De música foi feita a vida do percussionista Naná Vasconcelos e de música se forrou o caminho para a despedida do artista pernambucano. O músico que morreu na última segunda-feira (7) depois de lutar contra um câncer de pulmão por sete meses, foi enterrado na manhã desta quinta (10), homenageado por centenas de artistas em um trajeto que percorreu as ruas do Recife até o cemitério de Santo Amaro. As últimas despedidas a Naná começaram ainda na Assembleia Legislativa de Pernambuco, onde o corpo começou a ser velado na quarta (9) à tarde. No plenário lotado da Casa, o babalorixá Raminho de Oxossi, de Olinda, e o padre Francisco Rosendo, do Núcleo Católico do Cordeiro, deram suas bençãos ao percussionista e à família.
As preces foram seguidas pelo canto das mulheres negras do grupo Voz Nagô, formado por Naná Vasconcelos há 8 anos para abrir o carnaval do Recife – um dos muitos projetos do percussionista que celebram e perpetuam a cultura afrobrasileira. “A gente entende hoje, mais forte do que nunca, que ele nos preparou para dar continuidade a esse legado, um trabalho que ele acreditava e gostava, que era a música”, analisa Ana Paula Guedes, uma das integrantes. “Ele fez aqui nesse plano o que ele tinha que fazer, e deixou o legado para outras pessoas darem continuidade”, completou.
O grupo de maracatu Nação Sol Nascente também homenageou Naná durante o cortejo. Com a batucada, abriram o caminho para o veículo do corpo de bombeiros que levou o corpo do percussionista até o destino final. Um dos músicos que acompanharam todo o trajeto do corpo de Naná Vasconcelos foi o também pernambucano Otto. “Eu acho que é um dos melhores músicos do mundo, um homem que colocou percussão no jazz. É o nosso pai, rei, não dá para falar do legado e do que Naná representa para cada um de nós. Então, estar aqui celebrando… agora ele vai reger a gente de lá”, comentou, muito emocionado.
A aposentada Edileuza Antônia Ferreira, de 73 anos, foi ao velório e acompanhou o trajeto até o cemitário: “Uma pessoa maravilhosa, sempre valorizou nosso estado. Vai ser difícil ter um à altura dele”, disse ela. “Nossa cultura não vai morrer, mas ele vai fazer falta nos nossos corações”, completou. O também aposentado Aguinaldo José da Silva, 58 anos, queria vê-lo pela última vez. “Sempre que tinha encontro de Maracatu eu vinha apreciar e ele estava. Ele era uma boa pessoa. É uma tristeza, porque nunca mais a gente vai ter ele junto de nós. Vai estar com Deus”, lamentou.
À frente do cortejo, Júlio César Ribeiro da Silva, da Maracatu Nação Pernambuco, segurava, entre duas baquetas, a bandeira de Pernambuco com o escudo do Santa Cruz. Morador de Sítio Novo, onde o Naná Vasconcelos cresceu, o recifense de 40 anos conta que fez questão de ir pessoalmente se despedir. “Ele me conheceu novinho, bem pequeno. Pra mim, pra Pernambuco e pro mundo é muito triste”.
À medida que a pequena multidão avançava para o cemitério, pessoas saíam dos edifícios, casas e escolas para aplaudir Naná. Estudantes de uma escola estadual acenavam das janelas e mais pessoas se juntavam ao cortejo. Ao virar a esquina para a entrada do cemitério de Santo Amaro, um encontro ensurdecedor: um corredor de maracatus tocavam juntos, compassados, e dois estandartes brilhavam sob o sol escaldante à entrada do cemitério.
A esposa de Naná, Patrícia Vasconcelos, e a filha, Luz Morena, estavam calmas durante todo o tempo, embora emocionadas. “Acho que era tudo o que ele merecia aqui na terra dele, e eu sei que ainda vão vir muitas homenagens, porque a obra dele tem de ser preservada. Ele está colhendo o que ele plantou: amor, carinho e musicalidade. É isso que as pessoas estão dando de volta a ele”. Da Agência Brasil.