Sem enfrentar resistências das autoridades, o Primeiro Comando da Capital (PCC) avança na Amazônia. Principal facção criminosa do país, o PCC já detém as rotas mais lucrativas do tráfico de drogas, trazendo maconha do Paraguai e cocaína da Bolívia. Figuras importantes da organização inclusive operam nesses dois países, diminuindo cada vez mais a distância entre a produção e o transporte, aumentando as margens de lucro a cada entreposto.
A situação de disputa das rotas do tráfico na Amazônia, majoritariamente pelos rios Solimões e Japurá, leva autoridades brasileiras a temer que o futuro possa trazer algo que nem Pablo Escobar conseguiu produzir: um cartel de tráfico de drogas transnacional – informalmente já chamado de “Narcosul”.
O principal adversário para a consolidação do plano internacional e ousado do PCC atende por outras três letras. É a FDN, abreviação da Família do Norte, ainda presente como grupo majoritário na região Norte do Brasil, responsável por grande parte dos carregamentos de maconha peruana e cocaína colombiana que chegam a Manaus, para depois seguir para os portos de Belém e Fortaleza e ser embarcada para o exterior.
Segundo as autoridades, o PCC parece não ter pressa em tomar o controle da FDN na região. Contudo, a articulação já está em andamento e a primeira prova disso foi a rebelião que resultou na morte de 56 presos no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, em janeiro de 2017. A polícia concluiu que foi resultado da disputa entre FDN e PCC pelo controle da unidade.
Na capital do Amazonas, Manaus, foram registrados 530 homicídios no primeiro semestre deste ano, grande parte deles com características de execução. A Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) divulgou que houve uma redução de 11,2% em relação ao mesmo período do ano passado, mas não considerou o massacre do Compaj nesse dado.
A reportagem da Sputnik Brasil esteve em Manaus tentou ouvir o secretário de Segurança do Amazonas, Anézio Paiva, mas não obteve retorno da assessoria de imprensa da pasta. De acordo com o Ministério Público do Estado do Amazonas (MP-AM) e a Polícia Civil, a briga pelo tráfico de drogas é a principal causa de tantos assassinatos em Manaus.
“O tráfico de drogas é hoje o vetor de todos os crimes que acontecem na cidade [de Manaus]. Você pode ter certeza que a moeda de troca, a riqueza das facções criminosas, elas vêm do tráfico de drogas. Nós estamos aqui em uma posição estratégica, onde temos acesso à fronteira do Peru e à fronteira da Colômbia, com as rotas fluviais da maconha skunk e da cocaína, da pasta base de cocaína com alto grau de pureza”, contou o delegado do Departamento de Investigação sobre Narcóticos (Denarc), Paulo Mavignier.
Os objetivos do PCC ao monopolizar o tráfico de drogas no Brasil e avançar pela América do Sul seria a consolidação do Narcosul. Algo que nem mesmo o mais notório traficante sul-americano, o colombiano Pablo Escobar, teve o interesse ou audácia de tentar. A violência rumo ao futuro, porém, está mais próxima ao que se vê em 2018 no México do que aquela que se via na Colômbia no século passado. Jornal da Chapada com informações de Sputinik News.