O pesquisador e escritor Rodrigo Cassis, autor de uma série de cinco livros sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL), resgata momento em que o presidente, no dia 21 de agosto de 2001, ainda na época em que era deputado, troca amabilidades na Câmara dos Deputados com o líder do PCC e presidiário Marco Willian Herbas Camacho, conhecido como Marcola.
Conhecido por destratar jornalistas, sobretudo mulheres, Bolsonaro dá risadinhas em uma conversa amena em que Marcola chega a dar aulas de direito penal para o então deputado. Entre outras coisas, o presidente afirmou ao líder do PCC que “no dia em que eu for ditador deste País, vamos resolver esse problema. Pode ter certeza disso aí. Democraticamente, não vamos resolver nunca. É a mesma coisa de chover no molhado”.
Bolsonaro estava se referindo à implantação da pena de morte, sobretudo para crimes de colarinho branco.
Cassis gravou um vídeo em que explica o episódio. De acordo com ele, “Jair atribuiu ao seu adversário uma pretensa escolha de presídio que o líder do PCC ficaria e usou um áudio que a Justiça já considerou inverídico”, lembra. “mas e do eixo Bolsonaro/Marcola, alguém já te contou?”, pergunta o escritor.
Marcola sai por cima
“Em 2001, Bolsonaro e Marcola ficaram frente a frente em um evento no Congresso. Eu analisei e a minha interpretação é a de que Marcola sai bem por cima de Bolsonaro. O então deputado fala por três minutos e meio contra 55 segundos do líder o PCC. Bolsonaro usa seu tempo pra fazer piadinha e tirar riso e Marcola”, afirma o escritor.
Veja o vídeo abaixo:
Bolsonaro e Marcola frente-a-frente
Documentos reais e incontestáveis mostram que esse encontro aconteceu. Foi em 2001, no Congresso. Diante de Marcola, Jair fez piada, insistiu na busca de pontos de vista e opiniões comuns entre eles e acabou cedendo a argumentos do criminoso pic.twitter.com/kkIRDWPD71
— Com que Moral? (@comquemoral) October 18, 2022
Veja aqui e abaixo a trascrição da conversa do Departamento de Taquigrafia, Revisão e Redação da Câmara dos Deputados. Com informações da Revista Fórum.
Veja abaixo o trecho com a participação de Bolsonaro:
SUMÁRIO: Esclarecimentos sobre o crime organizado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jorge Tadeu Mudalen) – Com a palavra o Deputado Jair Bolsonaro.
O SR. DEPUTADO JAIR BOLSONARO – Como não participei da reunião, serei bastante breve. O Camacho falou uma coisa óbvia: quem não faz barulho, não vai ser lembrado nunca.
O SR. MARCO WILLIAN HERBAS CAMACHO (Marcola) – Exatamente.
O SR. DEPUTADO JAIR BOLSONARO – É por isso que apóio as greves das Polícias Militares. E se a PM de Brasília bobear, não reclamar também, de vez em quando não fizer seu barulho, vai acabar ficando com a remuneração igual a dos colegas do Rio de Janeiro, 600 reais por mês, uma coisa ridícula. Nossas autoridades não têm capacidade de se antecipar aos problemas.
Agora, também não sou favorável ao senhor, Camacho. O senhor tem de cumprir sua pena. Eu jamais o empregaria no meu gabinete, se o senhor saísse da prisão um dia. Mas o senhor pode também não querer trabalhar comigo.
O SR. MARCO WILLIAN HERBAS CAMACHO (Marcola) – Não é só o senhor, ninguém me empregaria. Isso que é difícil.
O SR. DEPUTADO JAIR BOLSONARO – A mão-de-obra está sobrando por aí também.
O SR. MARCO WILLIAN HERBAS CAMACHO (Marcola) – Exato.
O SR. DEPUTADO JAIR BOLSONARO – Porque não há política de controle de natalidade neste País etc.
Desde criança aprendi – sou do interior de São Paulo – que apenas se respeita aquele que se teme.
O SR. MARCO WILLIAN HERBAS CAMACHO (Marcola) – Não acredito nisso.
O SR. DEPUTADO JAIR BOLSONARO – Não acredita?
O SR. MARCO WILLIAN HERBAS CAMACHO (Marcola) – Respeito o Dr. Sebastião Coelho e não o temo.
O SR. DEPUTADO JAIR BOLSONARO – Tudo bem. Se se acabar com a disciplina, por exemplo, dentro do Exército brasileiro, do qual sou capitão, fica difícil comandar. Isso pode levar até a situações adversas. Defendo que se tem de plantar para colher na frente. Não sei se vou colher e o que vou colher um dia.
Assim como os senhores dentro do presídio se respeitam, tendo em vista a pena de morte lá dentro, creio que, se implantássemos a pena de morte no Brasil, muita gente não estaria lá dentro, já estaria enterrado depois de devidamente eletrocutado. A OAB é contra a pena de morte, porque preso condenado não paga advogado, mas tudo bem.
Ou o preso estaria nessa situação, ou ele pensaria mais vezes antes de cometer um delito. Por exemplo, hoje foi seqüestrada a filha do Silvio Santos. Não o estou defendendo por ele ser rico. Ninguém estupra mulher feia, ninguém vai seqüestrar pobre. É uma coisa óbvia. Então, não sei se o senhor falou sobre isso, logicamente é uma pergunta um tanto quanto inocente de minha parte. Penso que a pena de morte serviria para inibir em muito a criminalidade do País.
O SR. MARCO WILLIAN HERBAS CAMACHO (Marcola) – Acho que não.
O SR. DEPUTADO JAIR BOLSONARO – Para crime de colarinho branco também.
O SR. MARCO WILLIAN HERBAS CAMACHO (Marcola) – Aí, sim.
O SR. DEPUTADO JAIR BOLSONARO – Tem que se começar por aí.
O SR. MARCO WILLIAN HERBAS CAMACHO (Marcola) – Se começar por cima, vai afetar embaixo. Agora, se começar por baixo, não vai afetar em cima.
O SR. DEPUTADO JAIR BOLSONARO – No dia em que eu for ditador deste País, vamos resolver esse problema. Pode ter certeza disso aí. Democraticamente, não vamos resolver nunca. É a mesma coisa de chover no molhado.
Assim como os senhores, acredito na pena de morte.
O SR. MARCO WILLIAM HERBAS CAMACHO (Marcola) – Estou há quatorze anos preso. Nesse tempo, passei por muita coisa horrível na prisão. Já fui morto mais de dez vezes na prisão. Preferiria que tivessem me aplicado uma injeção quando lá cheguei aos dezoito anos. Assim, não estaria aqui agora e não teria sofrido o que sofri. Para mim, teria sido um alívio a pena de morte, embora eu não tenha cometido nenhum crime que a merecesse. Não tenho nenhum homicídio, nem nada que justifique a pena de morte.
O SR. DEPUTADO JAIR BOLSONARO – Sou contra a política de direitos humanos neste País.
O SR. MARCO WILLIAN HERBAS CAMACHO (Marcola) – O senhor é contra?
O SR. DEPUTADO JAIR BOLSONARO – Sou contra. Direitos humanos é para seres humanos. Já fui candidato a Presidente da Comissão por uma vez e perdi por um voto: só tive o meu voto.
Não está aqui a Deputada Zulaiê Cobra, pois eu gostaria de falar perto dela, e ainda mais porque vou falar a respeito de um Governador que já faleceu, o Mário Covas. No seu Governo, foi proposta indenização aos familiares dos 111 mortos do Carandiru. Peguei aleatoriamente a ficha de apenas dez daqueles que morreram e vi que tinham cometido vinte e dois crimes. Fazendo a projeção…
O SR. MARCO WILLIAN HERBAS CAMACHO (Marcola) – Mas muitos não tinham sido nem condenados.
O SR. DEPUTADO JAIR BOLSONARO – Tudo bem. Mas muitos tinham sido condenados também.
O SR. MARCO WILLIAN HERBAS CAMACHO (Marcola) – O Estado não tem esse direito.
O SR. DEPUTADO JAIR BOLSONARO – Se for feita uma projeção por baixo, havia mais ou menos cem familiares. Esses 111 presos deixaram viúvas e órfãos sem recursos. Infelizmente, esses garotos, sem pais, vão entrar na criminalidade no futuro. Até o Paulo Maluf disse: “Estupra, mas não mata.” E o pessoal desce o pau no Maluf por causa disso. Agora, tantos crimes hediondos acontecem. Se houvesse a pena de morte, com toda certeza muitos desses crimes deixariam de acontecer.
O SR. MARCO WILLIAN HERBAS CAMACHO (Marcola) – Mas acho que deveria começar de cima.
O SR. DEPUTADO JAIR BOLSONARO – Tudo bem. Começa por onde começar, mas tem que começar.