O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) usou o Twitter nesta terça-feira (4) para expressar a sua revolta com a extinção da medalha Ordem do Mérito Princesa Isabel e a sua substituição pelo Prêmio Luiz Gama, fato anunciado na última segunda (3) pelo Diário Oficial da União (DOU). Como já era previsível, o midiático filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deve rechaçar qualquer medida do atual governo e tentar movimentar seu apoio nas redes sociais a partir das estridentes críticas.
Acontece que dessa vez a suposta crítica foi muito mal feita. Eduardo confunde o que é uma homenagem a uma grande personalidade brasileira e a celebração do próprio povo preto como protagonista da sua libertação com o que seria, em suas palavras, um desmerecimento da figura da Princesa Isabel. Na tentativa de argumentar nesse sentido, escorregou feio para o discurso mentiroso que versa sobre “racismo reverso”.
“Determinar a honra ou desonra a alguém com base na cor de sua pele, isso sim é racismo”, disparou Eduardo na cabeça da publicação que leva uma imagem da Princesa Isabel ao lado da carta da Lei Áurea, e aponta que “Lula revogou homenagem à libertadora dos escravos”. Em seguida, Eduardo fez uma comparação esdrúxula entre Lula e a princesa.
“Lula é branco e diz fazer pelos negros, por que não a Princesa Isabel poderia fazê-lo também? Ainda mais ela que ‘se mil tronos houvesse, mil tronos daria’ pela liberdade dos escravos. Será que Lula daria uma presidência?”, disparou. É claro que muitos dos seus seguidores apoiaram a postagem, afirmando que “o PT quer apagar a história”. Mas também surgiram muitas vozes que ironizaram a “crítica” de Eduardo. “Por isso que votamos no Lula”, diz um internauta. “Estude que você vai saber”, dispara outro.
Luiz Gama ou Princesa Isabel
A Ordem do Mérito Princesa Isabel foi instaurada pelo ex-presidente Jair Bolsonado em dezembro do ano passado a fim de premiar pessoas notáveis no tema dos direitos humanos. No entanto, como tudo o que Bolsonaro fez teve um caráter de ataque às esquerdas, a escolha do nome vai de encontro com os questionamentos do movimento negro sobre o protagonismo da princesa na libertação dos povos escravizados.
Diz o movimento negro que, se por um lado ela assinou a Lei Áurea e apresentava simpatia pela causa, por outro lado, seu protagonismo absoluto ensinado nos livros de história apaga muitas das lutas empregadas pelo próprio povo preto. Além disso, a própria lei tinha complicações, pois não previa o direito a terra, a tirar documentos ou mesmo a um pagamento justo pelo trabalho realizado.
Luiz Gama, que dá nome do novo prêmio, foi um dos principais nomes da luta contra a escravidão. Nascido em Salvador em 1830 e filho de uma ex-escravizada com um homem de origem portuguesa, foi vendido como escravo pelo próprio pai e teve de deixar Salvador, sua cidade natal, rumo a São Paulo. Gama obteve a alforria aos 18 anos e atuou na libertação de mais de 500 pessoas.
Adquiriu conhecimentos de Direito ao frequentar aulas da faculdade do Largo São Francisco, em São Paulo, como ouvinte, para em seguida sair na empreitada de libertar pessoas utilizando como base a lei que proibia o tráfico negreiro. O prêmio que leva seu nome será entregue a cada dois anos pelo Ministério dos Direitos Humanos e é um aceno do governo ao movimento negro e aos setores mais oprimidos historicamente na sociedade brasileira. As informações são da Revista Fórum.