Quase sete meses depois de uma gafe da Nasa (Agência Espacial Norte-americana), as astronautas Jessica Meir e Christina Koch protagonizaram na última semana a histórica primeira caminhada espacial 100% feminina. A missão começou perto das 8h40 (horário de Brasília) e foi transmitida pela Nasa ao vivo, durando até às 15h55. Meir e Koch deixaram a Estação Espacial Internacional (ISS) para trocar uma peça que quebrou no último fim de semana.
Chamada de unidade de carga/descarga de bateria, a peça faz parte do sistema de energia da estação, mas a falha não comprometia a atuação da tripulação que trabalha na órbita terrestre. A missão durou sete horas e 17 minutos. Foi a primeira caminhada de Jessica Meir e a quarta de Koch, que já acumulou 27 horas e 48 minutos no espaço ao longo de quatro saídas da ISS para missões.
O feito realizado pela dupla era esperado para o final de março, quando Koch e outra astronauta, Anne McClain —que retornou à Terra em junho— sairiam da ISS juntas. O plano não deu certo porque não havia trajes espaciais do tamanho adequado para equipá-las com segurança.
Longo caminho
Se você tem curiosidade para saber o que Meir e Koch fizeram até chegarem à Estação Espacial Internacional, antecipamos que foram caminhos longos, ricos e bem diferentes. Ambas foram selecionadas como astronautas da agência em 2013 e a trajetória de Christina Koch talvez seja a mais tradicional, por estar sempre ligada às ciências exatas. Hoje com 40 anos, ela cresceu na Carolina do Norte e lá concluiu o colégio, com estudos focados em ciências e matemática, e entrou na universidade NC State. Desta instituição, Koch se tornou mestre em engenharia elétrica e bacharel em física.
Jessica Meir, 42 anos, começou a vida acadêmica com um título de bacharel em artes em biologia, obtido na prestigiada Brown University (da mesma “liga” de Harvard). A academia levou a bióloga a uma área completamente distinta no mestrado: Estudos Espaciais na Universidade Espacial Internacional, sediada na França. Ela não parou por aí, afinal se tornou doutora em Biologia Marinha pela UC San Diego.
O primeiro contato com a Nasa Os estudos podem diferenciar as primeiras mulheres a realizarem uma caminhada espacial juntas, mas o vínculo das duas com a Nasa começou muitos anos antes de elas serem selecionadas juntas para a 21ª turma de astronautas da agência. Dois anos mais velha, Meir começou os trabalhos relacionados à agência espacial mais cedo, em 2000.
Usando seus conhecimentos em biologia, combinados com os estudos espaciais, ela trabalhou com pesquisa de fisiologia humana no —hoje finado— programa de ônibus espacial e na Estação Espacial Internacional. Na mesma época, Meir estudou experimentos da Nasa em voos de aeronaves com gravidade reduzida e participou da tripulação do submarino Aquarius na quarta edição das Missões de Operações de Ambientes Extremos, em 2002.
Koch graduou no programa de academia da Nasa em 2001 e trabalhou como engenheira eletricista no laboratório de astrofísica das altas energias do Goddard Space Flight Center, em Maryland, de 2002 a 2004. Lá ela contribuiu com instrumentos científicos usados em missões da agência espacial, a partir de estudos em cosmologia e astrofísica. Hoje, anos depois, ela se diz “sortuda por estar vivendo dentro de uma maravilha da engenharia”.
Antes do espaço, o mundo Depois dessas primeiras experiências na agência, Meir e Koch seguiram suas carreiras para caminhos bem diversos. Meir foi estudar a fisiologia de mergulho de mamíferos marinhos e pássaros, com foco no Pinguim-imperador, e treinar gansos a voar em túneis de vento para obter medidas fisiológicas em condições adversas de oxigênio. Os dois trabalhos a levaram ao posto de professora assistente em Harvard, onde ela seguiu estudando a fisiologia de animais em ambientes extremos.
A trajetória aventureira colocou-as na mesma turma e culminou com o feito histórico desta sexta. Para Christina Koch, os feitos históricos ainda não acabaram. Após colocá-la em três expedições consecutivas na Estação Espacial Internacional, a Nasa planeja que ela se torne a mulher a ficar mais tempo no espaço. Na estação desde março, ela tem retorno previsto em fevereiro de 2020, após 328 dias na órbita do planeta. Jornal da Chapada com informações de UOL.