Um estudo publicado nesta sexta-feira (4) pela revista médica britânica The Lancet apontou que a ‘Sputnik V’, vacina que a Rússia está produzindo contra a covid-19, apresentou resposta de anticorpos em todos os participantes dos testes em estágio inicial. Segundo a CNN Brasil, os resultados dos dois testes, conduzidos em junho e julho deste ano e envolvendo 76 pessoas, mostraram que 100% dos participantes desenvolveram anticorpos para a doença causada pelo novo coronavírus e nenhum efeito colateral sério.
A Rússia autorizou no mês passado a aplicação de duas doses da vacina em toda a população. Foi o primeiro país a registrar um imunizante, antes mesmo da publicação dos dados sobre a ‘Sputnik V’ ou que um teste em grande escala fosse iniciado. “Os dois testes de 42 dias – incluindo 38 adultos saudáveis em cada – não encontraram nenhum efeito adverso sério entre os participantes e confirmaram que a vacina provoca uma resposta de anticorpos”, diz trecho do estudo.
“Estudos em grande escala e de longo prazo, incluindo uma comparação com placebo e monitoramento adicional, são necessários para estabelecer a segurança e eficácia a longo prazo da vacina para prevenir a infecção por covid-19”, continua o texto. A vacina se chama ‘Sputnik V’ em homenagem ao primeiro satélite do mundo, lançado pela União Soviética, grande confederação de países comunistas que se dissolveu na década de 1990.
Alguns especialistas ocidentais alertaram contra o seu uso até que todos os testes aprovados internacionalmente sejam publicados e as medidas regulatórias tenham sido tomadas. Mas com os resultados divulgados agora em uma publicação internacional com revisão por outros cientistas, e com testes envolvendo 40 mil pessoas lançado na semana passada, uma autoridade russa disse que Moscou enfrentou seus críticos no exterior.
“Com isto [a publicação do estudo], respondemos a todas as perguntas do Ocidente que foram diligentemente feitas nas últimas três semanas, francamente, com o objetivo claro de manchar [a reputação da] vacina russa”, disse Kirill Dmitriev, chefe do Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF), fundo soberano do país que financiou o desenvolvimento da vacina. “Agora vamos começar a fazer perguntas sobre algumas das vacinas ocidentais”, completou, ironicamente, Dmitriev.
Ele afirmou que pelo menos 3 mil pessoas já foram recrutadas para o teste em grande escala da ‘Sputnik V’ e que os resultados iniciais são esperados para outubro ou novembro deste ano. Em nota divulgada nesta sexta antes da publicação do estudo, o RDIF havia dito que a vacina não apresentava efeitos colaterais sérios e tinha “alta segurança e eficácia” comprovadas.
“Os resultados dos ensaios clínicos das fases 1 e 2 da ‘Sputnik V’ não mostraram eventos adversos sérios para nenhum dos critérios, enquanto a incidência de efeitos colaterais sérios para outras vacinas candidatas varia de 1% a 25%”, destacou, no documento, o RDIF. O fundo informou ainda que o nível de anticorpos neutralizantes de vírus dos voluntários vacinados com ‘Sputnik V’ foi 1,4 a 1,5 vezes maior do que o nível de anticorpos de pessoas que tiveram Covid-19.
Opiniões de especialistas
Comentando sobre os resultados dos testes em estágio inicial, o autor principal do artigo na revista, Naor Bar-Zeev, do Centro Internacional de Acesso a Vacinas da Escola de Saúde Pública Bloomberg, na universidade norte-americana Johns Hopkins, disse que os estudos foram “encorajadores, mas pequenos”. Bar-Zeev, que não esteve envolvido no estudo, disse que “a eficácia clínica de qualquer vacina contra covid-19 ainda não foi demonstrada”.
Para Brendan Wren, professor de patogênese microbiana na Escola de Medicina Tropical e Higiene de Londres, os estudos sobre a ‘Sputnik V’ são encorajadores. “Os dados do estudo com a vacina russa (…) demonstram a segurança e a imunogenicidade das vacinas contra covid-19 com base em adenovírus”, disse.