O Velho Chico carrega, da Serra da Canastra, em Minas Gerais, até a divisa entre Alagoas e Sergipe, milhares de anos de história. Prova disso são as pinturas rupestres nos cânions da região de Paulo Afonso, na Bahia, que datam de mais de nove mil anos. Nos últimos 500 anos, ele foi importante para o desenvolvimento de regiões em cinco estados brasileiros, especialmente aquelas que se encontram no semiárido. Pelos mais de 2.800 quilômetros por onde passa, o Rio São Francisco possibilita a vida, a agricultura, a pesca e a permanência do homem no sertão. Tanta história e beleza fazem do seu curso um celeiro artístico e cultural, com potencial para a gastronomia e os esportes náuticos, e tornam o turismo uma atividade extremamente rentável.
O secretário do Turismo do Estado, Nelson Pelegrino, diz que o Rio da Integração Nacional – que inspirou autores como Guimarães Rosa – é chamado de Opará pelos índios e de Velho Chico por quem mora na região. Segundo ele, dos 13 destinos turísticos da Bahia, dois têm o Rio São Francisco como principal atrativo. “Na região de Juazeiro, temos o enoturismo. A pessoa pode passear na rota e no Vapor do Vinho [e] conhecer as ilhas próprias para banhos. Também pode conhecer as vinícolas e, associada ao enoturismo, temos uma rica cultura, com artesanato – as carrancas são muito famosas. Tem ainda a gastronomia, com surubim, carne do sol, bode, carneiro, manteiga de garrafa. As opções culturais são riquíssimas, em especial o forró. Somente na região de Juazeiro são 1.200 leitos consolidados”, explica Pelegrino.
Em outro trecho, próximo a Paulo Afonso, lagos e cânions são os principais atrativos do Rio São Francisco. “É um passeio estruturado, de catamarã, onde se pode conhecer Sobradinho, maior lago artificial do mundo, e também um grande sítio arqueológico, com pinturas rupestres que datam de nove mil anos. No Raso da Catarina, temos um sítio ecológico, com espécies raras e em extinção, como a ararinha azul. Na região também houve toda a saga de Canudos, com Antônio Conselheiro, e a história do Cangaço, com o bando de Lampião e Maria Bonita”, acrescenta.
Holofotes
A coordenadora da Bahiatursa, Mag Magnavita, destaca que atualmente o Rio São Francisco está sob os holofotes da mídia em razão da novela Velho Chico, da Rede Globo. “A novela está fazendo um mix da região como um todo. Não é possível localizar que área do São Francisco eles estão abordando. Isso é bom porque o fluxo de pessoas que a novela vai fomentar movimenta diversos trechos [e] não vai comprometer a capacidade [de hospedagem] em apenas uma cidade, como aconteceu no passado, em Mangue Seco, por causa da novela Tieta”.
Segundo ela, o Estado faz o acompanhamento do movimento turístico, para garantir que a atividade seja desenvolvida de forma sustentável. “Cerca de 70% dos viajantes não utilizam agências, são os chamados turistas independentes, e são os que mais visitam a extensão do São Francisco. O nosso trecho mais organizado é na região de Juazeiro por causa do enoturismo, que foi fomentado pela Bahiatursa em 2008 e, depois, em 2011, o Vapor do Vinho passou a fazer o trajeto, subindo a eclusa. As embarcações estão recebendo cerca de 10 mil visitantes por ano”, conta Magnavita.
De acordo com a coordenadora da Bahiatursa, o turismo religioso também é forte em alguns municípios, a exemplo de Bom Jesus da Lapa, com a colaboração do rio. “Muitas cidades têm seus padroeiros e procissões fluviais, chegadas de visitantes pelo rio. O São Francisco está sempre inserido neste contexto”.
Magnavita também ressalta a diversidade cultural das regiões cortadas pelo rio. “A extensão é tão grande que ele traz uma diversidade cultural muito grande. No trecho entre Santa Brígida e Carinhanha, há uma série de manifestações culturais e diversidade de paisagens que proporcionam muitas opções de turismo para serem trabalhadas. Hoje a gente acrescenta as características geográficas que estão atraindo eventos esportivos, rafting, canoagem, ciclismo, mountain bike e motociclismo, entre outras atividades”.