A abertura do 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro foi marcada pela exibição do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, que completa 50 anos de lançamento. A obra, do cineasta Glauber Rocha, é considerada um clássico pelos críticos. Lançado em 1964, foi indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes. A cópia exibida na noite de ontem foi restaurada. Na abertura do evento, o secretário de Cultura do Distrito Federal, Hamilton Pereira, disse que o filme é um marco na vida do país. “Ele nos convoca, chama para colocar a nossa cara na frente do espelho, das nossas grandezas e misérias”. Paloma Rocha, filha de Glauber, esteve presente ao evento.
“Eu recebo essa homenagem com carinho, orgulho. Acho que Deus e o Diabo abrir esse festival é uma honra”. Ela elogiou a retomada do antigo formato do festival, em que os filmes competem sem a separação em gênero. “Estou feliz pela retomada do seu espírito, privilegiando a autoria, a invenção e a qualidade dos filmes que estão em competição. É um festival importantíssimo, que tem a tradição de trazer para as telas o que há de mais interessante de inovação no cinema brasileiro, de linguagem e métodos de produção” acrescentou.
Sara Rocha, neta do cineasta baiano e coordenadora adjunta desta edição, trabalhou ao lado da mãe, Paloma, na restauração do material que compõe a obra deixada por Glauber. “Dez anos depois dessa imersão, a gente pode coroar, premiar o festival de Brasília com essa exibição de abertura, deixando o legado para as próximas gerações. Nesse ano que tanto se falou em ditadura militar, desse período de cerceamento da criatividade, dos modos de produção do cinema. Deus e o Diabo na Terra do Sol é um filme incontestável, um clássico do cinema nacional que não podia passar despercebido”.
O público aplaudiu a exibição da obra. “É bacana ver que um filme como esse é ainda tão atual e tem tanta poesia”, disse o ator Jorge Mesquita. Nathália Duarte, cineasta, destacou a qualidade da restauração. “Gostei muito. A qualidade está muito boa”. Entre os convidados estava também o cineasta Vladimir Carvalho. Para ele, Glauber tem uma obra ligada ao país, mas que, ao mesmo tempo, consegue ser universal. Carvalho falou também sobre a importância do evento feito na capital. “O Festival de Brasília sempre mostrou essa vinculação visceral com o cinema brasileiro. É algo extraordinário que ele tenha atravessado todas as crises possíveis, mas se mantém vigoroso, antenado, sintonizado com o que acontece no cinema do país”.
Além do ver o filme, quem esteve na abertura acompanhou a apresentação de uma orquestra de câmara composta por músicos da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro. Sob a regência do maestro Cláudio Cohen, foram apresentadas duas músicas que fazem parte da trilha sonora do filme: Bachiana nº 5, de Heitor Villa-Lobos, e Perseguição, de Sergio Ricardo. “Foi feita uma pesquisa no filme do Glauber Rocha para analisar a trilha sonora. Fizemos uma adaptação também do trabalho do Sergio Ricardo para ser um tema característico, da trilha sonora específica, sem ser de um compositor clássico”, explicou o maestro.
O coordenador-geral do festival, Miguel Ribeiro, lembrou que, nesta edição, as exibições e atividades ganharam novos espaços e mais quatro cidades do Distrito Federal participam da programação: Taguatinga, Gama, Sobradinho e Ceilândia. As atividades serão feitas em escolas públicas e uma unidade do Serviço Social do Comércio ( Sesc). “A gente ampliou o público e a participação. O público das outras cidades também vai participar do júri popular. Eu acho que isso é um ganho tanto para o festival, para os realizadores, quanto para as cidades. Brasília merecia viver essa festa com todo mundo”.
Serão exibidos filmes de diferentes regiões do país, mostrando a produção atual. A partir desta quarta (17), o evento será espaço também para debates e seminários. “O festival é o grande espaço para divulgar, mas não só para isso. É o espaço para refletir sobre a linguagem, refletir sobre o campo do cinema, sobre os programas disponíveis, os recursos disponíveis”, disse Ribeiro. Entre os seminários, dois assuntos contam com a participação da Empresa Brasil de Comunicação, a EBC. No dia 18, o tema é O Papel das TVs Públicas e Privadas no Desenvolvimento de Políticas Locais. No dia 22 haverá o Encontro da Regional Centro-Oeste/ Norte, da EBC, com A Produção Independente.
As mostras competitivas contam com seis longas-metragens e 12 curtas. As exibições ocorrem às 20h30, no Cine Brasília, e às 21h, nas outras cidades participantes. A programação pode ser acessada no site do festival: www.festbrasilia.com.br. A cobertura completa você acompanha pelos veículos da EBC. A TVBrasil, as rádios Nacional de Brasília (AM 980 kHz) e Nacional FM Brasília (96,1 MHz), a Agência Brasil e a Radioagência trarão todas as informações do evento. Da Agência Brasil.