As políticas educacionais mais recentes conseguiram diminuir a quantidade de analfabetos no Brasil, mas não evitaram que mais jovens saíssem da escola sem saber ler ou escrever. Os números do analfabetismo no País mostram que 16,7% dos 13,4 milhões de analfabetos brasileiros têm entre 20 e 40 anos. Eles representam 2,2 milhões de pessoas que, junto com outro meio milhão de crianças e adolescentes de 10 a 19 anos, não estão alfabetizadas.
Essa é a grande preocupação dos especialistas, apesar de a maioria dos analfabetos brasileiros ser idosa. Do total de analfabetos brasileiros, 45% (mais de 6 milhões) têm mais de 60 anos. Ao longo dos últimos anos, quando o tema se tornou compromisso dos governantes (em acordos internacionais e campanhas), os esforços de universalização do ensino não chegaram aos adultos como deveriam e ainda “produzem” analfabetos. Muitos escolarizados, inclusive.
Além disso, as políticas educacionais ainda não venceram as desigualdades histórias do País. Os dados mais recentes do analfabetismo estão na Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (Pnad) 2012, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Eles mostram que 7,2 milhões de brasileiros que deveriam saber ler e escrever (possuem mais de 10 anos de idade) vivem nos estados da região Nordeste.
“O sistema educacional evoluiu muito para compreender e ter um pano de fundo melhor para recuperar e devolver a essas pessoas um direito que foi violado. Mas precisamos transformar esse cenário favorável em práticas que tenham resultado. E temos de nos preocupar porque estamos gerando uma nova classe de analfabetos, a de escolarizados”, afirma Ana Lúcia Lima, diretora do Instituto Paulo Montenegro.
Ana Lúcia não acredita que uma solução única seja possível para resolver o nó que se tornou a alfabetização de adultos no Brasil. Ela lembra que a geração mais velha, que não teve acesso à escola na infância, ou os que moravam ou moram em regiões rurais e também se mantiveram afastados da escola, são alvos difíceis de atrair para o estudo. “Há uma dificuldade grande de motivar aqueles que se mantiveram distantes do universo da leitura e da escrita agora”, diz. “Nesses casos, é preciso lidar com o analfabetismo de forma muito individualizada. Não dá para termos uma política única, achando que ela resolverá e funcionará igual pra todo mundo”, critica.
No ano 2000, o Brasil assinou a Declaração de Dacar “Educação para Todos”, elaborada pela Cúpula Mundial da Educação. Os países se comprometeram a reduzir o analfabetismo em pelo menos 50% até 2015. A meta brasileira era chegar a um índice de 6,7%. O Brasil não conseguirá alcançar a meta, segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). A organização é responsável por monitorar os avanços dos países signatários da declaração e divulgou relatório atestando essas dificuldades no fim de janeiro. Hoje, a taxa de analfabetismo brasileira, entre a população com mais de 15 anos, é de 8,7%. Em 2001, o índice era de 12,4%.
Onde eles estão
Historicamente, os resultados e as estatísticas educacionais – especialmente as de exclusão – são bastante diferentes entre os estados e as regiões brasileiras. O Nordeste concentra grande parte dos brasileiros que não sabem ler ou escrever e os números do analfabetismo nos estados da região são muito discrepantes em relação ao de estados do Sul e Sudeste, por exemplo. A taxa de analfabetismo mais alta do País está em Alagoas, 19,66%. O Maranhão aparece na sequência, com índice de 18,76% da população com mais de 10 anos analfabeta.
A menor taxa, por outro lado, é a de Santa Catarina: 2,93%. Em seguida, aparecem o Distrito Federal (3,15%), São Paulo (3,51%) e Rio de Janeiro (3,52%). As discrepâncias em relação às gerações, no entanto, são chocantes. No Maranhão, mais da metade (55,7%) da população com mais de 60 anos é analfabeta. Em Alagoas, também (52,24%). Em muitos outros estados a porcentagem está acima dos 40%: Piauí (48,72%), Sergipe (46,19%), Tocantins (46,05%), Bahia (42,86%), Paraíba (42,34%), Pernambuco (40,78%) e Ceará (40,55%).
Na outra ponta, os menores índices de analfabetismo entre essa população estão no Rio de Janeiro (11,12%), São Paulo (12,66%), Paraná (17,77%), Santa Catarina (11,6%), Rio Grande do Sul (12,12%) e Distrito Federal (14,02%). A média brasileira é de 24,36% de analfabetos entre as pessoas dessa faixa etária. Entre os brasileiros com idade entre 50 e 59 anos, o índice é de 11,78%; de 8,18% entre 40 e 49 anos; de 1,79% entre 10 e 14 anos e 0,96% entre 15 e 17 anos.
Alagoas e Maranhão também possuem altos índices de analfabetos entre outras faixas etárias. Alagoas lidera as piores estatísticas do analfabetismo entre as faixas etárias de 18 e 19 anos (5,93%, sendo que a média nacional é de 1,48%), de 25 a 29 anos (9,85%, diante da média nacional de 2,76%), de 30 a 39 anos (20%) e de 40 a 49 anos (26,82%). A pior taxa entre os jovens de 20 a 24 anos é do Maranhão (4,77%), que também lidera a de 50 a 59 anos (34,7%).
A maioria dos analfabetos brasileiros vive na área rural. A taxa de analfabetismo nesses locais chega a 19%. Os homens têm situação educacional ainda pior: 21% de analfabetos. Entre as mulheres, o índice é de 16,9%. Nas cidades, há mais mulheres analfabetas do que homens: 6,2% contra 5,9%.
Novos analfabetos
Ana Lúcia Lima coordena, há 12 anos, uma pesquisa que monitora as habilidades de leitura, escrita e matemática de brasileiros com mais de 15 anos. O Indicador de Alfabetismo Funcional divide os participantes em quatro grupos: analfabetos, alfabetizados em nível rudimentar, em nível básico e em nível pleno. Os dois primeiros compreendem o analfabetismo funcional.
O último levantamento, de 2012, mostrou que 47% das pessoas ainda estão no nível básico de alfabetização. Isso significa que elas leem e compreendem textos de média extensão, leem números na casa dos milhões e resolvem problemas simples. Outros 27% ainda se encontram no nível rudimentar ou são analfabetos, conseguem fazer pequenas tarefas, como anotar um telefone, sabem conferir troco e identificar textos curtos. “Precisamos avançar muito”, diz. Extraído da Tribuna da Bahia.