O guia de montanha na Chapada Diamantina, Cid Câmara, enfrentou uma experiência desafiadora durante três dias. Ele, que foi convidado por um amigo e também guia de montanha chamado Eduardo Queiroz, tentou descer, pela primeira vez, a Serra do Queimadão, dentro do Parque Nacional da Chapada Diamantina (Parna), com o objetivo de criar uma nova trilha nunca feita anteriormente. “Um lugar totalmente inóspito”, ressalta Cid. Esse trajeto contou com a presença de demais guias do Vale do Capão, em Palmeiras, na Chapada Diamantina.
Além dos dois experientes guias, participaram da expedição ainda Fred Lins, Daniel Miranda, Andersom Arterra, Josina Reis e Neto brigadista. Inicialmente, foi feito um estudo sobre a topografia do local e também foi realizado um suposto trajeto que poderia leva-los até a parte baixa dessa Serra. Na tentativa, Cid e mais sete pessoas subiram a montanha e dormiram em uma toca. No dia posterior, se reuniram para acertar os últimos detalhes. “Missão em um lugar com grande risco para nossas vidas”, comenta.
“Decidimos levar tudo que tínhamos conosco pois não sabíamos o que iria acontecer dali em diante, pois o local é repleto de fendas e canalões, que são na verdade rachaduras na montanha, resultado das intempéries de milhões de anos atrás”, explica. Em relato ao Jornal da Chapada, Cid explica que ao chegarem em um ponto que havia uma fenda gigante, responsável por dividir a Serra daquele local em diante, a intenção dos guias era de seguir a direita.
No entanto, por falta de opção, foi preciso seguir a esquerda e avançar por uma área de lajedo. “Após muitas horas, acabou nossa água e não aparecia uma fonte para matarmos a sede, além disso o terreno começou a ficar mais perigoso, com muitas fendas, muito capim navalha e topografia bastante acidentada. Mesmo assim seguimos pulando várias fendas e avançando serra abaixo. Então chegamos em um lugar repleto de abismos para todos os lados e que nos impossibilitava de seguir adiante.
Após caminharem durante 7h30, sem água, com mochilas cheias, eles resolveram retornar. Logo, precisaram passar por todos os lugares perigosos novamente e, antes de chegarem a uma fonte de água, o turno da noite chegou. “Paramos e decidimos dormir ali mesmo, no meio do nada sem água para beber, tomar banho ou cozinhar. Porém, a experiência nessas horas ‘fala mais alto’ e coletamos água em bromélias, assim conseguindo dormir com tranquilidade”, pontua.
No outro dia, eles retornaram para o Vale do Capão e, em breve, ainda sem data definida, pretendem traçar outra rota para alcançar o objetivo que é “vencer a terrível Serra do Queimadão”, na qual, segundo ele, é conhecida pelos experientes nativos do bairro do ‘Bomba’, no Vale do Capão, e também é de alta periculosidade.
“Recomendado apenas para pessoas experientes em trilhas avançadas ou combate à incêndios florestais”. Ao relatar a emoção dessa experiência, Cid ainda salienta: “É como se voltássemos bilhões de anos no tempo. Ativamos nosso instinto de sobrevivência, como os homens das cavernas”.
Jornal da Chapada