a chance de você desenvolver doenças cardiovasculares. São práticas que são benéficas”.
No entanto, “o problema é que, quando essa prática atinge um nível de stress muito alto, quando ela faz que a pessoa entre num estado de super treinamento muito estressante, esse stress vai ser aplicado de forma generalizada no organismo. Então, tanto os músculos esqueléticos quanto o músculo cardíaco vão sofrendo stress, vão prejudicando o desenvolvimento e acaba passando da dose. Tem aquele ditado ‘a diferença do veneno para o remédio é a dosagem’, isso acaba acontecendo com a prática do exercício físico também”, ressalta Siqueira.
Posteriormente, Leandro Siqueira detalha o que o estresse da atividade física pode acarretar à saúde caso não seja observado.
“Quanto o corpo não consegue se recuperar de forma efetiva do stress causado pelo último treino, você não se recuperou e você vai aplicar treino muito pesado de novo. Então você vai acumulando todo esse stress e o corpo vai reagindo de algumas formas: cansado excessivo, fadiga excessiva, alteração no humor, irritabilidade, alteração no humor, alteração no sistema imunológico, processos inflamatórios na articulação. Tudo isso vai se somando ao stress causado pelo exercício, vai refletindo uma dificuldade de recuperação e, consequentemente, você tem perda da performance, perda capacidade de realizar esforço de alta intensidade e aumento de processos inflamatórios. O exercício auxilia o processo de saúde cardíaca, mas o super treinamento pode desencadear o stress cardíaco”.
O caminho para uma prática esportiva saudável
Tanto Leandro quanto Natanael são uníssonos em afirmar que a prática do esporte deve ser feita e que ela é benéfica à vida, porém, eles explicam que a prática de qualquer esporte é sempre individual, ou seja, cada corpo tem o seu limite e deve ser orientado de forma individual por um profissional, pois, dessa maneira malefícios podem ser evitados.
Natanael afirma que as pessoas devem refletir sobre alguns pontos quando decidem pela prática de algum esporte. “Praticar o exercício de autoconsciência sobre o próprio corpo é um caminho. A atividade que está praticando traz bem-estar? Está trazendo dores pelo corpo? Acha que está fazendo na intensidade correta? Está impactando de forma negativa sua rotina? É sempre bom refletir sobre isso e buscar orientações com um profissional adequado”, explica.
“O tempo disponível para as pessoas praticarem exercício físico é cada vez mais escasso devido ao excesso de carga de trabalho, o transporte para o local de trabalho, as outras obrigações e é importante que a gente consiga ter acesso a esse tempo e, pensando que o tempo é escasso, a gente precisa aproveitá-lo da melhor forma possível, que melhore o nosso processo biológico, metabólico, psicossociais de forma geral e a prática de exercício pode nos trazer isso, mas só se ela for prescrita de forma adequada. Todo mundo pode praticar esporte, ela é bem plural, mas ele tem que ser prescrito e de forma individualizada”, destaca Leandro Siqueira. Com informações da Revista Fórum.