Conhecido por sua beleza, ambiente acolhedor, cidadania, civilidade, respeito à natureza e amor ao próximo, o Vale do Capão, localizado no município de Palmeiras, na Chapada Diamantina, foi palco de uma triste realidade nacional. A intolerância religiosa e atos fascistas têm tomado municípios do interior da Bahia e de outros estados brasileiros. E foi isso que aconteceu na última quinta-feira (5), em frente ao terreiro de candomblé ‘Nkongo Kadyambuká Junsara’, situado na rua Riacho do Ouro, no vale, quando vândalos riscaram o veículo de um praticante do candomblé.
Em contato com o Jornal da Chapada, moradores de Palmeiras saíram em defesa do proprietário do veículo, o Tata/Ogan (Eraldo – que toca atabaque no terreiro). O caso foi levado à delegacia local, mas, de acordo com informações, por conta do feriado municipal, a ocorrência só será registrada na segunda quando a Polícia Civil retornar o atendimento. “O ato de intolerância aconteceu por volta das 21h da quinta e o carro teve inúmeros arranhões. Só percebemos o que os vândalos tinham feito depois da cerimônia religiosa”, salienta um frequentador do local.
Membros do terreiro no Vale do Capão informam que o que aconteceu foi um ato flagrante de intolerância. “Quando ouvimos falar na TV sobre intolerância religiosa, acreditamos ser algo distante, que só acontece nas grandes capitais, mas infelizmente não. Tivemos um exemplo claro de intolerância. Alguém sem respeito e amor próximo, teve a covardia de riscar a porta do carro de nosso amigo Eraldo. É triste ver a que ponto chega a maldade humana, logo no vale, que é um lugar mágico, que nos inspira sossego, tranquilidade, respeito, amor ao próximo e a natureza”.
Coletivo repudia ato
O Jornal da Chapada procurou um dos dirigentes do Coletivo de Entidades Negras (CEN) para se manifestar sobre o assunto. Marcos Rezende, que atua no movimento negro nacional, disse que “o caso de intolerância religiosa que atingiu o Ogan no Vale do Capão é na verdade a ressonância do que outrora acontecia com maior frequência nos grandes centros urbanos”. Rezende cita os casos ocorridos no terreiro tombado da Casa Branca ou com a Babalorixá Vilson Caetano, de Lauro de Freitas (RMS), que já denunciou o vizinho tanto na delegacia quanto no Ministério Público pelos frequentes atos de intolerância religiosa a que vem sendo exposto.
“O pior foi perceber que nesse início de ano, em algumas cidades do Brasil adentro, prefeitas e prefeitos ao assumir o mandato, publicaram decretos no Diário Oficial entregando a chave da cidade a Deus e essas distorções de intolerância na esfera pública fazem aumentar ainda mais o sentimento de impunidade e de que a interiorização da intolerância religiosa nos rincões do Brasil possa ser visto como algo banal e sem punição adequada. Por isso, a polícia deve buscar esse (s) criminoso (s) e o judiciário tem a obrigação penal de puni-lo (s) exemplarmente. Não estamos à mercê de bárbaros medievais ou na inquisição de Torquemada”, finaliza Marcos Rezende.
Jornal da Chapada