O mês de julho foi de perplexidade para os estudiosos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). É que os dados coletados pelo instituto mostram que os alertas do desmatamento dispararam em julho, são 2.254,9 km². No mesmo mês em 2018, esse índice ficou em 596,6 km². Comparando ambos os lados, trata-se de um aumento de 304%. Há, segundo ambientalistas, uma escalada na devastação da Amazônia. Junho de 2019 teve uma área com alerta de desmate 90,8% maior do que o mesmo mês em 2018. O mesmo índice cresceu 34%, se comparados os meses de maio deste ano e do ano passado.
A medição é realizada pela ferramenta Deter (Detecção de Desmatamento em Tempo Real), cuja principal função é sinalizar áreas de devastação da floresta para órgãos de fiscalização ambiental, como o Ibama . No entanto, embora o cálculo do desmatamento não esteja entre suas funções, historicamente as tendências apontadas pelo sistema são refletidas no Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia (Prodes), divulgado anualmente. No mês passado, o governo demonstrou irritação com os números averiguados pelo Deter. O presidente Jair Bolsonaro (PSL) condenou o então presidente do Inpe, o físico Ricardo Galvão, por divulgá-los sem consulta prévia ao Planalto.
Galvão foi exonerado na semana passada pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes. “O número de alertas e áreas afetadas aumentaram substancialmente”, alerta Galvão. Vale lembrar que, nos últimos 13 anos, o Prodes detectou índices de desmatamento ainda maiores do que os vistos pelo Deter. A prévia dos índices do Prodes, referentes ao período entre agosto de 2018 e julho de 2019, deve ser anunciada em outubro. Secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl acredita que o desmatamento crescerá de uma forma “gritante”.
“O Prodes tem imagens mais refinadas, que mostrarão que a área desmatada é maior do que conhecemos”, pondera. Até agora, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, apontou eventuais falhas no Deter , mas não disse que operações serão feitas para conter o desmatamento, que resultados quer atingir e como fortalecerá o Ibama, que é o responsável por controlar o início do desflorestamento.
Coordenador de Políticas Públicas do Greenpeace, Marcio Astrini avalia que a Amazônia está sob a tutela do “crime organizado”. “Não é um desmatamento realizado por pequenos agricultores. São grileiros que atingem grandes áreas, inclusive terras indígenas”, critica. “O discurso do governo está dando impulso para quem devasta a floresta. Nosso medo é que o desmatamento não só aumente, como esteja começando a explodir”, finalizou. O Ministério do Meio Ambiente não respondeu aos pedidos de entrevista. Jornal da Chapada com informações do jornal O Globo.