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#Chapada: História de superação relata vida de homem que se ergue por meio do boxe e da arte após família ser destruída pelo crack

Ivanilton é grafiteiro, professor de break dance, rap e boxe | FOTO: Instagram |

Ivanilton Silva, de 33 anos, é natural de Itaberaba, portal de entrada da Chapada Diamantina. Quando tinha apenas 8 anos seus pais saíram da Bahia em direção ao interior de São Paulo, mais especificamente para Piracicaba. Essa mudança trouxe algumas feridas para sua vida, sofreu bullying, agressões físicas e perseguições por ser nordestino.

Devido às ameaças e agressões, aos 11 anos, Ivanilton resolveu fazer aulas de boxe para aprender a se defender dos agressores. Ele participou do Projeto Social Luzitano Boxe, coordenado pelo uruguaio Júlio Pedroso.

Com o tempo, o boxe, que inicialmente era uma forma de adquirir confiança e coragem, tornou-se uma paixão para Ivanilton, que se destacou nos treinos e chamou a atenção de seu professor. Sem perceber, já estava participando de competições de boxe, representando Piracicaba e conquistando o respeito e amizade de todos no município, incluindo seus antigos ‘agressores’.

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O crack
Durante sua fase amadora, Ivan disputou 15 lutas (12 vitórias, duas derrotas e um empate). Quando estava prestes a completar 18 anos, recebeu um convite para fazer uma luta profissional, mas diante de um drama familiar causado pelo vício em crack de seu pai, optou por não aceitar. O vício quase levou sua família à falência, tanto financeiramente quanto moral e psicologicamente.

O crack devastou quase tudo, causando em uma série de perdas dolorosas. “Com o crack tudo virou fumaça, perdemos o bar, uma das casas, o restaurante, carro, moto, só não perdemos a casa que morávamos, pois ela estava no nome dos filhos”, relatou. A dependência de seu pai o fez testemunhar cenas horríveis, sendo constantemente ameaçados por traficantes que cobravam dívidas. A situação levou Ivan a enfrentar a depressão, e ele chegou a tentar tirar a própria vida duas vezes.

A chegada de Tânia e Frederico.
“Eu tinha uma vida ótima, não queria aceitar tantas perdas. O começo da minha mudança ocorreu quando conheci alguns anjos, o casal Tânia e Frederico”, conta o rapaz. Tânia e Frederico entraram em sua vida como anjos e resgatou do abismo em que o jovem se encontrava, levando-o de volta ao prazer de viver a vida. “Nesse momento da vida eu já estava afastado da minha família, morando sozinho e totalmente desamparado e isolado, entregue à própria sorte”, finalizou.

Com o apoio do casal, Ivan redescobriu o prazer de viver. Ele encontrou conforto na leitura, na verdadeira amizade e no Grafiti. Além disso, voltou a treinar boxe e chegou a participar de duas lutas.

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Cuba
Tânia incentivou Ivanilton para fazer um intercambio, em Cuba. “Tive a oportunidade de conhecer o sistema cubano de atenção às pessoas e o cuidado que eles têm com a saúde, educação e os esportes, sobretudo, o boxe, verdadeira paixão nacional, em Cuba conheci o verdadeiro sentido da vida, pude ver o valor que eles deram ao boxe. Foi uma experiência de vida incrível”, ressaltou.

A volta para Itaberaba
Após voltar ao Brasil, Ivan foi surpreendido com a notícia que seu pai tinha falecido, a perda de seu herói foi um momento de redenção e reconexão com sua vida e propósito. Ivan decidiu voltar para o município chapadeiro de Itaberaba, descobrindo o seu dom de grafitar e se envolveu na cena da arte e cultura local, participando de um coletivo de dança de rua chamado Equina Black.

Ao mesmo tempo, criou o Projeto Cuba Boxe, em homenagem a Tânia e ao Frederico. “Aqui em Itaberaba, como eu já havia descoberto o dom de grafitar, comecei a me envolver mais e mais com a cena da arte e cultura do município, e logo fazendo parte de um coletivo de dança de rua, o Equina Black”, relata.

Ivanilton diz que o início do projeto de boxe foi difícil, sem incentivo ou apoio, mas com o tempo o projeto cresceu e se uniu a outros projetos culturais e esportivos, formando a Associação Cultural Arte de Bairro. Atualmente, a associação oferece aulas gratuitas de break dance, grafiti, rap e voxe para mais de 60 pessoas do município, funcionando em um prédio cedido no ginásio de esportes.

Após a pandemia, o boxe se tornou o destaque da Associação e Ivan planeja realizar o 2.º torneio de boxe olímpico em Itaberaba, buscando expandir o esporte para todos os bairros da cidade e também para cidades vizinhas. Seu objetivo é levar o boxe para cada município da Chapada, acreditando no poder de transformar do esporte que salvou sua própria vida.

Jornal da Chapada

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