Especialistas do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac) iniciam nesta segunda-feira (7) os estudos para elaboração de dossiê que tornará a Romaria do Senhor Bom Jesus da Lapa um Bem Imaterial da Bahia. O objetivo da pesquisa é provar que o bem cultural merece a chancela de Patrimônio Imaterial. São feitas entrevistas de vídeo, pesquisados arquivos públicos, documentos familiares, fotos, reportagens e dezenas de itens sobre o tema, até a elaboração do dossiê. A vantagem é que, ao serem protegidos, os bens culturais – materiais e imateriais – têm prioridade nas linhas de financiamento, municipais, estaduais, federais e internacionais. Finalizado, o dossiê é enviado ao Conselho de Cultura e, depois, ao governador que determina publicação no Diário Oficial.
No último domingo (6), na cidade da Lapa, no Vale São-Franciscano, o governador Rui Costa anunciou que a Festa do Divino Espírito Santo tornou-se Patrimônio Imaterial da Bahia e o início das pesquisas da Romaria. “Estou emocionado por professar a minha fé junto com tantas pessoas e reafirmar a nossa caminhada e fé em Deus. Esses registros abrem caminhos para que possamos utilizar fontes de recursos para valorizar esse importante evento da fé do povo, não só da Bahia, mas do Brasil inteiro. São dois atos de reconhecimento importantes que consagram essa festa, que já está na alma e no coração do povo brasileiro”, destacou Rui Costa.
Cultura popular
O governador esteve acompanhado da primeira-dama, Aline Peixoto, que participou dos festejos. Vinculado à Secretaria de Cultura (SecultBa), o Ipac coordena a política pública dos bens culturais e já registrou a Festa de Santa Bárbara (Salvador), Bembé do Mercado (Santo Amaro), Carnaval de Maragojipe e Ofício de Vaqueiro, dentre outros, como Bens Imateriais. Segundo o secretário de Cultura, Jorge Portugal, as celebrações em Bom Jesus “representam a cultura popular da Bahia e revelam a alma mais profunda do estado, que é a fé desse povo”.
O diretor geral do Ipac, João Carlos de Oliveira, explica que a Romaria é uma manifestação centenária que reúne pessoas de várias partes do Brasil na Lapa. “Durante a Romaria que acontece mais entre 28 de julho e 6 de agosto, circulam pela cidade cerca de 500 mil fiéis, mas, durante o ano esse número chega a 2,5 milhões de pessoas”, afirma. Dados apontam que a peregrinação de Bom Jesus é a manifestação baiana que mobiliza mais pessoas depois do Carnaval de Salvador.
Inédito no Brasil
A Festa do Divino tem data móvel que acontece há 105 anos, exatamente 50 dias após a Páscoa, sendo marcada por missas, procissões, atos folclóricos e banquetes coletivos religiosos. Já a Romaria, será estudada por equipe do Ipac composta por historiadores, antropólogos, sociólogos e fotógrafos. Os estudos podem durar de seis meses a dois anos. “O conceito de ‘Registro Especial’ era inédito no Brasil, foi uma sugestão do Ipac e é utilizado para proteger festas, manifestações populares, ofícios, conhecimentos, modos de ser e fazer culturais. Enquanto os bens materiais, como edificações e obras de arte, são protegidos via ‘tombamento’”, relata Oliveira.
O registro especial tem ação mais ampla que o tombamento, considerado muito rígido. “Os patrimônios intangíveis necessitam de flexibilidade, já que as manifestações agregam novas contribuições ao longo das suas décadas de existência, com acréscimos ou transformações próprias de cada época”, esclarece João Carlos. Os terreiros de candomblé baianos também foram beneficiados com o Registro Especial do IPAC.
Livros do Ipac
A Festa do Divino é de origem portuguesa e foi instituída pela rainha de Portugal, Isabel de Aragão, no século XIV. Os elementos são relacionados à história, cultura e religiosidade popular. Na Lapa, a festa teve início em 1912. As celebrações ocorrem em torno do Santuário de Bom Jesus e casas das pessoas que organizam as celebrações. A festa acontece após a Páscoa, no Pentecostes, celebração cristã que representa a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos.
A festividade atrai romeiros de Porto Seguro, Jequié, Governador Mangabeira e da Chapada Diamantina, e muitas outras cidades. Conheça os bens registrados via Ipac: Festa Santa Bárbara, Festa D’Ajuda, Desfile de Afoxés, Carnaval de Maragojipe, Festa da Boa Morte, Ofício de Vaqueiros, Capoeira, Ofício das Baianas, Cortejo 2 de Julho em Salvador, Desfile de Afoxés e Bembé do Mercado. As informações são da SecultBA.