A revista Época esperou apenas a exoneração de Jaques Wagner (PT) do cargo de ministro chefe do Gabinete da Presidência para publicar em seu site uma reportagem sobre a aquisição de uma propriedade no município de Andaraí, na Chapada Diamantina, em conjunto com o pai de seu enteado, Guilherme Sodré, por mais de R$ 500 mil. O imóvel teria cinco suítes e área total equivalente a 14 Maracanãs. A propriedade pertencia ao prefeito da cidade, Wilson Paes Cardoso (PSB).
Na matéria, tanto Wagner como Cardoso comentam sobre a propriedade. “A compra do sítio em Andaraí, na Chapada Diamantina, foi efetuada em 2015, devidamente escriturada em cartório, e lançada no meu Imposto de Renda de 2016”, afirma o ex-ministro. Já o prefeito disse que Wagner sempre comentava que depois do mandato de governador compraria uma propriedade na Chapada.
Wilson Cardoso afirmou à revista que recebeu os valores em transferência eletrônica. O gestor também afirma que Wagner conheceu o local quando sobrevoava a região, durante uma crise de seca. “Ele dizia no palanque que queria um cantinho na Chapada. E sempre tinha muitos prefeitos vendo e todo mundo queria levar o Jaques Wagner para a Chapada. Eu disputei com vários prefeitos”.
Jornal da Chapada
Confira a reprodução da matéria na íntegra:
Enquanto o governo começava a se esfarelar com o avanço do processo de impeachment, o ministro Jaques Wagner já pensava no seu futuro e encontrava espaço na agenda para comprar o seu “Sítio Felicidade”. Era 16 de dezembro de 2015 e o país vivia uma semana decisiva. O Supremo Tribunal Federal começava a discutir o rito do impeachment na Câmara, assunto de máxima atenção para o Palácio do Planalto. Era quarta-feira e 21 cidades recebiam manifestações em defesa da presidente Dilma Rousseff. Apenas na Avenida Paulista, 55 mil pessoas classificavam o impeachment de golpe. O governo, claro, acompanhava de perto o andar daquele dia. Escalado por Lula para auxiliar Dilma na batalha para salvar o governo, Jaques Wagner registrava em cartório naquele dia a compra do sítio. Ele se associava ao ex-lobista e amigo de longa data Guilherme Sodré, o Guiga, para comprar o imóvel por R$ 538 mil. Guiga é pai de um enteado de Jaques Wagner.
Com o nome de Fazenda Dinamarca, Wagner, sua mulher e Guiga compraram uma fração de 14 hectares do imóvel _ algo como 14 Maracanãs. O local incluía casa com cinco suítes, garagem, piscina e acesso ao Rio Santo Antônio, da Chapada Diamantina. Agora, o nome é “Sítio Felicidade”. Segundo o registro do cartório, o imóvel teve uma entrada de R$ 398 mil e o resto dividido em dez prestações de R$ 14 mil. O salário de Jaques Wagner é de R$ 30 mil. O antigo dono é o prefeito de Andaraí, Wilson Cardoso (PSB). Pelo rateio, segundo o registro cartorial, Jaques Wagner e sua mulher têm 76% do imóvel (cerca de R$ 408 mil), enquanto a empresa de Guiga tem os outros 24% (cerca de R$ 129 mil).
Por coincidência, naquele 16 de dezembro Jaques Wagner só teve agenda oficial às 18h, em Brasília. Guiga ganhou notoriedade ao surgir na Operação Satiagraha, que investigou o banqueiro Daniel Dantas. A operação acabou anulada na Justiça. Guiga fora apontado como um lobista do banqueiro. Era o responsável por fazer contatos políticos. Uma auditoria da Brasil Telecom descobriu que ele recebera R$ 255 mil da empresa, quando a empresa era controlada por Daniel Dantas. Esse valor representa algo como R$ 465 mil em valores atuais.
O ex-lobista é uma figura conhecida nos bastidores de Brasília, sempre próxima de empresários e políticos. Em um dos episódios mais notórios, Jaques Wagner queria levar a colega Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil, para um passeio de lancha na Bahia. O ano era 2006. Wagner recorreu então a Guiga. O ex-lobista nunca cobrou a fatura do aluguel. Nem Jaques Wagner pediu. Mesmo assim, Jaques Wagner e Dilma acharam normal passear de lancha de graça em 2006. Depois se descobriu que Guiga tinha recorrido aos préstimos do empreiteiro Zuleido Veras, da construtora Gautama – a empreiteira foi acusada de superfaturamento e desvio de recursos públicos pela Operação Navalha.
Guiga afirmou que fez o pagamento por meio de transferência eletrônica, mas não quis informar o valor. Ele disse que fez a compra como representante da empresa MMSM, cujo um dos sócios é o filho dele com a mulher de Jaques Wagner, Fátima Mendonça. “Eu sou um dos sócios da empresa e um dos sócios é meu filho e enteado do ministro. Essa é a única razão de eu ter uma parte da propriedade. É para meu filho”, disse.
Jaques Wagner, por sua vez, afirma que não é sócio de Guiga. “Somos amigos há mais de 30 anos. Temos relação familiar e compartilhamos o mesmo local com a finalidade de lazer. Ele é pai do meu enteado e adquiriu parte do sítio para o seu filho”, disse o ministro. “A compra do sítio em Andaraí, na Chapada Diamantina (450 km de Salvador), foi efetuada em 2015, devidamente escriturada em cartório, e lançada no meu Imposto de Renda de 2016”, afirma.
O prefeito Wilson Cardoso disse que, sempre que Jaques Wagner ia à região, comentava que, depois do mandato de governador, tinha interesse em comprar uma propriedade na Chapada. Wilson Cardoso afirmou que recebeu os valores em transferência eletrônica. Ele conta, ainda, que Jaques Wagner conheceu o local quando sobrevoava a região, durante uma crise de seca. “Ele dizia no palanque que queria um cantinho na Chapada. E sempre tinha muitos prefeitos vendo e todo mundo queria levar o Jaques Wagner para a Chapada. Eu disputei com vários prefeitos”. Apesar da vontade do ministro e da disputa dos prefeitos, Jaques Wagner terá de esperar mais alguns meses até poder curtir o sítio. Agora com a presidente Dilma afastada do cargo com o processo de impeachment, o petista permanecerá em Brasília na equipe que tenta a difícil tarefa de reverter a votação no Senado.