Em meio a inúmeras denúncias de que servidores federais civis e militares próximos ao núcleo do ex-governo extremista do presidente Jair Bolsonaro (PL) ocupam cargos administrativos no governo do presidente Lula (PT), há a informação de que uma servidora de carreira do Planalto está cotada num cargo-chave da atual Casa Civil, sob comando do ministro-chefe Rui Costa, e que atuou na assessoria pessoal do ex-mandatário radical. Não há acusações contra a servidora em questão e o que causa espanto é sua permanência num ponto crucial da administração do novo governo petista, uma vez que ela esteve num posto de alta confiança do presidente anterior.
Documentos mostram que Isabella Amaral da Silva era mencionada no Diário Oficial da União (DOU) já em 8 de fevereiro de 2019 como “membro do Gabinete Pessoal do Presidente da República”, momento em que foi indicada para fazer parte de uma “Comissão de Curadoria de obras de arte, arte decorativa e mobiliário do Palácio da Alvorada e do Palácio do Planalto”.
Três meses depois, em 8 de maio de 2019, o então secretário-executivo da Casa Civil, José Vicente Santini, nomeou Isabella para o cargo de “assessora da Diretoria de Gestão Interna do Gabinete Pessoal da Presidência da República”. O ex-secretário foi pivô de um escândalo em janeiro de 2020 após usar um avião da FAB para um voo exclusivo saindo do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, diretamente para a Índia, onde Bolsonaro cumpria agenda oficial. Ele era um dos assessores mais próximos e íntimos do então ex-presidente e foi demitido do cargo em decorrência do episódio, mas voltou um ano depois ao Planalto como secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência da República.
De acordo com as publicações oficiais, o que se sabe é que Isabella seguiu no cargo dentro do gabinete de Bolsonaro até 14 de fevereiro de 2020, quando um despacho no DOU assinado por Pedro Cesar Nunes Ferreira Marques de Sousa, então chefe do Gabinete Pessoal do Presidente da República, a exonerou da função a pedido, para que então a servidora fosse admitida, uma semana depois, em 21 de fevereiro, como assessora de Recursos Logísticos da Secretaria Especial de Administração da Secretaria-Geral da Presidência da República.
Já em 25 de novembro de 2021, Isabella teve uma nova mudança de posto dentro do Planalto. Foi então nomeada pelo general Mário Fernandes para o cargo de assessora da Direção de Gestão de Pessoas da Secretaria Especial de Administração da Secretaria-Geral da Presidência da República, uma pasta com status de ministério que era chefiada pelo general Luiz Eduardo Ramos, um dos militares de alto escalão mais fiéis, próximos e leais a Jair Bolsonaro.
Mesmo depois das profundas mudanças que o atual governo realizou em todas as áreas de seus ministérios, especialmente nas lotações em vigor dentro do Palácio do Planalto, uma área cujo próprio governo atual classificou como “campo minado”, em decorrência do aparelhamento de inúmeros setores por servidores que se tornaram fiéis ao bolsonarismo, a funcionária que assessorou pessoalmente o ex-presidente Jair Bolsonaro segue com um cargo-chave na sede da chefia do Estado.
É o que mostra um documento enviado para a Revista Fórum, de 24 de janeiro de 2023, que revela que Isabella Amaral da Silva é diretora de Gestão de Pessoas Substituta da Secretaria-Executiva da Casa Civil da Presidência da República, um cargo que tem por finalidade coordenar a saúde no atendimento do presidente e do vice presidente, atuar na gestão de informações funcionais de toda a Presidência e elaborar os programas de desenvolvimento organizacional e de pessoas o órgão.
Um outro ponto levantado diz respeito à formação específica de Isabella. Um documento encaminhado à redação da Revista Fórum, mostra que ela é formada em Ciências Econômicas, com mestrado em Administração, além de ser servidora de carreira na área de “Planejamento e Orçamento”, com atuação em “Inovação, Transparência Orçamentária e Qualidade de Gasto” e em “Acompanhamento e Avaliação de Políticas Públicas”, o que seria, segundo a fonte, completamente diferente da formação e da experiência exigidas de quem vai ocupar cargos na área de Gestão de Pessoas, como os que foram exercidos por ela nas gestões passada e atual.
A Revista entrou em contato com a servidora por meio de seu correio eletrônico institucional da Presidência da República, que foi a única forma encontrada pela reportagem, para que Isabella confirmasse ou não seu vínculo com o gabinete pessoal do ex-presidente Jair Bolsonaro, assim como outros ponto levantados na matéria. Até o encerramento da reportagem não foi obtido respostas.
A Casa Civil da Presidência da República também foi questionada sobre a manutenção da servidora pública em seus quadros, mesmo diante de uma atuação anterior num posto de confiança do antigo governo. Da mesma forma, o órgão não respondeu até o fechamento da reportagem. Com informações da Revista Fórum