Retomar a rotina e encontrar no caminho para o trabalho um rastro de destruição representado em um vazio de casas e na ausência de parentes e amigos, não é fácil. Para alguns moradores de Lajedinho, município da Chapada Diamantina atingido por uma forte chuva que deixou 17 mortos, cerca de 200 famílias desabrigadas e 600 desalojadas, não há dia, nem hora definidos para que o maior desastre da história da cidade seja superado. Esta quarta-feira (8) marca um mês do tragédia que abalou o município, situado a 355 km de Salvador. O funcionário público Rock Mota dos Santos, de 38 anos, perdeu a mãe, uma irmã e duas sobrinhas na enxurrada. No local onde existia a residência do morador não há mais nada. Desviar o caminho do trabalho e evitar passar pela região é a saída que Rock encontrou para impedir que as lembranças de uma noite de terror voltem à memória.
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“Tinham seis pessoas em casa e só eu e minha irmã sobrevivemos. Eu fui arrastado e depois de 100 metros a água me jogou em uma estrada de chão e consegui sair. O meu sobrinho estava no meu braço e escapuliu. Hoje eu estou morando de favor na casa de amigo, perto da rua que eu morava. Evito passar pelo local porque se eu olhar vem aquela cena, do meu sobrinho e da minha mãe pedindo socorro”, relembra Rock, que não descarta deixar o município. “Por enquanto eu estou aqui. Mas se eu achasse uma proposta de trabalho fora eu sairia”, acrescenta.
O pensamento de Rock é semelhante ao do motorista Welligton Oliveira. Ele escapou da chuva fugindo pelo telhado com a esposa e a filha. No entanto, acabou perdendo a residência que desabou, além de pertences. Atualmente, o morador está desempregado. “Perdi tudo e estou na casa de minha mãe. Já limpei a minha casa, mas não tenho coragem de ir pra lá ainda. Tenho medo de acontecer tudo de novo. Meu pensamento é ir embora. Tem uns outros moradores que estão pensando em sair, outros querendo fazer as casas no alto. Tá todo mundo com medo”, conta o morador.
Planejamento
O prefeito de Lajedinho, Antônio Mário Lima, esteve em Brasília na terça-feira (7) para uma reunião com representantes dos ministérios da Integração e das Cidades, além da Casa Civil, a fim de se discutir a situação da cidade. Embora ainda não esteja definido o investimento que será repassado para o município, Mário Lima afirma que o encontro foi importante para que fosse definido o planejamento para a recuperação dos locais afetados.
“Ficou definido que nós vamos fazer três planos de trabalho e entregar a eles. Um para as casas destruídas, outro do canal por onde passa o rio e outro plano da reconstrução das repartições públicas. Nós estamos trabalhando nessas três frentes. Não temos prazo porque a coisa está em processo de tramitação de documentação. É um processo ainda um pouco demorado”, afirma o prefeito, que também reconhece que mesmo com os problemas, os moradores têm retomado a rotina.
“Não tem ninguém em abrigo. As pessoas estão em casa de parentes, de amigos ou alugadas pela prefeitura. A feira voltou, o comércio está se restabelecendo, voltando a vida normal. É uma cidade muito pobre. Tem que ter calma para voltar ao normal. É a dura a realidade que nós temos que encarar. Mas o caminho é esse mesmo. A gente não tem outra saída. O governo federal e o do estado estão ajudando na medida do possível”, afirma o prefeito Antônio Mário Lima.
É com o sentimento de esperança, mesmo reconhecendo que tem um caminho ainda de muitas dificuldades pela frente, que o funcionário público Rock Mota dos Santos, espera um dia poder superar a tragédia. “Eu recebo um salário mínimo por mês. As únicas coisas que vou levar para a minha próxima casa são um colchonete e um cobertor, que foi tudo que sobrou. Mas tem que ter esperança, não pode desanimar. Estou tentando levar a vida, não baixar a cabeça. Devagarzinho vamos construir tudo de novo”, promete. Extraído na íntegra do site G1.