Um grupo de 19 padres e acadêmicos conservadores católicos pediu aos bispos que denunciem o Papa Francisco como herege. Essa é a mais recente ofensiva de setores ultraconservadores da Igreja que se opõem às posições do Pontífice em temas como comunhão para divorciados e diversidade religiosa. Endereçada aos bispos católicos, a carta diz que “assim, pedimos que Vossas Reverendíssimas urgentemente lidem com a situação da adesão pública do Papa Francisco à heresia”. Ela também pede que os clérigos “advirtam publicamente o Papa Francisco a abjurar as heresias que professou”.
“Tomamos esta medida como último recurso para responder ao prejuízo acumulado causado pelas palavras e ações do Papa Francisco ao longo de vários anos, que deram origem a uma das piores crises da História da Igreja Católica”, escreveram em uma carta aberta de 20 páginas. O texto ataca Francisco por supostamente amolecer a posição da Igreja em uma série de assuntos. Os autores dizem que ele não tem se declarado abertamente o bastante contra o aborto, tem sido muito hospitaleiro aos homossexuais e tolerante demais com protestantes e muçulmanos.
A carta foi publicada na última terça-feira (30) no LifeSiteNews, um site católico conservador que frequentemente é usado como plataforma para ataques ao Papa. No ano passado, o site divulgou um documento de um ex-embaixador do Vaticano em Washington, o arcebispo Carlo Maria Vigano, pedindo a renúncia do Papa. Um porta-voz do Vaticano não quis comentar a carta, que inclui dezenas de notas de rodapé, versículos da Bíblia, pronunciamentos de vários Papas anteriores, e uma bibliografia em separado.
Decidir se um integrante da Igreja é herege é responsabilidade da Congregação para a Doutrina da Fé, o departamento de fiscalização da doutrina do Vaticano. Massimo Faggioli, um conhecido professor de História da teologia da Universidade Villanova, nos EUA, diz que a carta é um exemplo da polarização extrema que a Igreja enfrenta. “Há um apoio acachapante a Francisco pela Igreja global de um lado, e uma minúscula periferia de extremistas tentando mostrar Francisco como um Papa herege. O problema é que há poucas críticas legítimas e construtivas do pontificado de Francisco e sua teologia”, disse.
Uma parte significativa da carta se concentra na “Amoris Laetitia” (“A alegria do amor”, em tradução livre), um documento papal de 2016 que é que é base da tentativa de Francisco de fazer da Igreja de 1,3 bilhão de fiéis mais inclusiva e menos condenadora. Nele, Francisco pede por uma Igreja menos restritiva e mais compassiva em relação ao qualquer integrante “imperfeito”, como aqueles que se divorciam e posteriormente casam novamente em cerimônias civis.
Depois que a “Amoris Laetitia” foi publicada, quatro figuras conservadoras da Igreja desafiaram publicamente o Papa, acusando-o de semear a confusão em questões morais importantes. O Pontífice até agora não respondeu a suas demandas para esclarecer as dúvidas quanto à questão. A nova carta lista páginas do que chama de “evidências do Papa Francisco ser culpado do delito de heresia”. Ela o ataca por ter certa vez dito que as intenções de Martinho Lutero, “pai” da Reforma Protestante, “não estavam equivocadas”. Ela também diz que o Pontífice não condenou forte o suficiente o aborto, e tem sido leniente com católicos homossexuais. Jornal da Chapada com informações do jornal O Globo.