Por Clay Brites*
Quando um bebê nasce é um momento de muita alegria para a família. Mas com o passar dos meses, os pais percebem que a criança não apresenta comportamentos que normalmente são esperados por essa fase da vida. Mesmo bem pequeno, é possível, por exemplo, notar alguns sintomas de que se trata do Transtorno do Espectro Autista (TEA).
O autismo pode ser detectado nos primeiros meses até os dois anos após o nascimento. Nesse período, consegue-se avaliar com segurança vários aspectos de sua percepção social. Por exemplo, um dos indícios do autismo em crianças são ausência ou pequeno contato visual e pouca resposta ao chamado do cuidador.
Além disso, nota-se a preferência da criança por querer permanecer no berço com pouco interesse social ou até mesmo nenhum, não balbucia até os seis meses de vida. Pode-se observar ainda a perda ou regressão da fala ou dos gestos sociais que fazia, atraso na aquisição da linguagem verbal e não verbal, movimentos repetitivos, hiperfoco nas mãos das pessoas, e não nos olhos, irritabilidade e choro frequente.
Vale ressaltar ainda que o TEA acontece em diferentes graus, leve, moderado e severo. A intensidade é definida a partir do grau de autonomia, dos atrasos ou não de linguagem e da capacidade de se integrar e conduzir atividades sociais no dia-a-dia.
Mas será mesmo que é importante observar os sintomas para um diagnóstico precoce? A resposta é: sim. Descobrir o autismo cedo permite com que as ações de intervenção sejam mais eficazes. Isso acontece, porque o cérebro está mais permeável e aberto para ser modificado. Dessa forma, é possível reduzir os sintomas e o atraso de desenvolvimento gerados pelo transtorno.
As evidências científicas mostram que intervenções desenvolvimentais e comportamentais antes dos três anos modificam de forma mais intensa e definitiva sintomas disruptivos e atrasos de linguagem. Ainda ajuda a preservar o nível cognitivo e intelectual.
Com as intervenções sistematizadas e intensas logo nos primeiros meses ou anos de vida, pode-se reparar a redução dos atrasos e dos desvios de linguagem e comportamento com o passar do tempo. O propósito de todo esse trabalho é sempre amenizar atrasos na comunicação social, avançar na atenção social e diminuir comportamentos difíceis. Por esse motivo, é fundamental o diagnóstico correto o quanto antes.
Outro cuidado que se deve ter são com as “receitas milagrosas” e falsos conselhos de quem não estudou sobre isso. Não fique ouvindo parentes, vizinhos ou opiniões ventiladas por pessoas que nada conhecem acerca do tema. Eles não vão acrescentar em nada. Pelo contrário, vão atrapalhar o desenvolvimento da criança.
Portanto, procure sempre um especialista que tenha ampla e longa experiência no atendimento de pessoas com autismo. Não tenha medo de buscar tratamento correto. Há equipes de intervenção capacitadas nas melhores práticas e que sabem atuar de forma integrada com a família e a escola. Apesar do autismo não ter cura, é possível conviver com o transtorno e ainda ajudar seu filho a superar os desafios do TEA.
*Clay Brites é pediatra e neurologista infantil, um dos fundadores do Instituto NeuroSaber e coautor, com Luciana Brites, do livro “Mentes Únicas”, que aborda de maneira ampla o autismo.