As frutas vermelhas, amoras, morangos e framboesas, estão em plena safra na Chapada Diamantina. Antes raras nos campos do Nordeste, estas frutas vermelhas passaram a ser cultivadas em vários municípios da região. Os agricultores já abastecem os principais mercados do país e devem atingir um volume recorde na colheita da safra 2019/2020. “O que a gente percebe é que estas frutas vinham historicamente de outros estados, como Minas Gerais. O agricultor percebeu a facilidade de mercado e a produção vem ganhando cada vez mais importância”, afirmou Augusto Barreto, supervisor de pesquisa agropecuária do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com o IBGE, a produção de morangos, que praticamente nem existia na Bahia em 2006, alcançou 2.837 toneladas em 2017. Os principais produtores estão em Morro do Chapéu e Ibicoara. Já as amoras, conhecidas como blackberry em outros países, têm registrado um crescimento ainda mais espetacular no estado. Segundo estimativas preliminares do Sebrae, mais de 100 toneladas da fruta devem sair das plantações baianas até março do ano que vem. Será uma safra surpreendente, cerca de 20 vezes maior do que a primeira.
Há um ano os agricultores colheram cerca de 5 toneladas. O cultivo se espalha principalmente pela Chapada Sul, entre os municípios de Mucugê, Barra da Estiva, Ibicoara, Novo Horizonte, Boninal e Piatã. Em Barra da Estiva, a área plantada de amoras cresceu 1.150% nos últimos dois anos. Os pomares experimentais da frutinha contavam com cerca de 2 mil plantas em 2018. Agora mais de 25 mil pés estão sendo cultivados por pequenos agricultores familiares do município.
“Foi uma surpresa até para os produtores que aderiram ao cultivo. A rentabilidade é grande e este crescimento auxilia na nossa estratégia de diversificar a economia da região. O mercado está em expansão e a tendência é crescer ainda mais”, afirma Luis Euzébio, secretário de agricultura de Barra da Estiva. Os pomares de amoras começaram a ser expandidos depois que os agricultores perceberam que poderiam cultivá-las associada ao morango, já tradicional no região produtora também de café. Nos últimos dois anos, cerca de 30 produtores rurais do município passaram a cultivar amoras, outros 800 produzem morangos.
Pioneiro
Quem chega ao pequeno povoado de Capaozinho, na zona rural de Mucugê, não precisa andar muito para encontrar os maiores pomares de amoras e framboesas da Bahia. Basta chegar na casa de um dos moradores mais antigos, o agricultor Uvilson Santos Oliveira, para se deparar com um pomar cheio das frutinhas. O local, que tem o sugestivo nome de Sítio Frutas Vermelhas, tem vista para a Serra do Sincorá. Foi nele que o agricultor começou a cultivar amoras de forma experimental em 2017. “Eu só plantava tomate, feijão, abóbora, melancia, cultivos tradicionais. Mas em uma palestra eu ouvi falar sobre a amora e acreditei”, conta o agricultor.
Antes de começar a plantação ele pesquisou na internet, comprou mudas em outros estados, aprendeu a multiplicar os pés e frequentou vários cursos de gestão do Sebrae. O esforço deu certo. O agricultor que também já produzia morangos, passou a cultivar amoras pretas das variedades Tupi e Brazos. O tamanho do plantio triplicou em menos de dois anos, agora já são três mil pés. Incentivado pelo resultado das amoras, o agricultor também foi o pioneiro da Bahia no cultivo de framboesas. Os dois frutos já estão na segunda safra. “A safra está intensa agora. Começamos a colher e vamos seguir retirando frutos do pomar até março”, contou o produtor rural, que faz parte da terceira geração de agricultores da família.
Rota turística
As fazendas que cultivam as frutinhas acabam de integrar um novo roteiro turístico temático da Bahia, a Rota das Frutas Vermelhas. O projeto mistura lavoura com turismo para aumentar a renda de pequenos agricultores. A ação está sendo coordenada pelo Sebrae e já conta com cinco propriedades rurais da Chapada. Através do turismo de experiência quem visita os pomares pode vivenciar a produção agrícola, experimentar as frutas, conhecer de perto a rotina dos agricultores e comprar os alimentos diretamente nas mãos do produtores.
As visitas são guiadas pelos próprios agricultores, que receberam curso de atendimento ao turista. O passeio custa entre R$ 10 e R$ 20 por pessoa, a depender da propriedade. “Existe um potencial enorme. Com esta janela turística muitos agricultores estão conseguindo até escoar a produção ainda no campo, eliminando assim a figura do atravessador que intermediava a comercializarão e acabava ficando com boa parte do lucro”, afirma Heitor Marback, gestor do projeto de Horticultura do Sebrae.
Ciência e técnica
Consideradas de clima temperado, as frutas vermelhas estão sendo cultivadas na Chapada graças ao domínio e ao aprimoramento de técnicas agrícolas. Com a ajuda de engenheiros agrônomos, os produtores estão aproveitando as baixas temperaturas da região, que podem chegar a menos de sete graus, e adaptando métodos de plantio que permitem o cultivo nesta parte do Nordeste.
A estratégia envolve várias ações, entre elas a poda e a desfolha, até o processo de indução e submissão do pomar ao estresse hídrico, um sistema que beneficia a dormência da planta em determinados períodos e a maturação dos frutos em outros. “Esta junção de processos, quando realizada na hora certa, permite a floração uniforme e rentável de uma plantação comercial. Se deixar a planta produzir naturalmente, sem intervenção, ela vai até brotar, mas não na mesma época e com a mesma produtividade”, afirma o engenheiro agrônomo Tiago Sizilio.
A safra se intensifica agora porque as frutas temperadas perdem as folhas na época mais fria, começam a brotar na primavera e podem ser colhidas no verão quando acontece a florada. Os pomares de Mucugê e Barra da Estiva estão gerando até 3 quilos de amoras por planta/safra, uma produtividade considerada alta. Outra vantagem é que a plantação é adensada e não precisa de grandes áreas. Os agricultores da região estão produzindo até 15 toneladas de amoras por hectare. Jornal da Chapada com informações de Correio 24h.