Localizado no distrito histórico de Morro das Flores, na zona rural de Ruy Barbosa está o Museu de Artes e Ofícios do Orobó, que preserva a memória e história do povo da região da Chapada Diamantina. O local possui um acervo diferenciado, com mais de 500 peças, dentre artefatos de labor, objetos decorativos e obras de arte dos povos que inicialmente habitaram a Chapada.
São 500 peças em exposição (de um acervo com mais de mil). O museu abriga, por exemplo, o primeiro sino da primeira igreja da Vila do Orobó, que ficava em Morro das Flores. Entre outros itens, há mobiliário que remete ao período imperial, uma espada de 1889 (ano da proclamação da República), uma coleção de cutelaria nordestina, objetos de trabalho, de decoração e obras de arte.
O município também possui a natureza exuberante da Chapada Diamantina que fascina visitantes, como em Andaraí, Mucugê e Lençóis, mas desde 2012 é como se tivesse algo mais. Foi quando Leonardo Santos, 39, nascido lá, comprou uma propriedade na zona rural, o Rancho Recanto da Chapada, no sopé da Serra do Orobó (cordilheira com cerca de 20 km de extensão), e logo materializou o projeto do Museu de Artes e Ofícios do Orobó.
O projeto se fundamenta na filosofia dos museus orgânicos. “Somos um espaço de vivência e uso cotidianos, onde estão reunidos elementos do patrimônio histórico, tanto material como imaterial”, diz Leonardo, que atua na área jurídica, mas tem coração de historiador.
Em 2019 ele publicou o livro Vivências no Orobó: memórias poéticas, em que, a partir da história da Vila do Orobó, antigo entreposto comercial da região, analisa o processo de formação dos núcleos de povoamentos urbanos da Chapada Diamantina. Ele refere-se a Morro das Flores como o berço da cultura da Vila do Orobó, já que seu povoamento é anterior, mas ambas localidades surgem no fim do século 19 com a cultura dos tropeiros.
“A caminho das Lavras Diamantinas, esses viajantes e comerciantes faziam do Orobó Grande dos Viajantes (como também já foi chamado) um local de descanso e comercialização de utensílios e serviços, surgindo o embrião de uma feira livre, dando origem os primeiros arruados, tomando caraterísticas de povoamento”, diz Leonardo.
Pertencimento
Esse imaginário é tão plasmado ao povo que, a despeito da formação administrativa, Leonardo afirma que o sentimento de pertencimento da comunidade é intimamente relacionado à vivência cotidiana com o arcabouço histórico e cultural que formou a comunidade da Vila do Orobó. E o Museu de Artes e Ofícios do Orobó, seguramente, preserva a memória desse processo.
“O que o Orobó tem hoje de mais importante a oferecer para o visitante é esse conjunto de bens e serviços culturais. A cultura do Orobó é nosso maior patrimônio. A história é lindíssima e intimamente relacionada à história dos demais destinos turísticos da Chapada Diamantina. Você não consegue entender a história das Lavras Diamantinas, da Sociedade do Diamante, sem entender o processo histórico de formação da Vila do Orobó”, diz o escritor e poeta.
Não é de hoje que ele faz isso. Ainda criança, “nas vivências locais, no trato e na lida com a população rural”, sentiu despertar o sentimento de pertencimento à comunidade, assim como o amor à história e à cultura. Foi quando encontrar peças virou um hobby e passou a colecionar antiguidades que contam a história do povo de lá.
Cotidiano
O museu orgânico também promove turismo de base comunitária (TBC), em que é possível vivenciar a dinâmica cotidiana em Morro das Flores, praticar esportes de aventura na cordilheira da Serra do Orobó, acampar no rancho, fazer trilhas e praticar birdwatching (observação de pássaros na natureza). A cidade tem a quarta maior biodiversidade de avifauna de toda a mesorregião da Chapada, com 25.6% de toda a biodiversidade de aves da Bahia. Com informações do jornal A Tarde.