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Itaberaba: Mulheres criticam postura de político que defende agressor e falam em ‘conflito moral’

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O caso veio à tona por meio do programa Conexão Verdade, da Rádio Comunitária Rosário FM, em Itaberaba, no Dia Internacional da Mulher e repercutiu por toda a Bahia | FOTO: Montagem do JC |

O candidato a prefeito de Itaberaba, derrotado na última eleição municipal, se envolveu em uma polêmica ao ter seu nome associado a um caso onde defende um homem que agrediu a companheira de diversas formas, inclusive com uso de spray de pimenta. Leonardo Moscoso (PSDB) é formado em Direito e advoga quando não é político. Para comentar o caso, o Jornal da Chapada procurou mulheres atuantes em diferentes áreas que externaram suas posições e apontaram um ‘conflito moral’ na questão. O caso veio à tona por meio do programa Conexão Verdade, da Rádio Comunitária Rosário FM, quando a presidente do Conselho Municipal de Mulheres, Laurita Gomes, desabafou no Dia Internacional da Mulher apontando que tinha participado de uma audiência e que o defensor do agressor era o político.

“Para a nossa insatisfação aconteceu uma audiência de uma companheira que foi violentada e infelizmente parece que a justiça está mais cega que imaginamos. Pior ainda saber que uma pessoa conhecida do nosso município vai defender um machista desse”, disse Laurita. “Até hoje a mulher está com os pertences presos na casa”, completou. Procurada pelo Jornal da Chapada a deputada estadual Luiza Maia, presidente da Comissão dos Direitos da Mulher na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), repudiou o caso e disse que o jovem Moscoso, com essa atitude, “não pode ser representante do povo”. Ela questiona ainda que os casos envolvendo violência contra a mulher precisam de maior rigor na punição aos agressores.

“Primeiro, repudio veementemente este episódio de violência contra a mulher, ocorrido em Itaberaba. Por isso, defendemos que a Justiça seja mais rigorosa com os agressores, para que a ‘certeza da impunidade’ não seja um motivador a mais. Violência contra a mulher é crime, seja ela física, sexual, simbólica ou psicológica. Já não bastasse esse absurdo, soube que um político local é o advogado do agressor. A população do município precisa ficar de olho, se ele defende quem violenta mulheres, não pode ser representante do povo”, afirmou a deputada petista.

Presente às homenagens feitas para as mulheres em Itaberaba, a jornalista e ativista feminina baiana, Maíra Azevedo, conhecida como ‘Tia Má’, não poupou críticas e disse que “alguém que pleiteia uma vaga em um cargo público tem que ser alguém que coloque em prática tudo aquilo que defende”. Indiferente com questões políticas, a comunicóloga disse estar preocupada com a situação e com o avanço da violência contra a mulher.

“Eu não sei quem ele é, nem o partido, mas eu me preocupo. Porque eu não posso querer ter à frente de uma gestão de uma cidade, estado ou país alguém que defende um crime tão perverso de violência contra a mulher. Milhares são assassinadas a todo instante, neste momento tem uma mulher sendo agredida, a gente sai na rua para fazer uma caminhada dessa e muitas das nossas, quando chegar em casa, vai receber pela frente uma porrada de presente”, salienta ‘Tia Má’ se referindo à marcha das mulheres realizada no dia 9 de março em Itaberaba.

Ela também citou o caso da banda New Hit e disse que a violência contra a mulher atinge todas as classes, independente de qual posição social esteja. “E a violência contra a mulher foi igual ao espetáculo das duas garotas [estupradas por membros da New Hit], é extremamente democrática, a violência contra a mulher não tem classe não tem raça, toda mulher é passível de ser vítima de violência, pobre, rica, preta, branca, todas. A diferença é quando você faz um recorte racial e de classe, a violência é mais intensa, é mais perversa”.

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O advogado Leonardo Moscoso é filiado ao PSDB e foi candidato a prefeito nas últimas eleições em Itaberaba | FOTO: Montagem do JC |

A presidente da Associação de Mulheres da Consic, Nalva Nolacio, também foi procurada pelo Jornal da Chapada. Embora seja ligada a grupo político, Nolacio se pronunciou e criticou a postura do político e da Ordem dos Advogados (OAB de Itaberaba), que emitiu nota defendendo o tucano Leonardo Moscoso. “Eu achei um absurdo, uma falta de respeito com as mulheres, porque eu acho que a pessoa que se diz político tem que estar um pouco afastado dessas questões, mesmo que a OAB saia em defesa do advogado, ele deveria ter se resguardado enquanto político. Porque eu acho que isso expõe a figura dele”.

“Creio que as mulheres que presenciaram esse fato, que tiveram a oportunidade de ouvir Laurita falando na rádio, estão indignadas. Mesmo que ele defendesse essa causa, mas que ele não aparecesse, assim evitaria se expor. Então ficou muito feio para a figura política dele, que quer ser um político para administrar uma cidade e ir de encontro às mulheres que hoje são maioria no Brasil”, completa.

Todas as mulheres procuradas pelo Jornal da Chapada apontaram o fortalecimento da Lei Maria da Penha como fundamental no processo contra a violência. “Entendo eu, como estudante de direito, que o advogado tem realmente que defender, a lei diz que todos são inocentes até que se prove o contrário – porém, quando se trata de uma pessoa pública, ela tem que ter responsabilidade com o que ela diz”, aponta uma universitária que preferiu não se identificar.

A polêmica repercutiu na mídia e entre vários profissionais, que se pronunciaram, alguns pessoalmente, outros por meio de rede social. Alguns fizerem questão de enviar seu depoimento técnico sobre o caso. Veja, por exemplo, o que diz a advogada trabalhista Anna Calfa, que atuou por muito tempo na área do Direito da Família.

“É claro que sabemos que o doutor Leonardo Moscoso está exercendo a sua profissão, mas considerando o fato dele ter sido candidato ao cargo de prefeito nas últimas eleições, de uma cidade com uma sociedade desenvolvida e politizada e que se fosse eleito ele iria promover políticas públicas, tanto em favor das mulheres como de outras minorias, não pegou bem defender agressor”.

“Diante dessa situação, eu no lugar dele, não faria esse tipo de defesa, ainda mais, participando da audiência no dia em que comemoramos o Dia Internacional da Mulher. E, apesar dele estar no exercício de sua profissão, devido à posição política, há aí um conflito moral. Se fosse eu, não iria na audiência. E se foi, tem que se submeter à crítica da sociedade”, finaliza a advogada Anna Calfa.

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