Em 1986, Christopher Knight entrou, aos 20 anos, em uma floresta na zona rural do Maine, no Nordeste dos Estados Unidos. Ele abandonou seu carro e, com alguns suprimentos básicos para o acampamento, entrou na floresta e não saiu dali por 27 anos. Depois de decidir “se perder”, Knight encontrou o local que se tornaria sua casa: uma pequena clareira próxima a um lago chamado North Pond. Ele abriu uma lona entre as árvores, ergueu sua pequena tenda de nylon e se acomodou.
Knight ficava completamente escondido, apesar de estar a poucos minutos, a pé, de uma das centenas de cabines de verão que ficam espalhadas na área. Ele sobreviveu invadindo essas cabanas e um centro comunitário, onde roubava suprimentos. Ele pegava comida, combustível, roupas, botas, baterias e livros. Knight afirma ter tentado causar o menor dano possível, mas o grande número de furtos (mais de mil ao longo dos anos) incomodou alguns dos proprietários desses locais. Foi quando, finalmente, a polícia preparou uma armadilha e deteve Knight em flagrante em 2013.
Por que
O escritor Mike Finkel visitou Knight na prisão para escrever o livro The Stranger in the Woods: The Extraordinary Story of the Last True Hermit (O estranho na floresta: A extraordinária história do último eremita verdadeiro, em tradução livre). E fez as perguntas necessárias: Por quê? Qual era a razão para virar as costas ao mundo e ir viver em completa solidão?
“Chris Knight disse que se sentia muito desconfortável perto de outras pessoas. Inicialmente, pensei que poderia ter sido uma ação específica que o motivou, e perguntei a ele: ‘você cometeu algum crime? Havia algo de que você tinha vergonha?'”, conta Finkel. “Ele insistiu que não havia nada disso. Disse que o impulso de ficar sozinho era como uma força gravitacional e que seu corpo inteiro dizia que se sentia mais confortável sozinho”.
Esse impulso foi tão forte que ele passou quase três décadas sem falar com ninguém. Ou quase ninguém: disse “oi” para um turista que caminhava e cruzou com ele um dia. Apesar dos invernos rigorosos do Maine, onde as temperaturas podem cair para até 20°C negativos, Knight diz que nunca acendeu um fogo para evitar que a fumaça chamasse atenção.
“Se eu passasse uma noite no bosque do Maine no inverno, acampando em uma tenda de nylon de paredes finas e não acendesse uma fogueira, ficaria muito surpreso. Se fizesse isso por uma semana, ficaria chocado. Um mês, seria incrível. Esse cara fez isso por 27 invernos inteiros”, diz Finkel. Como então ele se aquecia? Knight ia dormir cedo, por volta das 19h, e programava um alarme para as 3h, a hora mais fria da noite, a fim de se aquecer enquanto caminhava até o amanhecer.
O que fez durante todo esse tempo?
“Durante um período, ele leu alguns livros, fez palavras cruzadas… Mas, na realidade, não ocupou a maior parte do tempo. O que ele fez foi o que poderíamos chamar de ‘nada'”, relata Finkel. Se a ideia de ficar sozinho por meia hora, sem nada para fazer, parece um pouco assustadora, tente imaginar como seria se confinar numa pequena clareira na floresta, durante dias, semanas, meses, anos, décadas.
Mas como Knight via esse “nada”? “Primeiro, ele nunca teve um momento entediado, durante os 27 anos. Ele diz que nunca se sentiu sozinho. Disse que era quase o oposto, que sentia total e intrinsecamente ligado a tudo no mundo. Era difícil dizer onde terminava seu corpo e começava a floresta. E que sentiu uma total comunhão com a natureza e o mundo exterior”. Jornal da Chapada com informações da BBC.