Além de ter a pandemia como um obstáculo para para acompanhar as aulas, Alan Somavilla, de 11 anos, precisou enfrentar outro problema, em Estrela Velha, na Região Central do RS. A ausência de internet obrigou que seu pai, Odilésio, construísse uma barra com madeira e lona em meio a uma lavoura para que ele conseguisse sinal e assistisse às aulas virtuais. A família mora em uma área rural da cidade de pouco mais de 3,6 mil habitantes. Segundo o IBGE, em 2018, havia apenas 378 matrículas de ensino fundamental. Alan é um desses estudantes.
Ele está no 6º ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Itaúba. Até pouco tempo atrás, a família sequer tinha um telefone celular. “Nós compramos um telefone pra ter acesso à internet, mas como o sinal lá em casa não pegava bem, eu tive a ideia de fazer a barraca aqui perto da lavoura, onde o sinal é melhor. Construí com pedaços de madeira e coloquei uma lona por fora para quando, se é frio ou chuva, o Alan possa vir estudar. A gente, como pai, ajuda como pode”, diz Odilésio Somavilla.
A história de Alan é uma entre tantas outras de limitações no acesso ao ensino remoto no estado. Sem aulas presenciais desde março, o governo ensaiou um retorno gradual a partir de 31 de agosto, mas a proposta foi rechaçada pelas associações municipais e entidades que representam os professores. De acordo com a direta da escola Itaúba, Giovana Dalcin, o colégio fornece material impresso aos estudantes. Porém, para acompanharem as explicações dos professores, eles precisam acessar às aulas na plataforma Google Classroom, e outras crianças, além de Alan, relataram problemas semelhantes.
“É um lugar com muitos morros, onde o sinal da internet é ruim, e, em muitos desses lugares, inexistente. Tem alunos que precisam pedir sinal emprestado a vizinhos, subir em morros, subir em árvores”, relata. Giovana conta que foi professora de Alan e, conversando com o pai, soube que a casa onde o menino mora é longe da escola ou da residência da tia para assistir às aulas online. A solução da família foi comprar um celular usado, já que um notebook era mais caro, e aderir a um plano de dados limitados de R$ 40.
“Eu venho aqui acompanhar as explicações das professoras, as aulas, porque antes eu não tinha nem o telefone”, conta Alan. Como o sinal não funcionou onde moram, o menino saiu pelo terreno até encontrar um lugar onde tivesse sinal. Neste local, próximo ao rio Jacuí, onde o frio do inverno sopra mais gelado, foi que Osilésio ergueu uma sala de aula improvisada para que o filho ficasse protegido enquanto acompanha as videoconferências.
“Os pais sempre deram muito valor ao estudo e quiseram oferecer ao filho o melhor dentro de suas condições. Um ato de superação, de se reinventar em meio a tantas dificuldades. Um ato de valentia”, resume a diretora. Estrela Velha é uma das 13 cidades que ainda não registraram casos de coronavírus no estado. O município está em bandeira laranja no mapa de distanciamento controlado do governo do estado, na macrorregião de Cachoeira do Sul.
“É muito emocionante e gratificante para nós educadores a atitude desse pai, em construir para o seu filho um meio para que ele possa dar continuidade ao estudo, pois são atitudes como esta que nos dão força, que nos dão energia para seguirmos em frente”, conclui Giovana. As informações são do G1.