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#Polêmica: Livro encontrado na casa onde miliciano foi morto em Esplanada é chamado de ‘Bíblia dos Psicopatas’

'As 48 Leis do Poder', de Robert Greene, estava entre pertences de Adriano Magalhães | FOTO: Reprodução/Marina Silva/Correio |

Aprenda a usar os inimigos. Diga menos do que o necessário. Faça com que os outros trabalhem por você, mas sempre fique com o crédito. Jogue com a necessidade que as pessoas têm de acreditar em alguma coisa para criar um séquito de devotos. Conquiste corações e mentes. Aniquile totalmente o inimigo. Essas não são orientações aleatórias. As frases são apenas algumas de ‘As 48 Leis do Poder’ (Rocco, 460 páginas, R$64,90), o livro do escritor estadunidense Robert Greene, ou, ainda, o livro que foi encontrado entre os pertences do ex-policial Adriano Magalhães da Nóbrega, 43 anos, morto em uma operação policial, em Esplanada, no Litoral Norte, no dia 9 de fevereiro.

O Correio 24h teve acesso ao imóvel, na última quinta-feira (13), e encontrou, além do livro, remédios, suplementos alimentares, pães e uma garrafa térmica. Adriano era ex-tenente do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) do Rio de Janeiro, corporação em que passou a fazer parte em 1996. No entanto, era apontado como o chefe de uma das maiores milícias cariocas – o Escritório do Crime. Mas, foragido desde o ano passado, quando foi um dos alvos da Operação Intocáveis, deflagrada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, Adriano veio para a Bahia.

E, em seu último esconderijo, uma fazenda na zona rural de Esplanada, ficou o livro, conhecido por alguns como a ‘Bíblia dos Psicopatas’. Para o próprio autor, Robert Greene, trata-se de um “manual das artes da dissimulação”. De acordo com a editora Rocco, que publica As 48 Leis do Poder no Brasil, o livro é o segundo mais popular entre os de autoajuda. Duas décadas depois de ser lançado no país, está entre os 10 mais vendidos da editora.

“As vendas dele cresceram bastante no ano passado justamente pela tendência do crescimento das vendas dos livros de autoajuda”, informa a editora, através da assessoria de comunicação. Entre os fãs da publicação, estão o ator Will Smith, os rappers Jay-Z, Kanye West e Drake, além do empresário Dov Charney, fundador da American Apparel. No Brasil, um dos leitores famosos é o atual governador de São Paulo, João Dória (PSDB-SP).

Adriano Magalhães da Nóbrega, miliciano e chefe do Escritório do Crime | FOTO: Reprodução |

Manipulação
O texto de divulgação discorre justamente sobre o poder. Fala, explicitamente, sobre manipulação. “Todos querem ter poder. Mas poucos sabem o que fazer para alcançá-lo. Como conseguir aquela promoção tão esperada? O que fazer para conquistar a admiração dos colegas e neutralizar quem vive tentando derrubá-lo? Como ser o queridinho do chefe? Em As 48 leis do poder, o leitor aprende a manipular pessoas e situações para alcançar seus objetivos. E descobre por que alguns conseguem ser tão bem-sucedidos, enquanto outros estão sempre sendo passados para trás”, diz o texto enviado à imprensa com a sinopse.

Ao longo do livro, o autor usa fábulas e fatos históricos para discorrer sobre as 48 leis. Usa citações de Sun Tzu, estrategista militar que é autor de A Arte da Guerra, e de O Príncipe, de Nicolau Maquiavel, além de nomes como Friedrich Nietzsche e Honoré de Balzac. Greene diz ter trabalhado em mais de 80 funções diferentes, incluindo roteirista de Hollywood, tradutor e operário de construção civil.

“Acredito que descrevi a realidade como nenhum outro livro tentou descrever”, afirmou Greene, em entrevista ao jornal britânico The Guardian, em 2012. “Eu fui para o lado extremo das propostas literárias porque achava que livros de autoajuda eram muito pegajosos, muito ‘Pollyana’ e nauseantes. Estava me irritando”, completou, citando o clássico infantojuvenil em que a personagem de mesmo nome é famosa pelo otimismo.

Miliciano foi encontrado com quatros armas e 13 celulares | FOTO: Divulgação/SSP-BA |

Entre os livros de autoajuda, é quase como se aqueles como As 48 Leis do Poder sejam um tipo específico. Para o escritor e pesquisador Breno Fernandes, que faz doutorado em Literatura e Cultura pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), é difícil traçar um perfil dos leitores. Normalmente, é um público diversificado. “Mas essa palavra ‘poder’ é muito sedutora para homens, afinal, toda masculinidade tradicional liga o êxito ao poder”, reflete Fernandes.

Alguns pesquisadores acreditam que a autoajuda é mais próxima da filosofia do que normalmente se imagina. Isso porque, como explica Fernandes, os textos filosóficos também eram tomados como uma espécie de manual para viver a vida. “Nos primórdios, a filosofia teve o papel de ajudar a lidar com o cotidiano. Depois é que se transforma em um campo de conhecimento, abstrato”.

Muitos livros de autoajuda, segundo o pesquisador, seguem uma espécie de receita. Isso era uma tradição que também pode ser encontrada na literatura antiga. “Mas citar Maquiavel e Sun Tzu se torna interessante porque esses livros dialogam e o próprio texto ganha um ar de sabedoria ancestral. A gente vê que essa demanda por regras cotidianas é muito forte na sociedade”, completa. A matéria foi extraída na íntegra do Correio 24h.

Saiba quais são as 48 leis do poder, de Robert Greene
1 – Não ofusque o brilho do mestre
2 – Não confie demais nos amigos. Aprenda a usar os inimigos
3 – Oculte suas intenções
4 – Diga menos do que o necessário
5 – Muito depende da reputação – dê a própria vida para defendê-la
6 – Chame a atenção a qualquer preço
7 – Faça com que os outros trabalhem por você mas sempre fique com o crédito
8 – Faça as pessoas virem até você – use uma isca, se for preciso
9 – Vença por suas próprias atitudes. Não discuta
10 – Contágio: evite o infeliz e azarado
11 – Aprenda a manter as pessoas dependentes de você
12 – Use a honestidade e a generosidade seletivas para desarmar sua vítima
13 – Ao pedir ajuda, apele para o egoísmo das pessoas, jamais para sua misericórdia ou gratidão
14 – Banque o amigo. Aja como espião
15 – Aniquile totalmente o inimigo
16 – Use a ausência para aumentar o respeito e a honra
17 – Mantenha os outros em estado latente de terror: cultive uma atmosfera de imprevisibilidade
18 – Não construa fortalezas para se proteger – o isolamento é perigoso
19 – Saiba com quem está lidando – Não ofenda a pessoal errada
20 – Não se comprometa com ninguém
21 – Faça-se de otário para pegar os otários – pareça mais bobo do que o normal
22 – Use a tática da rendição: transforme a fraqueza em poder
23 – Concentre as suas forças
24 – Represente o cortesão perfeito
25 – Recrie-se
26 – Mantenha as mãos limpas
27 – Jogue com a necessidade que as pessoas têm de acreditar em alguma coisa para criar um séquito de devotos
28 – Seja ousado
29 – Planeje até o fim
30 – Faça as suas conquistas parecerem fáceis
31 – Controle as opções: quem dá as cartas é você
32 – Desperte a fantasia das pessoas
33 – Descubra o ponto fraco de cada um
34 – Seja aristocrático ao seu próprio modo: aja como um rei para ser tratado como tal
35 – Domine a arte de saber o tempo certo
36 – Despreze o que não puder ter: ignorar é a melhor vingança
37 – Crie espetáculos atraentes
38 – Pense como quiser, mas comporte-se como os outros
39 – Agite as águas para atrair os peixes
40 – Despreze o que vier de graça
41 – Evite seguir as pegadas de um grande homem
42 – Ataque o pastor e as ovelhas se dispersam
43 – Conquiste corações e mente
44 – Desarme e enfureça com efeito espelho
45 – Pregue a necessidade de mudança, mas não mude muita coisa ao mesmo tempo.
46 – Não pareça perfeito demais
47 – Não ultrapasse a meta estabelecida; na vitória, aprenda a parar
48 – Evite ter uma forma definida

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