Durante três dias, de 17 a 19 de outubro, agentes de viagem e profissionais do setor do turismo da Chapada Diamantina puderam vivenciar a diversidade e o potencial turístico no entorno dos assentamentos rurais de Itaetê, localizada no sul do Parque Nacional. O roteiro experimental faz parte do projeto “Integrando iniciativas de Turismo de Base Comunitária (TBC) com o Parque Nacional da Chapada Diamantina (PNCD) e Parque Natural Municipal de Andaraí – Rota das Cachoeiras”, que está sendo executado pelo ICMBio e tem como premissa o desenvolvimento turístico regional, baseado na cooperação entre entidades do poder público, comunidades, ONGs e trade do território.
O projeto irá criar, de forma participativa, produtos turísticos voltados para agências e visitantes que integrem o patrimônio cultural e natural, gerando desenvolvimento e renda para as comunidades residentes no entorno destas unidades de conservação. Nesta etapa, o intuito foi apresentar as principais possibilidades de passeios existentes na região e colher a opinião dos profissionais convidados sobre os atrativos e os serviços turísticos oferecidos. “A partir das contribuições levantadas, iremos aperfeiçoar a proposta e apoiar a formatação de roteiros viáveis comercialmente”, explica Marcela de Marins, analista ambiental do ICMBio.
Diferente dos produtos turísticos convencionais oferecidos na região, na proposta apresentada os cânions imponentes da Chapada Diamantina foram o plano de fundo para que a troca de experiências entre visitantes e moradores protagonizasse a cena. O que fez a viagem superar a expectativa da maioria dos convidados, até mesmo os que já conheciam os atrativos naturais da região, como o agente de viagens Noábio Xavier, da empresa Extreme South, de Ibicoara. “O que eu vivi nesses dias foi algo inédito”, ressalta.
Um dos pontos altos do roteiro ficou a cargo de experiências genuínas unidas a hospitalidade típica do interior, como raspar o tacho do doce, colher a fruta do pé e degustar um cafezinho artesanal. Essa diversidade da Chapada Diamantina permite a formatação de roteiros autênticos para diferentes perfis de público, destaca Pablo Guerreiro, da agência de turismo Extreme Ecoadventure, de Lençóis. Para ele, “o Turismo de Base Comunitária é uma novidade diferenciada que nos dá a oportunidade de aprimorar ainda mais o destino Chapada Diamantina, direcionando melhor cada visitante para o roteiro que mais almeja”.
Atrativos visitados
O roteiro buscou contemplar um pouco de toda multiplicidade de atrativos da região, incluindo atrativos de Itaetê, Andaraí e Nova Redenção localizados em áreas naturais particulares, assentamentos rurais, Parque Nacional e Municipal. Foram visitados desde atrativos famosos, como o Poço Azul e Encantado, até locais pouco visitados, como a Gruta Lapa do Bode e a Cachoeira Bom Jardim, esta última localizada no limite entres as unidades de conservação abrangidas no projeto.
Essas visitas foram mescladas com refeições e hospedagens na casa de moradores, visita a casa de farinha, fábrica artesanal de rapadura, hortas agroecológicas e apresentações culturais de reisado e capoeira na casa de cultura Rosa Preta, localizada na sede de Itaetê. Além do modo de vida tradicional do campo, as comunidades rurais do projeto, Rosely Nunes, Europa e Baixão, possuem o diferencial de serem assentamentos de reforma agrária do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), agregando à experiência conhecimento sobre organização social e democratização da terra.
“Conhecer esses assentamentos simplesmente mudou a minha vida. Vi pessoas felizes, unidas, dinâmicas e organizadas, convivendo em harmonia com a natureza e produzindo alimento para toda região”, declarou Tulio Saraiva, fotógrafo e membro do trade turístico de Lençóis. Esse sentimento foi compartilhado pelo grupo e está entre os objetivos do Turismo de Base Comunitária, que é estabelecer conexões verdadeiras entre as pessoas e, assim, dirimir estereótipos, contribuindo para a construção de uma sociedade mais harmônica.
Turismo de Base comunitária
O projeto visa também criar canais de comercialização via comunidades e agências, uma ação que requer a real integração entre todos os prestadores de serviços, por isso, uma das finalidades da viagem foi promover a comunicação e a parceria entre os comunitários e o trade turístico de Andaraí, Ibicoara e Lençóis. A construção dessa rede é de suma importância para que o TBC realmente aconteça, já que “ele não se trata de um segmento e, sim, de um modelo de gestão da visitação protagonizado pela comunidade”, frisa Alberto Viana, analista do INCRA.
A primeira experiência do trabalho de base foi bem sucedida e deixou expectativa positiva em quem recebeu os visitantes. “Nós estamos nos preparando há muito tempo para momentos como esse e desejamos continuar mostrando, da melhor forma possível, o diferencial de um assentamento e a beleza que é viver no campo”, conta Vera Lúcia de Oliveira, moradora do Baixão e colaboradora da pousada comunitária que existe no local. Na viagem também estiveram presentes representantes do poder público de Andaraí e Itaetê, INCRA, Conselho Consultivo do Parque Nacional e Câmara Técnica de Turismo do Circuito do Diamante.
O projeto
O projeto foi dividido em três etapas: produção de inventário e diagnóstico do turismo local; elaboração do produto e comercialização. Todas as suas ações estão sendo realizadas com base em metodologias participativas. Ele foi aprovado pelo Parque Nacional da Chapada Diamantina em edital lançado pelo ICMBio, no ano passado, destinado as unidades de conservação (UCs) federais. No Brasil, estão sendo executados mais sete projetos semelhantes que irão compor um caderno de experiências em TBC do instituto. As informações são do ICMBio.