As vezes em que foi detido por envolvimento com tráfico de drogas em anos passados não intimidaram Manoel Luiz dos Santos Neto, 26, apontado como líder de uma facção criminosa com atuação na Bahia, Pernambuco e Sergipe. O investigado e a esposa levavam uma vida regada a luxo até serem presos na manhã da última terça-feira (20), em uma mansão avaliada em R$2 milhões, em Aracaju. Filho do vereador Amadeus (PP), de Juazeiro, Manoel Luiz ainda é investigado pelo envolvimento em homicídios.
As investigações da Polícia Federal (PF) apontam que Manoel Luiz dos Santos era um dos chefes da facção Bonde do Maluco (BDM), até que se afastou da organização criminosa fundada em Salvador para criar a sua, denominada Honda. As informações são de que a facção já controla o tráfico em cidades como Juazeiro e Petrolina (PE), mas o comando viria sempre de Aracaju, onde Manoel mora com a esposa.
Ela, que não teve o nome divulgado, também teve a prisão temporária decretada. A suspeita da polícia é que grande parte das movimentações financeiras da organização criminosa seriam realizadas nas contas da mulher. Em menos de um mês, ela movimentou um valor superior a R$2 milhões. Manoel, a esposa e outros seis investigados tiveram as contas bloqueadas por decisão judicial. Ao todo, nove pessoas foram presas na Operação Astreia, deflagrada pela Polícia Federal.
Na mansão do casal, que teria sido comprada com o dinheiro do crime recentemente, a PF encontrou carros avaliados em mais de R$300 mil, armas de fogos, dinheiro, joias e até uma chupeta banhada a ouro. Tabletes de drogas foram encontrados no interior de um forno elétrico, que ainda estava embalado. A Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP) confirmou que a polícia investiga se a organização criminosa recebia drogas e armas escondidas em eletrodomésticos novos.
A polícia suspeita que o aumento no número de homicídios em cidades como Juazeiro e Petrolina estejam ligados ao fortalecimento da facção criminosa nessas localidades. “Há indícios de que esse grupo criminoso está ligado a vários homicídios na região. Houve, inclusive, uma escalada no número de mortes”, afirma Marcelo Siqueira, delegado regional de Polícia Judiciária da Polícia Federal na Bahia, sem dar detalhes sobre o número de mortes.
Manoel Luiz passará por audiência de custódia na manhã desta quarta-feira (21) e deverá ser encaminhado para uma unidade prisional na Bahia. A reportagem não conseguiu localizar os advogados de defesa do investigado. O Ministério Público foi procurado, mas não deu informações sobre a operação. A PF dará continuidade às investigações e ainda não há prazo para a conclusão do inquérito policial.
Antecedentes
Manoel Luiz dos Santos Neto é uma figura conhecida em Juazeiro. O filho do vereador Amadeus Santos (PP) chegou a ser preso em sua festa de aniversário, em junho do ano passado. Na “Revoada do Manuel” ou “Festa do Pó”, como a confraternização ficou conhecida na cidade, a Polícia Militar encontrou armas e prendeu quatro pessoas.
Entre os detidos, além do aniversariante, estava um ex-policial, expulso da corporação por cometer extorsões mediante sequestro. Manoel passou uma semana preso e foi liberado após pagar fiança no valor de dez salários mínimos.
Três anos antes da festa que terminou à força, Manoel Luiz foi alvo de outra operação policial, realizada onde ele morava, no bairro São Geraldo, em Juazeiro. Na ocasião, ele e outros quatro homens foram flagrados pesando e embalando cerca de um quilo de cocaína. O local já havia sido apontado como ponto de vendas de drogas por usuários e denúncias anônimas.
O pai de Manoel, o vereador Amadeus (PP), está em sua segunda legislatura, tendo sido eleito pela primeira vez em 2016. O político, filiado ao Partido Social Democrático (PSD) até 2020, atualmente preside a Comissão Finanças, Orçamento e Fiscalização da Câmara Municipal de Juazeiro.
Nas redes sociais do vereador, é recorrente a aparição de familiares, especialmente do filho caçula e da esposa. Manoel Luiz, por outro lado, não aparece em nenhum registro. A reportagem tentou entrar em contato com o Amadeus Santos através do seu gabinete, mas não obteve retorno.
Operação
A Operação Astreia, deflagrada na manhã de terça-feira (20), cumpriu, ao todo, nove mandados de prisão temporária, além de 12 mandados de busca e apreensão. Também foi deferido o sequestro de bens e bloqueio de valores de oito investigados, dentre eles, Manoel e a esposa. A PF contou com 70 agentes, apoio do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas e Investigações Criminais do Ministério Público (Gaeco) e das polícias militares da Bahia e Pernambuco.
O delegado Marcelo Siqueira espera que a divulgação da Operação realizada em três estados na terça-feira (20), mobilize a população a darem mais informações sobre a organização criminosa. “A finalização do inquérito vai depender do volume de dados que vamos coletar. A tendência é que agora é que a polícia receba muitas denúncias nas unidades vinculadas ao caso”, ressalta.
Os investigados responderão pelos crimes de Organização Criminosa, Tráfico de Drogas e Lavagem de Dinheiro, cujas penas somadas podem chegar a 33 anos de reclusão. As informações são do jornal Correio.