Um dos principais líderes indígenas do país, Rosivaldo Ferreira da Silva, conhecido como cacique Babau, 44 anos, pediu ao Governo da Bahia e ao Ministério Público Federal proteção para sua família, após ter recebido informações sobre um suposto plano de assassinatos no sul da Bahia. Babau é líder na Terra Indígena Tupinambá, de 47 mil hectares, localizada entre os municípios de Ilhéus, Una e Buerarema, na qual vivem mais de 4.600 indígenas. A terra já foi identificada e delimitada pela Fundação Nacional do Índio (Funai) há dez anos, mas seu processo de demarcação está parado desde 2016 à espera da etapa seguinte (e uma das últimas), a publicação da portaria declaratória pelo Ministério da Justiça.
Segundo Babau, a informação sobre assassinatos chegou a ele no final de janeiro. De acordo com uma fonte dos índios, reuniões em Itabuna (BA) entre fazendeiros e policiais civis e militares discutiram uma forma de incriminar falsamente índios com o tráfico de drogas e inventar uma troca de tiros para matar três irmãos de Babau e duas sobrinhas. Segundo o plano, os índios seriam parados em uma blitz de trânsito, e drogas e armas seriam “plantadas” nos carros e divulgadas a emissoras de rádio e TV da região. O relato detalhado sobre a rotina dos indígenas convenceu Babau da veracidade das informações.
“Nós somos tupinambás, não temos medo da morte. O que nos revolta é falar que eles vão sujar o nome da gente. A gente vive a vida toda sem fazer nada [errado] e na hora da morte vão dizer que você é traficante? Aí, não. Essa é a nossa revolta principal. É matar a pessoa duas vezes”, disse o cacique. “Nós somos contra o tráfico de drogas e abrimos a aldeia para a Polícia Federal investigar se tem um só índio envolvido. Não bebemos, se tem dez pessoas que fumam é muito, e é cigarro comum”, disse Babau.
A testemunha disse ter ouvido que o grupo iria recrutar policiais de fora de Itabuna. A partir das primeiras informações, os indígenas coletaram imagens de câmeras de segurança que indicaram que uma sobrinha de Babau foi perseguida por um carro com placas de Salvador. Babau também procurou os órgãos de segurança da Bahia, que prometeram tomar providências. O cacique lidera desde o ano 2000 um movimento pela demarcação de terra indígena. Na mesma região, em 1680 os jesuítas criaram um aldeamento indígena. Seus antepassados teriam sido os mesmos do primeiro contato com os portugueses em 1500. Houve um longo processo de espoliação e perda de territórios dos índios, documentado e relatado por antropólogos e historiadores.
De 2000 para cá, Babau foi preso pelo menos quatro vezes, tendo passado ao todo mais de seis meses em presídios estaduais e federais durante os governos Lula (2004-2010) e Dilma (2011-2016), sob a acusação de liderar indígenas em invasões, processo que os tupinambás chamaram de “retomada” de suas terras. Em 2014, durante o governo Dilma, Babau foi preso em Brasília pela Polícia Federal poucos dias antes de embarcar para Roma, na Itália, onde teria um encontro com o papa Francisco na companhia de uma equipe da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Babau iria representar, na audiência, os povos indígenas brasileiros. Jornal da Chapada com informações de Folha.