Quem assiste ao enérgico senhor que atende por Mestre Curió, em uma roda de capoeira, talvez não consiga imaginar que Jaime Martins dos Santos, nome escolhido pela mãe, já foi menino de rua e passou por pelo menos dez profissões diferentes até se tornar um dos mestres de Capoeira Angola mais conhecidos no mundo. Aos 78 anos, ele será o anfitrião de brasileiros e estrangeiros no 27º Encontro Internacional de Capoeira Angola, a ser realizado entre terça-feira (19) e o próximo sábado (23), em Salvador, com o apoio do Governo do Estado.
O evento reúne outros mestres e alunos do homem que, além do Brasil, possui escolas na Bélgica, Suíça, Japão, Senegal, França, México, Equador, Martinica e Iraque. Mestre Curió também já perdeu a conta das cidades para onde viajou divulgando o trabalho da capoeira tradicional, que chegou ao território brasileiro por meio de escravos africanos.
O tema do encontro deste ano é ‘Andanças de um angoleiro pelo mundo’, em que ele vai contar parte da trajetória entre capitão de areia, vendedor de mingau, chefe de cozinha, boxeador, jogador de futebol e guia de cego, até se encontrar como mestre de Capoeira Angola.
Curió, apelido herdado do avô, nunca esqueceu suas origens, lição que gosta de passar aos alunos. “A Capoeira Angola é uma coisa do negro, uma parte importante da nossa história, é a herança dos nossos antepassados, é uma filosofia de vida e é única no mundo inteiro. Por isso que reunir essas pessoas no encontro é uma forma de intercâmbio de cultura, de língua, de arte, de educação e de malícia”, explica o mestre.
Trabalho social
Para Curió, a capoeira pode mudar a vida das pessoas – como mudou a dele – e essa é uma das suas grandes missões. “Eu acho que minha função é tentar passar um pouco do que eu aprendi a crianças e jovens menos favorecidos e quero incentivar as pessoas a fazerem o mesmo”.
Adenilson Lima, 35, tem uma trajetória parecida com a do mestre. Aos oito anos, era morador de rua, quando foi descoberto e acolhido por Curió, que começou a ensiná-lo a jogar a arte de Angola. Conhecido como João Grandão nas rodas de capoeira, ele se emociona ao falar sobre o significado desses ensinamentos.
“Hoje trabalho com o mestre cuidando do espaço no Pelourinho e se não fosse a capoeira, não sei onde eu estaria. A capoeira hoje é a minha vida, aquilo que eu acredito e que eu quero passar para outras pessoas através do exemplo do que aconteceu comigo”, afirma João Grandão.
Programação
O encontro terá cinco dias de programação sobre a arte e a filosofia da Capoeira Angola. Entre palestras gratuitas e oficinas no valor de R$ 150, o público ainda pode participar de uma missa na Igreja São Francisco e de um caruru oferecido por Curió, como encerramento do evento, no dia 23, quando o mestre também comemora o aniversário de 79 anos.
As atividades se dividem entre as sedes da Escola de Capoeira Angola Irmãos Gêmeos (ECAIG), que ficam no Forte do Santo Antônio Além do Carmo e na Rua Gregório de Mato, nº 9, no Pelourinho. Para mais informações sobre o evento, os interessados podem ligar para os números (71) 3321-0396, 3323-0081 e (71) 98733-8776, ou entrar em contrato pelo email [email protected].