No primeiro trimestre deste ano, nenhum setor da economia brasileira contratou, de acordo com a pesquisa Pnad Contínua do IBGE. A falta de disposição do empresariado para abrir vagas elevou o número de desempregados para 13,4 milhões e fez a taxa de desemprego subir a 12,7%. A renda do trabalhador também não apresentou melhora: o único grupo cuja renda teve alta nesse começo de ano foi o de trabalhadores domésticos, em razão do reajuste do salário mínimo, aplicado em janeiro.
Os 13,4 milhões de desempregados são o maior número desde o primeiro trimestre do ano passado (13,6 milhões). Em relação aos últimos três meses de 2018, houve acréscimo de 1,2 milhão de pessoas a esse grupo, alta de 10,2%. A taxa de desemprego é igualmente a maior desde os três primeiros meses de 2018, quando ficou em 13,1%. No último trimestre do ano passado, a taxa havia ficado em 11,6%.
“Sempre na passagem do 4º trimestre para o 1º trimestre há dispensa de trabalhadores temporários contratados no fim de ano. Essa redução aconteceu este ano também. Mas ela poderia ter sido menor por conta do processo de melhora do mercado de trabalho em 2018, quando muitas pessoas conseguiram uma ocupação na informalidade. Estamos com um começo de 2019 muito parecido com o de 2018 em termos de volume de desempregados”, explicou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.
Setor público faz maior corte de vagas
O maior corte de vagas foi na administração publica, com menos 332 mil vagas. Houve queda de emprego também na construção civil, com 288 mil postos fechados. O emprego ficou estável na agricultura, na indústria, no comércio, no transporte, no alojamento, na informação em outros serviços e no serviço doméstico. “A construção é bastante atingida pela sazonalidade nesse período. As pessoas que são demitidas não têm escolaridade. São pedreiros e serventes, responsáveis por pequenos reparos. Não são trabalhadores de grandes obras”, disse o coordenador do IBGE.
Rendimento não cresce
Na administração pública, afirmou Cimar, as dispensas são de trabalhadores temporários contratados sem carteira. Nesse começo de ano, praticamente metade desses desligamentos foram de professoras que, anualmente, são contratadas para trabalho de março a dezembro. O rendimento médio real habitual, estimado em R$ 2.291, está estável há quase dois anos, desde o segundo trimestre de 2017. A massa de rendimentos, que representa a soma das rendas de todos os trabalhadores e é determinante para a economia do país, foi estimada em R$ 205,3 bilhões – estabilidade em relação ao fim do ano passado e alta de 3,3% em relação a um ano antes.
O único grupo cuja renda teve alta nesse começo de ano foi o de trabalhadores domésticos, acréscimo de 2,3% em relação à renda do fim do ano passado, para R$ 909, em razão do reajuste do salário mínimo aplicado em janeiro. A renda média real do servidor público também teve alta, de 2,2%, para R$ 3.706. Mas, segundo Cimar Azeredo, a média ficou maior porque no início de ano a administração pública desliga os contratados temporariamente, que geralmente têm salários mais baixos.
Entenda os números
13,4 milhões de desempregados
São os brasileiros que buscaram uma vaga na semana da pesquisa do IBGE mas não encontraram.
4,8 milhões de desalentados
São os trabalhadores que estão desempregados mas nem procuraram vaga na semana. Inclui quem se acha muito jovem, muito idoso, pouco experiente, sem qualificação ou acredita que não encontrará oportunidade no local onde reside. O número de desalentados é influenciado por vários fatores, até por notícias relacionadas à crise. Parte das pessoas que tem contato com informações sobre aumento de número de desempregados simplesmente desiste de procurar. O número se manteve recorde em fevereiro.
6,8 milhões de subocupados
São brasileiros que fizeram algum tipo de trabalho, mas que dedicaram menos de 40 horas semanais a isso e gostariam de trabalhar por um período maior. Um profissional freelancer ou alguém que faça bicos e não está conseguindo muitos trabalhos se encaixa nessa situação.
28,3 milhões de trabalhadores subutilizados
Este grupo inclui, além dos desempregados, os desalentados, os subocupados por insuficiência de horas trabalhadas e ainda a força de trabalho potencial. Com 8,1 milhões de brasileiros nessas condições em fevereiro, a força de trabalho potencial considera duas situações: 1) quem procurou uma vaga mas, por algum motivo qualquer (como, por exemplo, cuidar de um parente doente), não estava disponível para trabalhar na semana da pesquisa do IBGE; 2) quem não procurou uma vaga, mas estava disponível para trabalhar na semana de referência.
65,3 milhões fora da força de trabalho
São pessoas em idade ativa, ou seja, com mais de 14 anos, mas que não estavam trabalhando nem buscando emprego. Em momentos de crise prolongada de emprego, além de aumentar o desalento, costuma crescer também o número de pessoas fora da força de trabalho. As informações são da Agência Globo.