Para se defender de uma acusação da França, o governo Bolsonaro precisou usar dados do desmatamento na Amazônia obtidos nas administrações do PT, de 2004 a 2012. O argumento foi utilizado em nota conjunta dos ministérios da Agricultura, Meio Ambiente e das Relações Exteriores.
No documento, os ministérios escrevem: “De 2004 a 2012, o desmatamento da região chamada de Amazônia Legal caiu 83%, enquanto que a produção agrícola subiu 61%”. O intervalo de tempo compreende parte dos governos Lula (2004-2010) e Dilma (2011-2012). “Nesse mesmo período, o rebanho bovino cresceu em mais de 8 milhões de cabeças, chegando a 212 milhões em 2012”, segue o governo brasileiro.
“Só revela a manipulação de um governo que constrói uma narrativa para seu público ignorando a ciência, os fatos e a verdade”, disse o deputado federal Paulo Pimenta (PT-MG). “Por isso não pode reconhecer aqui o que usam como argumento no exterior”, completou. Já o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) foi mais curto no comentário: “Eles são salafrários”, disse.
Acordo Mercosul-UE
O documento buscava responder a relatório do governo francês divulgado na semana passada. Este mostrava que a implementação do acordo Mercosul-UE poderia provocar aumento de desmatamento, para que fossem elevadas as produções agropecuárias no país. Os dados de desmatamento sob a gestão Bolsonaro foram totalmente omitidos do documento.
Dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostram que, entre 1º de agosto de 2018 e 31 de julho de 2019, a Amazônia teve o maior desmatamento para um período de dez anos na região. O registro foi de derrubada de 9.762 km² de vegetação nativa, alta de 29,5% sobre igual período de 2017 a 2018.
Por outro lado, o governo do militar reformado insinuou que, sem o acordo com a União Europeia, os problemas ambientais na Amazônia podem piorar. Com essa espécie de chantagem, os ministérios encerram a nota. Ali, escrevem que, se o acordo não entrar em vigor, seria “claro desincentivo aos esforços do país para fortalecer ainda mais sua legislação ambiental”.
Prosseguem, enfatizando que a não aprovação do acordo traria consequências negativas do ponto de vista social e econômico, “que poderiam agravar ainda mais os problemas ambientais da região”. Redação da Revista Fórum com informações do Portal UOL.