Os bonobos são os primatas contemporâneos geneticamente mais próximos dos humanos e sempre surpreendem por sua capacidade de se organizar socialmente e usar ferramentas. Um estudo recente revela agora que eles também possuem habilidades complexas de comunicação que até então se acreditava ser exclusividade da linguagem humana.
A investigação feita por pesquisadores da Universidade de Zurique e da Universidade de Harvard foi publicada na revista Science nessa quinta-feira (3/4). Segundo os antropólogos evolutivos, os bonobos criam combinações complexas de sons que, de forma semelhante às palavras de uma frase, geram novos significados.
Os pesquisadores passaram oito meses estudando bonobos selvagens na Reserva Comunitária de Kokolopori, na República Democrática do Congo. Durante o estudo, eles observaram como esses primatas utilizam sons para expressar intenções e se comunicar com outros membros do grupo.
A chave para essa descoberta é a composicionalidade – a capacidade de combinar elementos sonoros para formar mensagens com significados distintos. Esse conceito, antes visto como uma característica exclusiva da linguagem humana, foi identificado também nos bonobos.
Criando um dicionário de sons dos bonobos
O estudo começou com a catalogação e análise dos chamados vocais dos bonobos. A linguista Mélissa Berthet, pesquisadora principal, explicou: “Isso nos permitiu criar uma espécie de dicionário de bonobos – uma lista completa de vocalizações dos animais e seus significados”.
Esse passo foi crucial, pois pela primeira vez, foi possível entender o repertório vocal desses animais e seus significados. Esse avanço abre portas para novos métodos de investigar a comunicação de outras espécies.
Vocalizações que formam novos significado
A pesquisa revelou várias combinações que não apenas somam o significado dos sons, mas modificam e ampliam as ideias que esses sons transmitem. Os sons registrados foram divididos em faixas de registro e depois estudados para entender como se agrupavam.
Por exemplo, um som identificado com “grunt”, que significa “preste atenção, olhe para mim”, ao ser combinado com o “yelp” de animação, que costuma significar “vamos fazer isso, estou animado”, gera uma estrutura de comunicação complexa que incita os demais bonobos a construir um ninho noturno.
Linguagem mais antiga do que se pensava
Uma das conclusões mais significativas do estudo é que a habilidade de combinar sons com significado pode ser muito mais antiga do que se imaginava. De acordo com Martin Surbeck, professor de Harvard e coautor do estudo, humanos e bonobos compartilharam um ancestral comum perdido em um intervalo entre 7 a 13 milhões de anos atrás.
“Isso sugere que nossos ancestrais já usavam a composicionalidade há pelo menos 7 milhões de anos”, afirmou a pesquisadora. Portanto, a capacidade de criar mensagens complexas a partir de sons pequenos pode ter se originado muito antes da linguagem humana.
Implicações para a evolução da linguagens
O novo estudo desafia a ideia de que a linguagem que conhecemos é uma habilidade única dos humanos modernos. As descobertas indicam que as raízes evolutivas da comunicação verbal podem ser mais antigas e profundas do que se pensava.
Os bonobos demonstraram uma capacidade de transmitir significados complexos, algo que antes parecia restrito aos humanos. Isso sugere que a origem da linguagem humana pode ser mais relacionada ao comportamento de outros primatas do que se supunha.
Além das descobertas sobre os bonobos, a metodologia empregada no estudo oferece novos caminhos para a pesquisa sobre comunicação animal. O uso de uma abordagem linguística para analisar a comunicação de primatas é um avanço significativo, que pode ser aplicado em outros animais, como chimpanzés e gibões.
Embora o estudo tenha mostrado que bonobos podem combinar sons de maneira semelhante aos humanos, a pesquisa ainda está em seus estágios iniciais. Muitos aspectos da comunicação vocal desses animais permanecem inexplorados, e novos estudos podem revelar nuances ainda mais profundas em sua capacidade de se comunicar. As informações são do site Metrópoles.