O bate-papo do ‘Ponto de Entrevista’ desta semana no Jornal da Chapada é com a única prefeita da Chapada Diamantina. Guilma Soares, do PT, conduz a administração do município de Nova Redenção, com o auxílio de um quadro de servidores aptos para atender as demandas da população rural e urbana em diferentes setores do convívio social. Nesta entrevista, a gestora petista, fala das ações implementadas pelo Comitê de Enfrentamento à Pandemia do novo coronavírus, e das dificuldades políticas e econômicas que a administração ‘Governo da Reconstrução’ vêm enfrentando para impedir que o vírus letal chegue ao município. A crise sanitária ameaça dizimar parte da população mundial com a doença respiratória Covid-19. Confira a entrevista exclusiva com Guilma Soares.
Jornal da Chapada – Prefeita, quais as medidas de prevenção que município de Nova Redenção vem tomando para impedir a chegada do vírus no município?
Guilma Soares – Em meados de março, começamos a tomar as medidas legais, por meio dos decretos, estabelecendo os protocolos recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pelo Ministério da Saúde (MS) e pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesab) como distanciamento e isolamento social, imposição de quarentena às pessoas provenientes de outros estados ou municípios. Criamos também barreiras nas entradas da cidade, fechamos o comércio, suspendemos as aulas da rede municipal de ensino, dentre outras medidas conscientizadoras para a população.
Para esse trabalho, contamos com o prestimoso empenho da secretária de Saúde, Raquel Cruz, e de todos os colaboradores, que, de um jeito ou de outro, vêm contribuindo para manter o vírus fora do nosso município. Temos utilizados todos os recursos operacionais disponíveis, como carro de som, guarda municipal, conselho tutelar e todos os nossos técnicos em saúde, aos quais, quero deixar aqui a minha gratidão. E, graças a Deus, até o momento, temos apenas um caso suspeito (veja aqui) e três casos sob monitoramento constante.
J.C. – Observamos que essa pandemia vem desencadeando um desequilíbrio financeiro no país, por conta do isolamento social, apesar de saber também, que ele é a única medida eficaz para conter o avanço do vírus. Quais as recomendações da prefeitura de Nova Redenção para o comércio, e como os comerciantes têm reagido a essas medidas?
G. S. – Olha, conhecemos de perto as dificuldades do povo, principalmente, dos comerciantes formais e informais. A primeira recomendação é para seguir as orientações sanitárias nos ambientes comerciais. Por exemplo, o uso do álcool em gel, lavar as mãos com água e sabão frequentemente, e agora o uso de máscaras para os seus funcionários e para os clientes.
A pressão do comércio, igrejas e outros seguimentos, sempre existirá, porém, estamos dialogando e buscando a compreensão de todos para esse momento em que o planeta está atravessando. Na oportunidade, reitero que o povo redençoense mantenha a disposições do decreto de só abrir estabelecimento de serviços essenciais, mesmo assim, com todos os cuidados sanitários necessários.
J.C. – Ultimamente o isolamento social em todo o país está sendo relaxado por conta do pagamento de auxílio emergencial aprovado pelo Congresso e disponibilizado pelo governo federal. Quais as medidas que sua administração vem tomando para evitar aglomerações, justamente no período previsto de pico da pandemia no Brasil?
G.S. – É verdade, está difícil controlar a população. E não é para menos, o povo em maior grau de vulnerabilidade socioeconômica tem pressa e essa pressa sobrepõe ao medo do contágio. Estamos tendo problemas porque também não temos um banco no município, só alguns agentes autorizados e a Casa Lotérica – o que propicia o acúmulo de pessoas. Essa situação está muito complicada. Apesar do esforço da Guarda Municipal em manter a ordem, seguindo os protocolos, ainda temos aglomerações. Fica difícil para as pessoas entenderem, já que o dinheiro também é vital para sua sobrevivência neste momento.
J. C. – Que as restrições ao comércio têm ocasionado prejuízos, todos nós sabemos. Porém, relatos históricos falam de efeitos catastróficos durante e depois de uma pandemia sem a quarentena. Ainda mais após uma como essa, onde tudo é novo para a ciência e para os governantes. O que Nova Redenção visa fazer para fortalecimento da economia local após a pandemia?
G.S. – Isso deve ser trabalhado junto com os governos estadual e federal. Vamos tentar manter e incentivar o ‘delivery’ para estabelecimentos não essenciais e fiscalizar os que permanecem abertos para que o impacto seja diminuído. Mas precisamos compreender melhor a economia e como essa crise sanitária vai se desenrolar, até porque lutamos contra dois vírus, um invisível e outro que está instalado no Palácio do Planalto.
Os recursos que podem vir para o município, após aprovação de Programa Federativo de Enfrentamento ao Coronavírus (veja aqui) aprovado pelo Senado Federal e que vai para a sanção presidencial podem ajudar nesta questão da economia. O auxílio financeiro de até R$125 bilhões para estados, Distrito Federal e municípios será fundamental, mas não cobrirá tudo. Vamos montar novas estratégias no decorrer do processo.
J.C. – Sabemos que um município do porte de Nova Redenção recebe muito pouco para manter o Sistema de Atenção Básica à Saúde. A pergunta é: o município tem estrutura para dar os primeiros atendimentos a um paciente de Covid-19?
G. S. – Boa pergunta. Como você bem lembrou, nosso município é de Atenção Básica, portanto, não temos nenhuma estrutura para lidar com a proliferação de casos de Covid-19 – que requer aparelhos de alta complexidade, como respiradores e leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI). Infelizmente, ainda não temos hospitais, não temos leitos, a não ser para uma simples observação, é por isso, que atuamos severamente com as medidas de prevenção.
Se houver um severo caso de Covid-19 no município vamos ter que transportar o paciente, temos ambulâncias para o translado, para as cidades onde temos regulação, como Itaberaba – que também não tem leitos de UTI, e Salvador, distante quase 400 quilômetros. Como já disse, graças a Deus que ainda não surgiu nenhum caso confirmado. Pois, se acontecer vamos ter sérios problemas para atender.
J.C. – A urgência de saúde pública por conta dessa pandemia, tem acirrado brigas políticas por todo o país, já que estamos em ano eleitoral e o prefeito é o mais cobrado. A senhora vai para a reeleição? E a oposição partidária, vem lhe ajudando no combate à Covid-19?
G.S. – É verdade, tudo que acontece durante a pandemia a culpa é do prefeito. Claro, nosso projeto político com certeza vai para a reeleição. Porém, neste momento difícil para todos, sim, porque a Covid-19 não escolhe vítimas, mata situação e oposição, estamos focados em administrar as questões, as urgências de saúde que são graves e que estão assolando todo o planeta. E dou graças a Deus de novo por não ter chegado em Nova Redenção.
Quanto a parte política, estamos acompanhando neste mar de incertezas. A oposição tem vários candidatos, entretanto, em nada ajuda, as vezes atrapalha com críticas descabidas, ‘fake news’, entre outras práticas lamentáveis. Mas a nossa gestão é de trabalho e continua realizando as ações de saúde, sem deixar de dar continuidade ao canteiro de obras que começou desde 2017. Estamos com o grupo político fechado, com vários pré-candidatos a vereador. Temos o apoio do governador Rui Costa (PT) e de lideranças políticas na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal. E estamos só aguardando o desenrolar dos fatos. Se houver eleição em outubro, estamos prontos, senão, vamos estar prontos para quando ocorrer. Quem trabalha, tem muita confiança no pleito.
J.C. – Obrigado prefeita, por nos atender neste momento tão conturbado para todos nós.
G.S. – Eu é que agradeço a oportunidade de falar para o povo de Nova Redenção e da Chapada Diamantina por meio do Jornal da Chapada. Quero dizer, que nosso trabalho não para. Estamos monitorando como se dará o pico da pandemia na região chapadeira, para avaliar se são necessárias outras medidas de contenção mais rígidas do vírus. Há um fato que nos preocupa muito, que é o trânsito de São Paulo para o município. Vamos acompanhar os próximos dias, se necessário for, vamos ter que endurecer com outras medidas de contenção, afinal, nossa obrigação é proteger população.
Jornal da Chapada
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