A multiplicação dos cursos de Ensino a Distância nas áreas de engenharia tem gerado preocupação no meio profissional. Debate-se, principalmente, a questão das aulas práticas, que representam cerca de 50% das disciplinas. Para discutir o assunto e também a valorização das profissões técnicas, foi realizado nesta quinta (21), pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (Crea-BA), o 5º Seminário Ensino e Exercício Profissional. “Está crescendo a demanda por concessão e cadastramento de novas instituições oferecendo cursos na modalidade EAD. O problema é que ainda não existem procedimentos padrão e controle sobre o conteúdo e qualidade desses cursos”, afirma o coordenador da Comissão de Educação e Atribuição Profissional do Crea-BA, José Humberto Félix de Souza. Segundo ele, a falta de controle coloca em xeque a qualidade na formação profissional e os direitos dos discentes.
O presidente em exercício do Crea-BA, engenheiro mecânico Eduardo Sousa, abriu o evento lembrando que o tema EAD na área de engenharia foi tratado na última plenária do Conselho, como ponto de preocupação dos profissionais. “Nossa missão é a valorização do profissional e para isso estamos atentos com relação a estrutura pedagógica e a qualidade dos cursos que passam a ser oferecidos dentro dessa modalidade”. As informações sobre o conteúdo e oferta dos cursos são restritas ao Ministério da Educação. O primeiro curso de engenharia na modalidade EAD surgiu em Uberaba (MG), em 2005 e a tendência é o crescimento. Na Bahia, a Unifacs já anunciou que vai oferecer o curso de engenharia civil. Segundo o engenheiro civil e professor aposentado da UFBa, Ronald Donald, a grande preocupação é que os cursos supram as necessidades teóricas e técnicas, inclusive com as atividades práticas em laboratórios de química, física, material de construção, mecânica de solos, entre outros.
“Existem ainda dúvidas com relação aos cursos de EAD que, inclusive, não têm ainda a obrigatoriedade, pelo MEC, de aulas presenciais. É uma incógnita. O próprio Crea, que é quem fiscaliza a atividade profissional e o conteúdo dessas instituições foi alijado do processo. Existe um distanciamento entre o MEC e o sistema profissional que pode ser prejudicial aos estudantes que ingressam nesses cursos”, afirma Ronald Donald.
Valorização profissional
O engenheiro químico, professor da UFBa, coordenador da Universo e chefe de Gabinete do Crea-BA, Herbert Oliveira, falou sobre a valorização dos profissionais das áreas técnicas e engenharia, apresentando os programas do Conselho para a formação profissional, como o Crea Júnior, Programa de Educação Continuada (PEC), Crea Portas Abertas e apoio a eventos da academia. “Estamos atentos à atribuição e valorização profissional, inclusive se os salários são condizentes com a profissão em concursos públicos”.
Ele explicou que a atuação do Conselho tem ido além da sua atribuição básica que é a fiscalização do exercício profissional. “O Crea-BA tem parcerias estratégicas hoje como as Fiscalizações Preventivas Integradas (FPI’s) do Rio São Francisco e de grandes eventos, que contam com a participação dos ministérios públicos Federal e Estadual, entre outros órgãos de fiscalização, além de convênios com gestores municipais e União dos Municípios da Bahia (UPB). Inclusive, nosso presidente licenciado, Marco Amigo, foi homenageado recentemente com a medalha do mérito municipalista por ações de apoio aos municípios baianos”.
Herbert Oliveira falou ainda sobre o Programa Sanear Mais Bahia, que é uma parceria do Crea-BA com a Fundação Nacional de Saúde, assessorando na elaboração dos Planos Municipais de Saneamento Básico de 50 municípios baianos com população abaixo de 50 mil habitantes e IDH baixo. “O Crea vem se posicionando em ações em defesa da sociedade, como a luta para retomada das obras da Ferrovia de Integração Oeste Leste (Fiol), os Encontros com os Candidatos ao Governo, Fórum a Cidade Também é Nossa e os debates em torno do saneamento. Além disso, conquistamos a titularidade de importantes conselhos municipais e estaduais, do Cepram, Coman (Salvador) e do Concidades (Salvador e demais municípios do interior”.
Faltam professores
O engenheiro civil e professor da Universidade Federal do Recôncavo Baiano, Carlos Cortês, falou da dificuldade atual em preencher as vagas de docentes nos cursos das áreas técnicas, nas universidades federais, devido a valorização profissional e a grande demanda do mercado por profissionais da área de engenharia. Segundo ele, vem ocorrendo um esvaziamento dos cursos de pós-graduação por conta da grande procura por profissionais pelas empresas de engenharia. “Na UFRB, por exemplo, temos hoje oito vagas em aberto para docentes que não conseguimos preencher. Os salários da universidade não são tão atrativos quanto os que são oferecidos pelo mercado. Atualmente, contamos com cinco professores que se revezam na oferta de disciplinas”.