A mulher moderna, que prioriza sua formação e sua carreira profissional, costuma adiar a maternidade e, muitas vezes, só resolve ter filhos com mais de 38 anos de idade, quando sua fertilidade já está em declínio em função do envelhecimento natural dos óvulos. Isso é constatado em todo o mundo e, no Brasil, segundo dados do IBGE, as mulheres mais escolarizadas estão tendo filhos cada vez mais tarde. A busca por ajuda especializada para conseguir engravidar é uma realidade cada dia mais comum e as técnicas de reprodução assistida têm assumido um papel relevante na vida da mulher que sonha em ser mãe.
“Quando a gestação não chega espontaneamente, as técnicas de reprodução assistida oferecem alternativas, mas o tratamento indicado depende da reserva ovariana que a mulher possua na época”, explica o médico Joaquim Lopes, especialista em reprodução humana e diretor do Cenafert (Centro de Medicina Reprodutiva).
A fertilidade da mulher entra em declínio com a idade. “Na realidade, desde o nascimento acontece uma redução continuada dos gametas femininos (óvulos). A mulher ao nascer possui em torno de dois milhões de óvulos guardados em minúsculos folículos nos seus dois ovários. Ao iniciarem-se as menstruações e, consequentemente, a vida reprodutiva, restam apenas 400 mil óvulos armazenados nesses folículos. Todos os meses um folículo amadurece e apenas um óvulo é liberado pelos ovários, porém, dezenas de outros folículos (e no interior de cada um deles, um óvulo) sofrem uma atrofia e deixam de existir”, explica Joaquim Lopes.
Apesar do declínio progressivo da fertilidade feminina, cada caso é um caso. Muitas mulheres ainda chegam aos 40 anos com boa capacidade fértil, porém, outras sofrem esgotamento da sua reserva ovariana. “Hoje, existem exames que permitem avaliar a reserva de folículos que a mulher dispõe nos seus ovários e prever, consequentemente, uma maior ou menor dificuldade para obter uma gravidez espontânea”, afirma o médico.
Nos casos de mulheres com esgotamento dos folículos devido à idade ou por conta de outros fatores, como cirurgias ovariana prévias, endometriose e tratamentos oncológicos, recomenda-se a estimulação ovariana com medicamento eficazes e de menor custo financeiro para que, a partir daí, sejam colhidos os óvulos que vão ser fertilizados in vitro com os espermatozoides do parceiro. O cultivo dos embriões ocorre em incubadoras no laboratório de reprodução assistida, seguindo normas rígidas de segurança para preservação do material biológico.
Segundo Joaquim Lopes, “quando são produzidos embriões em quantidade adequada, eles podem ser transferidos de imediato para o útero da paciente.” Porém, quando o procedimento gera apenas um embrião, é feito o congelamento do mesmo através de uma moderna técnica denominada vitrificação. O embrião fica congelado para uma transferência futura. “Isso porque a transferência de apenas um embrião em mulheres em torno de 40 anos ou mais resulta em baixíssimos índices de gravidez”, acrescenta o especialista.
O procedimento é repetido até obter-se um número adequado de embriões para serem transferidos ao útero da mulher. Forma-se um Acervo de Embriões. “Essa alternativa aumenta, consideravelmente, as chances de sucesso no tratamento e evita a frustrante situação de repetidas transferências de apenas um embrião em mulheres com idade mais avançada ou mesmo quando a reserva ovariana está reduzida”, explica.
De acordo com recomendação do Conselho Federal de Medicina (CFM), mulheres de 36 a 39 anos podem receber até três embriões durante um tratamento de Fertilização in Vitro (FIV). Nas mulheres com mais de quarenta anos, como as dificuldades são maiores, podem ser colocados no útero até quatro embriões. Assim, a técnica de armazenar embriões para transferir para o útero da paciente é uma alternativa, pois nem sempre se consegue uma quantidade adequada de embriões de boa qualidade para serem transferidos para o útero em mulher nessas faixas etárias e com redução da reserva ovariana
Em Salvador, o Cenafert – Centro de Medicina Reprodutiva já utiliza a técnica de acervo de embriões com alto índice de sucesso. O método é indicado, principalmente, para mulheres de faixa etária mais elevada, que já apresentam baixa reserva ovariana e não conseguiram engravidar naturalmente.