O estábulo invadido por teias de aranha está vazio. A falência o forçou a se desfazer do gado. “Eu não vivo, apenas sobrevivo”, desabafa Mathieu Marcon, que conta que quis morrer uma noite em que não teve feno suficiente para alimentar seus animais. “Não limpei porque tenho dificuldades de vir aqui. Não vou demorar muito”, avisa este criador de Ain (centro-leste da França) na soleira do celeiro que data de 1976. Ele tem “44 anos, como eu”, acrescenta.
Ali, na ponta do vilarejo Bolozón, aninhado entre as gargantas do Ain e os relevos arborizados do Bugey, perto de Lyon, ele criava 50 cabeças de gado Salers para abate. Sua esposa e uma terceira pessoa associada cuidavam simultaneamente de 70 vacas leiteiras, alguns quilômetros acima. A fazenda inteira foi vendida este ano. Desde meados de setembro, “não há mais animais, é difícil de aceitar. Ainda não consigo”, comenta Marcon, com voz serena, traída por lábios trêmulos, em que se misturam a vergonha da desistência e a vontade de testemunhar.
“Não há camponeses suficientes dispostos a falar” da agitação que os abala, segundo este ex-militante da confederação campesina, que se desespera com um modelo agrícola que obriga os pecuaristas a vendas com prejuízo. Em 2015, 372 agricultores cometeram suicídio, de acordo com os últimos dados da Segurança Social Agrícola (MSA). Os dados sobre suicídios são considerados inferiores à realidade, já que certas mortes são declaradas como acidentes de trabalho, ressaltou em entrevista à AFP o deputado Olivier Damaisin, autor de um relatório entregue ao governo nesta terça-feira (1º).
“Não quero sentir pena do meu destino, mas acordar um mundo que dorme”, insiste Marcon. Tendo trabalhado em grandes fazendas no exterior, não quis retomar a criação de cabras de seu pai em Ardèche (sudeste). Portanto, em 2010, “começou do zero”. “Estávamos muito endividados, não tínhamos meios para investir nas instalações, já velhas, e sempre havia necessidade de comprar feno” para os animais, devido às repetidas secas que queimavam os prados. Em desacordo com a terceira sócia, sua esposa, que agora trabalha no exterior, deixou o grupo agrícola em 2019, e a fazenda passou para administração judicial.
Durante o último inverno, o feno acabou. À espera da entrega, Marcon dirigia 160 km de ida e volta, durante vários dias, em busca de palha de um amigo. Mas não era o suficiente para satisfazer os animais. “As vacas gritavam no celeiro. É difícil para quem ama seus animais”, diz ele. Segundo lembra, apesar de alguns “buracos negros”, dirigiu rio abaixo, pronto para mergulhar nele. “Encontrei este papel nos meus dedos”, descreve, mostrando um cartão entregue por uma assistente social do MSA, com o número do Agri’Escucha, ao qual psicólogos respondem 24 horas por dia. “Expliquei a eles em duas palavras que queria morrer”.
Ele não se lembra dos minutos seguintes. Os paramédicos, alertados, conseguiram levá-lo para casa. “Nas fazendas, quem quer acabar com a vida se enforca. Não sei por que quis entrar na água, queria inovar, talvez”, observa, com uma risada fugaz. Um amigo de Cantal (centro), também fazendeiro, enforcou-se em julho. “Ele nunca me contou sobre suas preocupações”, lamenta. Poucas semanas após o evento no rio, ele acidentalmente cortou o dedo indicador na correia de uma máquina. A perda do dedo o convenceu a interromper a criação, que não encontrou comprador.
As vacas estão agora na casa de um fazendeiro, a 40 km de distância. “Tenho que parar de ir vê-las”, diz ele. Para preservar alguma rotina de fazendeiro, instalou cerca de 20 coelhos no antigo estábulo integrado ao prédio principal da fazenda, a poucos metros da instalação que abrigava o gado. “Isso me mantém vivo”, resume. Com a mão curada, Marcon espera encontrar um emprego “relacionado aos animais”. “E, acima de tudo, fazer algo que sirva para passar os anos que me restam”, conclui. Jornal da Chapada com informações da Istoé.