Por Pedro Augusto Pinho*
Desde 1990, o mundo envereda por um caminho de insanidade, fantasias e ilusões. Mas, se não representamos uma comédia nem vivemos um filme de terror, convém perguntar a que se deve esta situação. O assessor da Casa Branca, ex vice-diretor geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), o novaiorquino de invejável currículo Mohamed El-Erian escreve que os bancos centrais, extrapolando suas competências monetárias, para a econômica, política e mesmo ações sociais, empoderados desde a “crise” de 2008, têm a maior responsabilidade.
Afirma em seu mais recente livro (A Única Solução, Dom Quixote, 2016) que “uma verdadeira sensação de insegurança”, “a polarização política”, “as tensões geopolíticas”, “as desigualdades e a alienação” afetam a confiança do setor privado em empreender a recuperação econômica. E o protagonismo destes bancos centrais acabará “provavelmente nos próximos três anos”, deixando um mundo ainda pior. Hoje, El-Erian vê um “entroncamento” com uma via “altamente inclusiva”, que cria postos de trabalho e combate a desigualdade “excessiva” e ameaças geopolíticas mundiais. Outra via com crescimento ainda menor, alimentando extremismos políticos e a quebra da coesão social.
Sendo o autor um homem do atual sistema de poder, longe de qualquer arroubo esquerdista, pensaríamos que a via inclusiva estaria sendo construída em todo lugar onde o capitalismo-colonial-patriarcal-racista (conforme Luisa Valle, Para Pensar a Ecologia dos Saberes, tese apresentada em 2016 na Universidade Internacional de Andaluzía), ou seja, o Ocidente Financista ocupe o Poder. Ledo engano. De início os bancos centrais tem adotado, desde 2008, medidas concentradoras, como se observa nestas estatísticas do banco Credit Suisse e transcritas em artigo de Antonio Luiz M.C. Costa, postado na Carta Capital em 05/01/2016.
Em 2010, os 50% mais pobres detinham menos de 2% dos ativos mundiais, estimados em 184,5 trilhões de dólares. Em 2015, estes possuíam menos de 1%, de uma riqueza de 250,1 trilhões de dólares. E observe-se que houve aumento do número de pobres. Na outra ponta, os 10% mais ricos com 83% da riqueza mundial, passam a deter 87,7%, em 2015. E passam também a se concentrar geograficamente: os Estados Unidos da América (EUA) é a residência de 46% dos magnatas, contra 41%, em 2010, o Reino Unido (RU) de 7%, antes 5%, Suíça e Suécia dobram de 1 para 2%, enquanto encolhem no Japão (de 10 para 6%), na França (9 para 5%) e Itália (6 para 3%).
Em toda parte a resposta às “crises” têm sido o rigor fiscal, o retraimento ou mesmo a eliminação das ações do poder público e as manipulações cambiais. Os resultados são conhecidos não só nas áreas coloniais, dependentes, mas nos próprios centros do Império: EUA e Comunidade Europeia. E, o que seria um paradoxo, os capitais internacionais, a banca, insuflam e financiam atentados, guerras regionais e rivalidades ideológicas. Já não são apenas as divulgações devidas a Julian Assange (WikiLeaks) e Edward Snowden, mas analistas e jornalistas dão-nos conta, frequentemente, das ações e movimentações financeiras mantenedoras deste “terrorismo”.
No recente debate dos candidatos principais à presidência dos EUA, a democrata e belicosa Hillary Clinton, como já saira em blogs, procura mover seu país para um novo confronto com a Federação Russa, que já não é um país comunista, mas um opositor da banca, o sistema financeiro internacional que ela representa. Estas são as loucuras internacionais. Mas temos as nossas, a irracionalidade e a hipocrisia com que o Governo anuncia e exige a aprovação da PEC 241 é a mais recente e um exemplo do que o economista Mohamed El-Erian escreve que deve ser evitado.
O que está nesta PEC é a restrição ao investimento e à ação pública, a alienação do patrimônio público, e, nem mesmo o financiamento à atividade privada produtiva. Tudo nesta proposta tem como fim a transferência de recursos para a banca. Vejamos o que diz Ben Bernanke, personagem importantíssimo da “crise” de 2008, citado por El-Erian: “as políticas experimentais dos bancos centrais envolvem uma mistura de benefícios, custos e riscos que acarretam uma perspectiva invulgarmente incerta”. Em outras palavras, você, meu caro leitor, pagará caro para ter a oportunidade de saltar num abismo onde não vê o fundo.
E, agora o ensandecer explode, tudo sob aplauso dos veículos de comunicação de massa, dos comentários irresponsáveis de pretensos analistas e da intimidação dos órgãos de repressão. E você verá o povo, aquele que Alexandre Herculano dizia açular o mártir que está no patíbulo por defender aquele mesmo povo que o agride, enquanto aplaude o tirano que o humilha e explora, votar nos candidatos cujos partidos dão golpes, aprovam arrocho salarial e eliminam os recursos fundamentais para educação e saúde da população.
Se esta loucura não é nova, pois nem bem completa um século que a Europa levou toda a humanidade ao mais demente ato: a guerra, a possibilidade de informação hoje é muitas vezes maior do que a de 1914 ou 1939. Ou seja, é possível ter informação mais perto da realidade factual, entender que o mundo quântico e nuclear de hoje não comporta ideologias dos séculos passados, exceto nas questões de fé, e que uma conflagração pode ser o último passo da humanidade.
Cada ato tem sua consequência, cada omissão seu pesadelo. E como avaliar que a Presidenta do Supremo Tribunal Federal (STF), a Ministra Carmen Lúcia, considere que a opção pessoal de gostar, compartilhar ou se opor e, ainda, não se interessar por um veículo de comunicação de massa é um ato de “censura”, que ser “politicamente correto” é incorreto?
Mundo dos loucos onde a sanidade paga o preço.
*Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado