O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, criticou a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) , na última quarta-feira (25), durante seu primeiro discurso diante da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. “Denunciamos o encarceramento com fins políticos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a decisão de impedir o povo de voltar a eleger para a presidência o líder mais popular do Brasil”, disse Díaz-Canel.
Ele substituiu Raúl Castro no comando do governo cubano em abril, marcando o fim de quase seis décadas da era Castro. A defesa ao petista, preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba após ser condenado por corrupção e impedido de disputar as eleições de outubro com base na Ficha Limpa, fez parte de uma série acusações de Díaz-Canel sobre intervenções que estariam ocorrendo em países latino-americanos.
O presidente cubano citou, especificamente, os casos de Venezuela e Nicarágua. “Neste contexto ameaçador, queremos reiterar nosso absoluto apoio à revolução bolivariana chavista, à união cívico-militar do povo venezuelano e ao seu governo legítimo e democrático, conduzido pelo presidente constitucional Nicolás Maduro. Rechaçamos as tentativas de intervenção contra a Venezuela, que buscam asfixiá-la economicamente e prejudicar as famílias venezuelanas”, afirmou Díaz-Canel.
No discurso, o presidente cubano afirmou também que dará continuidade às ideias políticas de Fidel Castro. Emocionado por discursar na mesma tribuna em que o antigo líder cubano falou pela primeira vez ao mundo há 58 anos, Díaz-Canel ressaltou que a maioria da população cubana quer dar sequência à obra de Castro. “A mudança geracional no nosso governo não deve enganar os inimigos da revolução. Somos continuidade e não ruptura”, afirmou.
Ele destacou que está convencido que a reforma da Constituição, que será votada em referendo, ratificará o “caráter irrevogável” do socialismo na ilha. O projeto substituirá o texto vigente desde 1976, que foi influenciado pela União Soviética. Entre as mudanças mais relevantes estão a eliminação de referências ao comunismo, o reconhecimento da propriedade privada, a criação do cargo de um primeiro-ministro e a modificação da definição de casamento, que abre a porta para a legalização das uniões homossexuais.
Críticas aos Estados Unidos
Díaz-Canel pediu ainda o fim do embargo dos Estados Unidos e culpou a postura assumida por Donald Trump pelos retrocessos nas relações entre os EUA e Cuba. “O governo americano se dedicou a fabricar artificialmente, sob falsos pretextos, cenários de tensão e hostilidade que não beneficiam ninguém”, afirmou.
Para Díaz-Canel, o embargo continua sendo o elemento que define a relação entre Cuba e EUA. No entanto, segundo o presidente cubano, a atuação americana está indo mais longe, promovendo também programas públicos e secretos para tentar intervir nos assuntos da ilha. Os EUA seguiram como principal alvo das críticas de Díaz-Canel ao abordar questões comerciais.
O presidente cubano criticou as “medidas punitivas” de Trump contra China, União Europeia e outros governos, alertando que elas prejudicarão especialmente os países em desenvolvimento.
Díaz-Canel aproveitou para responder um comentário feito por Trump em seu discurso. Na terça-feira, o presidente americano havia atribuído a fome e a pobreza ao socialismo. “Elas são consequência do capitalismo. Que ninguém se engane que a humanidade não tem recursos materiais, financeiros e tecnológicos para erradicar a pobreza, a fome, as doenças que podem ser prevenidas e outros flagelos”, disse Díaz-Canel, apontando que as principais economias do mundo gastam 1,74 trilhão de dólares em despesas militares. Jornal da Chapada com informações do site Deutsche Welle.