Faltando um ano para as eleições, os principais partidos começam a definir o tabuleiro político buscando aliar influência nas eleições presidenciais, formação de palanques locais competitivos e crescimento das suas bancadas na Câmara e no Senado.
A disputa pelos governos estaduais mostra o PT mais focado no projeto nacional de candidatura de Lula ao Planalto e os potenciais candidatos no campo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em clima de indefinição.
Legendas como PSD e União Brasil, partido que surgirá da fusão entre o DEM e PSL, tentam ganhar musculatura nos estados. MDB e PSDB, por sua vez, buscam manter os espaços que já possuem e retomar o protagonismo nos estados onde são fortes.
O pleito deve ser marcado pelo favoritismo de nomes conhecidos e experientes. Os governadores eleitos na onda conservadora de 2018 tentarão manter seus postos, mas enfrentarão adversários que se organizam nos campos da esquerda e centro.
Na maior parte dos estados, os nomes mais competitivos devem adotar a estratégia de palanques múltiplos na eleição nacional, buscando atrair o maior número possível de partidos na formação das alianças locais.
Ao contrário de 2018, quando lançou candidaturas em 16 estados para defender o legado do partido, o PT vem mais modesto e deve ter candidatos nos grandes colégios eleitorais, nos estados em que já governa e onde tem real chance de vencer.
No Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra vai disputar a reeleição na condição de favorita. Na Bahia, caberá ao senador Jaques Wagner defender a continuidade de 16 anos do PT no governo, enquanto, no Piauí, o secretário Rafael Fontelles é o nome para a sucessão do governador Wellington Dias.
No Ceará, a tendência dos petistas é de apoio ao PDT na sucessão do governador Camilo Santana (PT), mas setores da legenda defendem candidatura própria para ter um palanque fiel a Lula.
Fora dos estados em que já governa, o PT lançou pré-candidaturas do ex-prefeito Fernando Haddad ao Governo de São Paulo e de Edegar Pretto no Rio Grande do Sul. No Rio, Minas Gerais e Pernambuco, a tendência é de apoio a aliados.
As parcerias devem ser condicionadas ao apoio, ou ao menos a abertura do palanque, para a candidatura de Lula à Presidência.
O campo bolsonarista segue mais indefinido, já que o presidente Jair Bolsonaro ainda não decidiu em qual legenda disputará a reeleição no próximo ano, o que dificulta a decisão de aliados sobre o destino político para as eleições.
A ampliação da base aliada, com a aproximação das legendas do centrão, deve criar um cenário de palanques duplos e até triplos nos estados. O presidente disse recentemente que a prioridade dele será ajudar a eleger parlamentares aliados.
O bolsonarismo raiz, que ascendeu junto com Bolsonaro em 2018, briga para manter seu protagonismo e busca voos mais altos. Mas os novos aliados do centrão também miram governos estaduais.
Em geral, PP, PL e Republicanos devem priorizar a eleição para o Legislativo e concorrer a governos apenas nos estados onde têm força. A depender do resultado, as legendas poderão ter mais poder de articulação com o governo federal em 2023.
O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, desistiu de ser candidato a governador do Piauí, como planejava inicialmente. Em seu lugar, deverá concorrer sua ex-mulher, a deputada federal Iracema Portela.
O partido também mira a reeleição dos governadores do Acre, Gladson Cameli, e de Roraima, Antonio Denarium, ambos aliados de Bolsonaro. Também deve lançar o senador Luiz Carlos Heinze, membro da tropa de choque governista na CPI da Covid, ao governo do Rio Grande do Sul.
O PL, que faz parte da base aliada de Bolsonaro, tem como principal meta a reeleição do governador do Rio, Cláudio Castro, e a eleição do senador Jorginho Mello, titular da CPI da Covid, ao governo de Santa Catarina. O partido pode viabilizar nomes no Maranhão, Amazonas e Pernambuco, mas dependerá das costuras locais.
No campo do bolsonarismo raiz, Carlos Moisés (sem partido) concorre à reeleição em Santa Catarina assim como Marcos Rocha (PSL) em Rondônia. De origem militar, ambos tentam repetir o feito de 2018, quando saíram vitoriosos embalados pela onda de Bolsonaro.
Nos demais estados, os principais partidos ainda aguardam uma sinalização de Bolsonaro para decidir se terão candidatura própria ou apoiarão aliados.
Os partidos do centro, por sua vez, vêm turbinados para a eleição nos estados, com promessas de embates nos principais colégios eleitorais. Legendas como PSD e União Brasil, partido que resultará da fusão de DEM e PSL, tentarão sair das urnas como protagonistas.
O PSD, presidido pelo ex-ministro Gilberto Kassab, adotou uma estratégia mais ousada e mira candidaturas próprias nos maiores colégios eleitorais, incluindo a reeleição do governador Ratinho Júnior, considerado favorito no Paraná.
Em São Paulo, o partido negocia a filiação do ex-governador tucano Geraldo Alckmin, em uma articulação para fazer frente ao PSDB, que deseja chegar a 32 anos no poder no estado.
Em Minas, a aposta é o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil para polarizar com o governador Romeu Zema (Novo), que concorrerá à reeleição e tem recebido afagos de Bolsonaro. O PSD ainda mira o governo do Rio com Felipe Santa Cruz, presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
“Nossa prioridade é consolidar o maior número possível de candidaturas a governos estaduais e Senado. Queremos uma base forte para sustentar a candidatura do senador Rodrigo Pacheco à Presidência”, diz Kassab.
Prestes a consolidar uma fusão, PSL e DEM têm, juntos, 11 pré-candidatos a governador e planos de crescer nos estados, com ajuda do fundo eleitoral, que deverá ser o maior entre todos os partidos na eleição.
As reeleições de Ronaldo Caiado e Mauro Mendes, em Goiás e Mato Grosso, são prioridades para o partido, assim como as candidaturas de ACM Neto, na Bahia, Miguel Coelho, em Pernambuco, e Gean Loureiro, em Santa Catarina.
PSDB e MDB, que têm três governadores cada, tentarão manter os estados que governam e recuperar o espaço perdido nas eleições de 2018, quando saíram em baixa das urnas nas bancadas e no número de governos estaduais conquistados.
Os tucanos querem manter São Paulo, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. No caso de São Paulo, o governador João Doria aposta no seu vice Rodrigo Garcia para o Palácio dos Bandeirantes. Não há definição no caso gaúcho, mas o vice de Eduardo Leite, Ranolfo Vieira Júnior filiou-se recentemente ao PSDB e pode ser uma opção.
Ainda há possibilidade de candidaturas tucanas em outros oito estados, incluindo Distrito Federal, Pará, Pernambuco e Alagoas.
O MDB tentará reeleger Helder Barbalho no Pará, Ibaneis no Distrito Federal, e quer manter o governo de Alagoas, onde o candidato à sucessão de Renan Filho ainda não foi escolhido.
Ao mesmo tempo, tentará retomar o governo de estados onde têm musculatura, caso do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Amazonas.
Querendo ampliar a representação no campo da centro-esquerda, o PSB deve priorizar o estado de Pernambuco, governado pelo partido há 16 anos. O candidato deve ser o ex-prefeito do Recife Geraldo Julio, que poderá receber apoio do PT.
Além de Pernambuco, a prioridade é a reeleição de Renato Casagrande no Espírito Santo, além de montar uma coligação competitiva para o recém-filiado Marcelo Freixo na disputa do Rio de Janeiro. Ex-governador de São Paulo, Márcio França também é um potencial candidato no cenário paulista.
O PDT deve priorizar o projeto nacional com Ciro Gomes. Para isso, negocia alianças com candidatos de outros partidos e deve lançar nomes próprios para ter palanques em todos os estados.
“No caso dos aliados, a gente coloca como condição que o candidato apoie ou pelo menos abra o palanque para Ciro”, diz o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi.
O partido tem pré-candidaturas em sete estados, mas também negocia a filiação de potenciais candidatos como o ex-senador Roberto Requião, no Paraná, o vice-governador Wanderlei Barbosa, no Tocantins, e o senador Fabiano Contarato, no Espírito Santo, que também recebeu convite de Lula para entrar no PT.
A principal aposta do PSOL é lançar Guilherme Boulos ao Governo de São Paulo, após a ida ao segundo turno na disputa pela prefeitura da capital em 2020. Na Rede Sustentabilidade, o senador Randolfe Rodrigues é cotado para disputar o governo do Amapá. As informações são de João Pedro Pitombo e José Matheus Santos, da Folhapress.