A polícia de Londres foi acionada para ajudar os jornalistas Laís Alegretti e Giovanni Bello, da BBC Brasil, a se afastarem de um grupo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) na capital do Reino Unido. O chefe do Executivo está na cidade para o funeral da rainha Elizabeth 2ª. Durante cerca de cinco minutos, os repórteres foram vaiados, chamados de comunistas e xingados de “lixos”. Em um momento, um manifestante diz que eles não são bem-vindos no local, uma avenida pública de grande movimentação.
Antes, o blogueiro Rodrigo Nascimento havia abordado e tentado intimidar os repórteres. “Devem ser da USP (Universidade de São Paulo), é tudo doutrinado, de esquerda”, disse aos profissionais. O bolsonarista foi recebido pelo chefe do Executivo e pela primeira-dama Michelle Bolsonaro no país europeu. “Como diz Paulo Figueiredo, muito amigo nosso da Jovem Pan, o jornalismo profissional morreu. Não tem mais investigação, eles não vêm aqui para falar a verdade para nós”, afirma Rodrigo no vídeo.
A emissora citada pelo blogueiro tem registrado crescimento exponencial de audiência, aumento de verbas recebidas do governo federal e patrocínios de empresas comandadas por apoiadores do presidente da República desde que se posicionou como uma voz do bolsonarismo na mídia brasileira. Paulo Figueiredo, comentarista da Jovem Pan citado pelo blogueiro, comemorou a abordagem dos bolsonaristas.
“O jornalismo cidadão colocando o ‘jornalismo profissional’ moribundo sentado no meio fio. Está acontecendo no mundo todo. Eles não conseguem mais mentir em paz. Bolsonaro no exterior, é como no Brasil: recebido com nojo pela imprensa, mas acalmado a abraçado pelo povo. Fato inegável”, disse. Procurada pelo UOL, a BBC não havia se manifestado até a última atualização desta reportagem.
A abordagem de bolsonaristas a profissionais de imprensa no Reino Unido ocorre num momento em que o chefe do Executivo e o deputado estadual Douglas Garcia (Republicanos-SP) são criticados por ataques contra a jornalista Vera Magalhães, da TV Cultura, durante debates organizados em parceria com o UOL.
A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) afirmou que a virulência desses ataques não pode ser normalizada. “Durante os últimos quatro anos, jornalistas, especialmente mulheres, foram alvos do presidente e de seus aliados. Ataques misóginos e sexistas, reproduzidos em larga escala, e campanhas de desinformação orquestradas por agentes públicos minaram o debate público”, disse a associação em nota.
O Brasil é campeão de ataques com viés de gênero nos 14 países que integram a rede e que monitoram esse tipo de violência. Há dezenas de relatos de equipes jornalísticas trabalhando sem identificação em grandes atos de campanha por temer por sua integridade física.
IMIGRANTES BRASILEIROS falando para JORNALISTAS DA BBC que eles não são bem vindos NA INGLATERRA 🫠pic.twitter.com/oFrDDifTcq
— tesoureiros (@tesoureiros) September 19, 2022
Bolsonaro se irrita com jornalistas em Londres
Ao ser questionado se a viagem ao Reino Unido pode influenciar a sua campanha à reeleição, o presidente se irritou hoje com jornalistas brasileiros em Londres. “Você acha que eu vim aqui fazer política? Pelo amor de Deus, faça uma pergunta decente”, disse Bolsonaro a jornalistas, após deixar a residência oficial do embaixador do Brasil em Londres. Ele encerrou a entrevista na sequência, segundo o jornal O Globo.
Antes, em conversa com apoiadores, o presidente criticou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e comparou a economia no Brasil com a situação no Reino Unido, que enfrenta uma crise do custo de vida, com salários que não acompanham a inflação. “Como está a Europa perto do Brasil? Existe ameaça de fome aqui? Prateleira vazia, aumento de preço… Por que a insistência em querer botar um ladrão de volta na Presidência da República? Alguém acha que é uma maravilha ser presidente? Botar um ladrão, com aquela quadrilha toda, na Presidência”, disse Bolsonaro.
Além disso, o candidato do PL voltou a criticar reportagem do UOL sobre 51 imóveis que foram comprados por sua família e pagos com dinheiro vivo, a qual classificou como “canalhice” e “covardia”. As manifestações do chefe do Executivo ocorrem depois de Lula e a senadora Soraya Thronicke, candidata à Presidência pelo União Brasil, pedirem ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que o mandatário seja proibido de usar imagens da incursão na Europa em campanha eleitoral. Com informações do UOL Notícias.