Moradores de Peruíbe, no litoral de São Paulo, ficaram intrigados com a aparição de centenas de bolas escuras na faixa de areia das praias da cidade. Imagens registradas no local viralizaram nas redes sociais. Apesar de muitos internautas falarem em ‘mistério’, a prefeitura informou ao portal G1, neste domingo (7), que trata-se de um fenômeno natural, e que as bolas são formadas por lama preta, que chegou à faixa de areia devido à ressaca que atinge a região.
“Foi impressionante”, disse o empresário Diogo Cavalcanti de Souza, que fez as fotos que alcançaram milhares de pessoas na web.
Souza relata que estava caminhando pela praia do Centro do município quando viu as bolas, na noite de sexta-feira (5). “Tinha umas grandes, outras pequenas. Eu estourei uma daquelas, e tinha um odor muito forte, que parecia de mangue”, explica.
Outra moradora da cidade, a guia de turismo Yarima França, afirma que nunca viu formarem bolas na faixa de areia, mas que já viu o acúmulo de lama no local. “No fim de novembro, se formou uma extensa faixa de lama na orla, desde a Praia do Costão até a Praia do Centro, próximo ao aquário. Como temos muitos mangues, e o bolsão de lama no alto do mar, é recorrente esse tipo de situação”, explicou.
Souza tirou as fotos e colocou nas redes sociais. Em 24 horas, milhares de pessoas compartilharam e comentaram na publicação. “Fiquei bastante assustado [com a repercussão]. Repercutiu demais mesmo. Na praia, juntou uma multidão também. O pessoal brincava que parecia ovo de dinossauro”, relembra.
Na postagem, os internautas também passaram a criar teorias e brincar com a situação. “Fim dos tempos”, comentou um. “Isso é ET”, disse outro internauta no post. Apesar das brincadeiras, alguns moradores afirmaram que também viram, e que se tratava de um fenômeno natural.
Posição da prefeitura
O portal G1 procurou a prefeitura de Peruíbe, que confirmou a aparição das bolas e explicou o que as causou. De acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, trata-se de uma lama negra jogada na praia pelo mar e coberta por areia. Por conta da ressaca, essa lama foi levada para a superfície, criando as bolas.
“Em uma área a 80 metros da praia, mar adentro, existem bolsões de lama. Em ocasiões em que o mar fica bravo [revolto], como um efeito liquidificador, essa lama entra em suspensão, e às vezes encosta na praia como uma água preta/barrenta, ou em ‘pelotas’, que em contato com a areia solta da praia resulta nestas bolas”, explica o secretário Eduardo Ribas.
Especialistas falam sobre o caso
A reportagem também procurou especialistas para falarem sobre o fenômeno. O biólogo marinho Eric Comin explica que as bolas podem ter sido causadas pelo desassoreamento dos rios, que faz com que a lama seja levada para a praia, formando espécies de ‘bolsões’ de lama, como os citados pelo secretário. “Isso faz com que esse substrato mais escuro, substrato de manguezal, vá parar no encontro com o mar, ficando depositado em frente à praia”.
Comin reitera que a ressaca que atingiu a região pode ter contribuído para que esse substrato subisse. “Nós tivemos um ciclone com uma força muito forte agora, inclusive, a maré subiu bastante, foi bem típico de ressaca, e faz com que o sedimento do fundo seja levantado pela onda. Ele fica rolando, e na hora que é jogado na praia, essa lama vai girar na areia, e ela vai e volta, e com isso vai grudando na areia, empelotando e formando essas bolas”, diz o biólogo.
Já para Paulo Flávio, médico especialista em Práticas Integrativas e doutor em Ciências com tese de doutorado sobre a Lama Negra de Peruíbe, essas bolas são de material argiloso, de origem marinha. De acordo com o especialista, não pode ser considerado que sejam formadas de lama negra, e sim, pela lama após uma maturação.
“Elas vêm do mar para a terra. Quando ocorre algum movimento maior no fundo do mar, e às vezes isso acontece muito longe daqui, como, por exemplo, da outra vez que isso aconteceu, foi em consequência de um ciclone extratropical que ocorreu próximo a Paranaguá”, diz.
Flávio ainda completa, explicando que esse material existe em abundância no fundo do mar, e fica depositado em depressões. “É um material muito mais pesado que a água, tem uma vez e meia a densidade da água do mar, é um material que não se mistura a quase nada”, finaliza. Matéria extraída na íntegra do G1.