O mandato de prisão contra Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara e deputado cassado do PMDB, foi emitido na terça-feira (18) e sua prisão foi efetuada nesta quarta (19). Ele foi levado para Curitiba, sede das investigações da força tarefa da Lava Jato lidera pelo juiz Sérgio Moro. A notícia da prisão de Cunha tomou os noticiários de todo o país bem como as redes sociais e, rapidamente, questionamentos sobre os impactos da prisão espetacularizada de Cunha começaram a ser levantados.
O cientista político e Diretor do InPro (Instituto de Pesquisas e Projetos Sociais), Benedito Tadeu César, quando questionado sobre os primeiros impactos do evento no cenário político brasileiro, foi contundente: “Acho que isso é o preâmbulo da prisão de Lula. Estão dando uma aparência de imparcialidade, de isenção, para preparar o mínimo de legitimidade nessa prisão do Lula”.
A reportagem do site da Revista Fórum perguntou ainda se a prisão preventiva de Eduardo Cunha afetaria, por exemplo, o segundo turno das eleições municipais, caso abrisse precedente para a prisão de Lula nos próximos dias. Benedito explica que o estrago provocado ao PT já foi feito, mas que uma eventual prisão de Lula poderia funcionar em mão dupla, aprofundando a crise do partido, mas gerando uma onda dos movimentos populares.
“Pode aprofundar, tem algumas cidades aonde o PT concorre a disputas de eleições com alguma chance, isso pode, sem dúvidas, aprofundar a crise do partido. E está tudo imprevisível, tudo tão surreal que, pensando bem, a minha avaliação é de que é uma bobagem prender o Lula, porque isso provocará uma reação popular, um acirramento de ânimos que obviamente não irá reverter nada, senão agravar mais o clima de tensão e de enfrentamento do país”
O cientista vai além e aponta que a prisão de Cunha não deve significar perdas para o PMDB, e sim trazer ganhos no sentido de arrecadar apoio dos aliados do ex-deputado para a base de Michel Temer no parlamento. O pesquisador concluiu afirmando que Cunha cumpriu seu papel ao protagonizar o golpe contra Dilma Rousseff, e aponta que Sérgio Moro, assim como os agentes das investigações, seguem um padrão “messiânico” de atuação, no intuito de “limpar o Brasil”, mas podem ser colados de lado “assim como Cunha”.
“Tem tanta gente envolvida com escândalos, acusadas, no próprio governo Temer, que a prisão de Cunha, que já estava defenestrada, não acrescenta muito. Acho que ele fez o serviço que interessa a esses grupos messiânicos do Ministério Público e da Justiça Federal que estão comprometidos com uma visão de um extremismo neoliberal. Ele serviu a esses objetivos”. Extraído da Revista Fórum.